São Paulo, sexta-feira, 04 de março de 2011

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ONDA DE REVOLTAS

Brasil recusa pedidos e só agirá via ONU

Ex-presidente Lula e atual governo receberam sondagens de Gaddafi para serem mediadores no conflito líbio

Ex-presidente e Palácio do Planalto concordam em delegar à ONU a mediação do confronto que ocorre na Líbia

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA

O governo brasileiro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberam duas sondagens diferentes para atuarem como mediadores no conflito líbio. Mas ambos delegaram qualquer iniciativa a um mandato da ONU.
Lula foi convidado pelo ex-colega venezuelano, Hugo Chávez, para ser mediador, mas informou que, primeiro, o assunto está no âmbito do governo Dilma Rousseff, e não dele pessoalmente; e, segundo, que concorda com a posição de deixar com a ONU toda iniciativa.
Já o convite do governo líbio entregue ao embaixador brasileiro em Trípoli nem chegou a ser seriamente examinado pelo Planalto, dada a avaliação de que não há interesse de nenhuma parte.
De fato, o filho de Gaddafi, Saif al Islam, que é uma espécie de porta-voz do pai, disse que o assunto deve ser resolvido internamente. E a oposição, ao menos na avaliação brasileira, não quer mediação, mas a derrubada do governo, pura e simplesmente.
"A situação, do jeito que as coisas estão, vai para um caminho de não resolução pela via da negociação", diz Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático da presidente, posição que já havia ocupado no governo Lula. Mais concretamente, Garcia diz que "é a hora dos canhões".
O assessor da Presidência chega a dizer que teme um "novo Iraque", ou seja, uma intervenção militar. Essa hipótese esteve em alta na segunda-feira, quando coincidiram em Genebra chanceleres das grandes potências e falou-se muito de "zona de exclusão aérea".
Depois, os EUA deixaram claro que implementar a proibição de voos sobre o território líbio teria de ser precedido de uma ação militar.
Esta, por sua vez, só poderá ocorrer com autorização do Conselho de Segurança da ONU, onde enfrentará resistência da China e da Rússia, que têm direito a veto.
O Brasil é membro sem direito a veto, mas, se o tivesse, provavelmente o usaria, pois Garcia acha que derrubar Gaddafi pela força estrangeira abre um precedente perigoso. "Podem decidir derrubar qualquer um depois."
O assessor da presidente explicita outro temor: o de que a complexa situação líbia obscureça a análise da situação e das "transformações necessárias".


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