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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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Reunião não atenua disputa transatlântica

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, não obteve sucesso ontem, em Bruxelas, em sua tentativa de tratar as feridas deixadas pela disputa diplomática entre os EUA e alguns de seus aliados europeus tradicionais, como a França e a Alemanha, que precedeu o atual conflito no Iraque.
Em sua primeira visita à Europa desde o início da guerra, Powell não fez concessões aos países do continente e manteve sua posição sobre o que ocorrerá no Iraque depois da guerra, reiterando que os EUA e o Reino Unido deverão desempenhar um papel central na reconstrução do país.
Segundo analistas consultados pela Folha, essa atitude do secretário de Estado impediu qualquer reaproximação real, embora, oficialmente, o tom tenha sido outro. Tanto George Robertson, secretário-geral da Otan (aliança militar ocidental) e anfitrião do encontro, quanto George Papandreou, chanceler da Grécia, que preside a União Européia atualmente, disseram que as partes caminhavam para um consenso.
"Por enquanto, não haverá consenso porque as diferenças sobre a reconstrução do Iraque são irreconciliáveis. Os europeus, sobretudo Paris e Berlim, não aceitam que Washington e Londres decidam o que será feito, pois temem que isso seja um tipo de recompensa por começar a guerra sem a anuência internacional", analisou Christian Lequesne, diretor do Centro de Estudos e de Pesquisas Internacionais (França).
"Ademais, para o futuro da UE, é crucial que a ONU participe ativamente do pós-guerra no Iraque, evitando que um real fosso entre o Reino Unido e o restante do bloco seja criado. Felizmente, por conta de dificuldades domésticas, Tony Blair [premiê britânico] tende a ser um aliado dos europeus nesse sentido. Londres reiterou hoje [ontem] que pretende pôr a ONU no centro da reconstrução iraquiana", acrescentou.
Buscando atenuar a oposição dos europeus ao projeto americano, Powell disse que Washington apresentará um plano de paz a israelenses e palestinos assim que o novo governo palestino for formado. Trata-se de algo que a UE pede aos EUA há alguns meses. Contudo o secretário não revelou quando o plano será divulgado nem deu detalhes sobre o tema.
"Para boa parte dos Estados da UE, a resolução do conflito israelo-palestino era e ainda é mais urgente que o desarmamento do Iraque. Todavia Powell não disse nada de novo sobre o assunto, repetindo a promessa de que um plano de paz será proposto em breve. Ora, para alguns países da UE, isso ainda é pouco", explicou Charles Kupchan, do Council on Foreign Relations (EUA).
Paris e Londres não defendem o estabelecimento de um governo interino da ONU no Iraque, mas insistem em que o país venha a ser gerido por sua própria população. Washington, por sua vez, quer instalar uma administração provisória controlada por seus militares em Bagdá. Ante a distância das duas posições, uma nova batalha diplomática entre potências ocidentais parece estar por vir.
Afinal, como salientou Kupchan, autor de, entre outros, "The End of the American Era: U.S. Foreign Policy and the Geopolitics of the Twenty-First Century" (o fim da era americana: a política externa dos EUA e a geopolítica do século 21), "se pretendia atenuar a imagem unilateralista dos EUA na Europa, Powell fracassou".


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