São Paulo, sexta-feira, 04 de março de 2011

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ANÁLISE

Obsoleta e subutilizada, força militar líbia fica só no papel

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

No papel, as Forças Armadas da Líbia têm vasto arsenal. Na prática, a maior parte está armazenada, sem uso.
Há mais tanques e aviões do que soldados e pilotos para operá-los. Como todo típico ditador militar, Muammar Gaddafi tomou o país num golpe e sempre soube do risco de ser vítima de um.
Isso significou que seus militares foram mantidos em números pequenos, mal treinados e mal liderados. O Exército, antes da crise, tinha no máximo 50 mil homens.
Há, porém, armas suficientes para prolongar uma guerra civil como a atual, com grande quantidade de armas portáteis como os clássicos fuzis russos Kalashnikov (AK-47, AKM etc.).
Mesmo tanques obsoletos, como os 1.500 T-54/T-55 (dos quais cerca de mil estariam armazenados), são armas letais em guerras civis.
A série T-54/T-55 é uma espécie de Fusca dos carros de combate. São os mais produzidos da história e prolíficos no Terceiro Mundo.
Há menores números -cerca de 200- do tanque mais moderno T-72, também russo. Serviriam nas unidades mais leais a Gaddafi.
E os anuários de armamentos estimam que a Líbia teria ainda em condições de rodagem 70 dos 400 carros blindados de reconhecimento EE-9 Cascavel brasileiros adquiridos na década de 1970. Seu canhão de 90 mm e metralhadoras continuam adequados em guerras de "baixa intensidade".
O Exército da Líbia também tem mais de 2.000 peças de artilharia; a maioria é de origem soviética/russa. Não existem artilheiros para tantos canhões no país.
O histórico de incompetência das Forças Armadas da Líbia se revelou nas desastradas intervenções no Chade, todas repelidas.
Durante as guerras entre árabes e israelenses, a Líbia sempre optou pela retórica e pela participação apenas simbólica no campo de batalha -por exemplo, dois esquadrões de caças Mirage foram enviados ao Egito durante a Guerra do Yom Kippur de 1973. E os relatos disponíveis indicam que os pilotos eram principalmente egípcios.
Assim como acontece com o equipamento do Exército, o da Força Aérea também fica mais estocado do que operacional. Os números são até respeitáveis para uma força de país em desenvolvimento: 75 caças MiG-23, 45 caças MiG-21, 94 MiG-25 russos.
Particularmente perigosos para os rebeldes seriam os helicópteros russos de ataque ao solo Mi-35 Hind (que o Brasil também comprou recentemente). Mas também devem estar parados.
A Marinha é apenas uma força de defesa costeira de meros 8.000 homens e navios obsoletos.
Já a artilharia antiaérea conta com vários modelos de mísseis russos, a maioria antigos - SA-3 Goa, SA-6 Gainful, SA-8 Gecko e SA-5A Gammon. Seriam um empecilho a uma eventual intervenção aérea da Otan ou dos EUA.
Mas a larga experiência que os americanos adquiriram em lidar com esses mísseis faria com que fossem varridos do mapa rapidamente.


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