São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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entrevista

Uribe usa tese da "guerra preventiva"

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

Para o analista chileno Raúl Sohr, a Colômbia planejou e calculou os custos da operação para matar o número 2 das Farc, Raúl Reyes. Baseada na doutrina da "guerra ao terror", para Bogotá vale ter "danos colaterais" com os vizinhos em nome da eliminação da guerrilha.

 

Folha - Qual sua avaliação sobre a operação colombiana?
RAÚL SOHR -
Ainda nos faltam informações, mas não é um caso de friccção entre o Exército e uma unidade guerrilheira. Foi uma atividade calculada, com grande aparato de inteligência, como disse Uribe. Eles calcularam os custos e decidiram lançar a operação. Com o apoio dos EUA, a Força Aérea colombiana é hoje muito precisa e efetiva. Foi uma ação extraordinariamente exitosa para Uribe e a morte de Raúl Reyes é um grande troféu. Ele teve algumas vitórias contra as Farc, como liberação de estradas nacionais. A economia está bem. O momento interno para Uribe não poderia ser melhor.
Mas é lógico que o procedimento correto da Colômbia seria ter contatado o Equador e solicitado a prisão dos guerrilheiros.

FOLHA - Foi uma ação que segue a doutrina da "guerra do terror", de caçar os terroristas onde quer que estejam?
SOHR -
Definitivamente. O Exército colombiano está operando com o conceito de guerra preventiva. Uribe está comprometido com uma guerra profunda e definitiva contra as Farc. Em seu conceito estratégico, estaria disposto a sacrificar as relações com países vizinhos, sacrificar a vida dos reféns, se isso for conduzir ao que ele considera que é um bem maior, o extermínio das Farc, pleito de meio século. É a lógica bélica pura. Ele se baseia na confiança de que, com ajuda dos EUA e da União Européia, em alguns meses ou anos vai reparar as relações com os vizinhos. Entra na conta de danos colaterais.

FOLHA - À exceção dos EUA, todos criticaram a Colômbia. O que sinaliza?
SOHR -
Nenhum país da região quer estabelecer precedente neste tipo de ação, em que um Estado possa intervir militarmente em outro em perseguição de seus opositores, sejam eles armados ou não. E há um problema conceitual adicional. Só a Colômbia classifica as Farc como terroristas na vizinhança.

FOLHA - E as reações de Equador e Venezuela? A situação pode se agravar?
SOHR -
A da Venezuela é desproporcional e perigosa. O fechamento da embaixada já é um passo bastante sério e Chávez já mostrou que não mede o alcance de suas palavras. Com tropas na fronteira, é fácil produzir algo que possa gerar friccções maiores, embora seja improvável uma guerra. Mas, sim, a situação pode se agravar, se a fronteira for fechada.

FOLHA - A que obedece a reação de Chávez?
SOHR -
Ele tem um projeto global para América Latina cuja estratégia é a radicalização. Na Venezuela, no continente, com Uribe como filhote do império. Para ele e para Uribe também, essas diferenciações são importantes. E há impacto na política doméstica, num contexto de derrotas recentes. Essa é uma velha técnica. Há que ver como o povo vai reagir...


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