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Para jovens, sensação é de estado de sítio
FREE-LANCE PARA A FOLHA
As linhas telefônicas da Muslim
Youth Helpline (linha de apoio a
jovens muçulmanos), um serviço
no estilo do brasileiro Centro de
Valorização da Vida (CVV), têm
estado congestionadas nos últimos dias, após a prisão de oito jovens, provavelmente radicais muçulmanos, suspeitos de planejar
um ataque terrorista.
"Temos conseguido atender a
apenas 35% das chamadas que
nos chegam. São muitos os jovens
preocupados com o que pode
acontecer a eles", disse, em entrevista à Folha, Layli Uddin, uma
das coordenadoras do projeto,
implantado por ONGs islâmicas
londrinas logo após os ataques
terroristas de 11 de setembro de
2001 nos EUA. O objetivo é dar
suporte psicológico exclusivamente a muçulmanos de até 25
anos. A capacidade da rede será
expandida até o fim do mês.
(FZ)
Folha - Como o combate ao terrorismo tem afetado jovens muçulmanos?
Layli Uddin - Grande parte dos
temas das ligações telefônicas é
referente a jovens reclamando de
depressão. E muitos mencionam
o que está acontecendo no contexto internacional.
Folha - Há muita referência à discriminação por parte do governo,
da polícia?
Uddin - Existe uma enorme islamofobia em instituições como a
mídia e a classe política, o que leva
a um sentimento de alienação entre os jovens com relação ao que o
governo está fazendo, o que está
sendo oferecido a eles. Os jovens
não vêem benefícios em termos
de empregos e oportunidades. O
que vêem é o governo engajado
em aventuras no Iraque, ignorando temas críticos para eles, como
a situação palestina. Há uma mistura de política local e política global na raiz do problema.
Folha - O que mudou depois da
prisão dos oito jovens?
Uddin - Isso obviamente contribui para a angústia de jovens que
acreditam que o governo os tenha
escolhido como alvos. Tem havido um número desproporcional
de prisões dentro da comunidade
muçulmana. Há um sentimento
de que estamos em estado de sítio,
de termos de constantemente
olhar à nossa volta.
Folha - A sra. sente simpatia entre os jovens por violência como
resposta a isso?
Uddin - Não, na quase totalidade. O que fica claro para os jovens
é que as pessoas que foram presas
não conseguiram se integrar na
sociedade britânica. Há uma razão para isso, no entanto. Não
tem havido esforço pela sociedade, pelo governo, de dialogar.
Alguns jovens expressam suas
frustrações de maneiras não
apropriadas, mas o sentimento de
exclusão é de muitos, apesar de
não chegarem a um ponto tão
drástico. O que tentamos fazer é
iniciar um diálogo com a sociedade, mas o que recebemos na outra
ponta são respostas agressivas, da
imprensa e do governo, que agora
defende até que paquistaneses e
bengaleses devem evitar falar sua
língua em prol do inglês.
Folha - Mas é inegável que muitos
muçulmanos também não fazem
grandes esforços para se integrar
com outras comunidades, escolhendo viver isoladamente em
bairros de grandes cidades...
Uddin - Muitos muçulmanos vivem em comunidades separadas
não apenas por livre escolha, mas
por uma série de fatores externos.
O que aconteceu em Oldham, em
2001 [onde houve confrontos entre muçulmanos e grupos xenófobos], foi o resultado do fracasso
da sociedade em se relacionar
com jovens muçulmanos.
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