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Reunião não atenua disputa transatlântica
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O secretário de Estado dos EUA,
Colin Powell, não obteve sucesso
ontem, em Bruxelas, em sua tentativa de tratar as feridas deixadas
pela disputa diplomática entre os
EUA e alguns de seus aliados europeus tradicionais, como a França e a Alemanha, que precedeu o
atual conflito no Iraque.
Em sua primeira visita à Europa
desde o início da guerra, Powell
não fez concessões aos países do
continente e manteve sua posição
sobre o que ocorrerá no Iraque
depois da guerra, reiterando que
os EUA e o Reino Unido deverão
desempenhar um papel central na
reconstrução do país.
Segundo analistas consultados
pela Folha, essa atitude do secretário de Estado impediu qualquer
reaproximação real, embora, oficialmente, o tom tenha sido outro. Tanto George Robertson, secretário-geral da Otan (aliança
militar ocidental) e anfitrião do
encontro, quanto George Papandreou, chanceler da Grécia, que
preside a União Européia atualmente, disseram que as partes caminhavam para um consenso.
"Por enquanto, não haverá consenso porque as diferenças sobre
a reconstrução do Iraque são irreconciliáveis. Os europeus, sobretudo Paris e Berlim, não aceitam
que Washington e Londres decidam o que será feito, pois temem
que isso seja um tipo de recompensa por começar a guerra sem a
anuência internacional", analisou
Christian Lequesne, diretor do
Centro de Estudos e de Pesquisas
Internacionais (França).
"Ademais, para o futuro da UE,
é crucial que a ONU participe ativamente do pós-guerra no Iraque, evitando que um real fosso
entre o Reino Unido e o restante
do bloco seja criado. Felizmente,
por conta de dificuldades domésticas, Tony Blair [premiê britânico] tende a ser um aliado dos europeus nesse sentido. Londres reiterou hoje [ontem] que pretende
pôr a ONU no centro da reconstrução iraquiana", acrescentou.
Buscando atenuar a oposição
dos europeus ao projeto americano, Powell disse que Washington
apresentará um plano de paz a israelenses e palestinos assim que o
novo governo palestino for formado. Trata-se de algo que a UE
pede aos EUA há alguns meses.
Contudo o secretário não revelou
quando o plano será divulgado
nem deu detalhes sobre o tema.
"Para boa parte dos Estados da
UE, a resolução do conflito israelo-palestino era e ainda é mais urgente que o desarmamento do
Iraque. Todavia Powell não disse
nada de novo sobre o assunto, repetindo a promessa de que um
plano de paz será proposto em
breve. Ora, para alguns países da
UE, isso ainda é pouco", explicou
Charles Kupchan, do Council on
Foreign Relations (EUA).
Paris e Londres não defendem o
estabelecimento de um governo
interino da ONU no Iraque, mas
insistem em que o país venha a ser
gerido por sua própria população.
Washington, por sua vez, quer
instalar uma administração provisória controlada por seus militares em Bagdá. Ante a distância
das duas posições, uma nova batalha diplomática entre potências
ocidentais parece estar por vir.
Afinal, como salientou Kupchan, autor de, entre outros, "The
End of the American Era: U.S. Foreign Policy and the Geopolitics of
the Twenty-First Century" (o fim
da era americana: a política externa dos EUA e a geopolítica do século 21), "se pretendia atenuar a
imagem unilateralista dos EUA
na Europa, Powell fracassou".
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