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entrevista
Uribe usa tese da "guerra preventiva"
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
Para o analista chileno
Raúl Sohr, a Colômbia planejou e calculou os custos
da operação para matar o
número 2 das Farc, Raúl
Reyes. Baseada na doutrina da "guerra ao terror",
para Bogotá vale ter "danos colaterais" com os vizinhos em nome da eliminação da guerrilha.
Folha - Qual sua avaliação sobre a operação colombiana?
RAÚL SOHR - Ainda nos faltam informações, mas não
é um caso de friccção entre
o Exército e uma unidade
guerrilheira. Foi uma atividade calculada, com
grande aparato de inteligência, como disse Uribe.
Eles calcularam os custos
e decidiram lançar a operação. Com o apoio dos
EUA, a Força Aérea colombiana é hoje muito
precisa e efetiva. Foi uma
ação extraordinariamente
exitosa para Uribe e a
morte de Raúl Reyes é um
grande troféu. Ele teve algumas vitórias contra as
Farc, como liberação de
estradas nacionais. A economia está bem. O momento interno para Uribe
não poderia ser melhor.
Mas é lógico que o procedimento correto da Colômbia seria ter contatado
o Equador e solicitado a
prisão dos guerrilheiros.
FOLHA - Foi uma ação que segue a doutrina da "guerra do
terror", de caçar os terroristas
onde quer que estejam?
SOHR - Definitivamente.
O Exército colombiano está operando com o conceito de guerra preventiva.
Uribe está comprometido
com uma guerra profunda
e definitiva contra as Farc.
Em seu conceito estratégico, estaria disposto a sacrificar as relações com países vizinhos, sacrificar a
vida dos reféns, se isso for
conduzir ao que ele considera que é um bem maior,
o extermínio das Farc,
pleito de meio século. É a
lógica bélica pura. Ele se
baseia na confiança de
que, com ajuda dos EUA e
da União Européia, em alguns meses ou anos vai reparar as relações com os
vizinhos. Entra na conta
de danos colaterais.
FOLHA - À exceção dos EUA,
todos criticaram a Colômbia. O
que sinaliza?
SOHR - Nenhum país da
região quer estabelecer
precedente neste tipo de
ação, em que um Estado
possa intervir militarmente em outro em perseguição de seus opositores, sejam eles armados ou não.
E há um problema conceitual adicional. Só a Colômbia classifica as Farc como
terroristas na vizinhança.
FOLHA - E as reações de Equador e Venezuela? A situação
pode se agravar?
SOHR - A da Venezuela é
desproporcional e perigosa. O fechamento da embaixada já é um passo bastante sério e Chávez já
mostrou que não mede o
alcance de suas palavras.
Com tropas na fronteira, é
fácil produzir algo que
possa gerar friccções
maiores, embora seja improvável uma guerra. Mas,
sim, a situação pode se
agravar, se a fronteira for
fechada.
FOLHA - A que obedece a reação de Chávez?
SOHR - Ele tem um projeto global para América Latina cuja estratégia é a radicalização. Na Venezuela,
no continente, com Uribe
como filhote do império.
Para ele e para Uribe também, essas diferenciações
são importantes. E há impacto na política doméstica, num contexto de derrotas recentes. Essa é uma
velha técnica. Há que ver
como o povo vai reagir...
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