São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2006

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ÁFRICA

Charles Taylor, que orquestrou guerra civil na vizinha Serra Leoa, diz a tribunal da ONU que não praticou atrocidades

Ex-ditador da Libéria se declara inocente

DA REDAÇÃO

Charles Taylor, 58, ex-ditador da Libéria, declarou-se ontem inocente das acusações de crimes de guerra, ao comparecer pela primeira vez ao tribunal especial das Nações Unidas instituído para julgar as atrocidades cometidas em Serra Leoa, país vizinho do litoral atlântico da África.
Deposto em 2003, Taylor estava exilado na Nigéria, de onde procurou fugir ao saber que seria expatriado para julgamento.
Ele foi preso na semana passada, perto da fronteira entre Nigéria e Camarões, e transferido para a capital liberiana, Freetown.
Pesam sobre ele acusações de estar por trás dos momentos mais cruéis da guerra civil de Serra Leoa, que durou de 1991 a 2002.
Taylor controlava militarmente seu país desde 1989. Elegeu-se presidente em 1997 e foi deposto em 2003. Ele é acusado, entre outras práticas, de haver determinado a amputação de pernas e braços de leoneses que resistiam a seu plano de controlar o país vizinho, onde apoiava com combatentes, dinheiro e material militar os rebeldes da cognominada Frente Unida Revolucionária. O comandante rebelde Foday Sankoh estava sob suas ordens.
Um forte esquema de segurança foi montado para que o ex-ditador fosse recebido ontem pelo tribunal. Vestindo um terno preto e gravata vermelha, e exprimindo-se num inglês impecável, ele de início negou ao tribunal competência para julgá-lo. Depois de ouvir calado as 11 acusações que pensam contra ele, afirmou: "Em definitivo eu jamais teria cometido tais atos contra a república irmã de Serra Leoa".
Nos minutos seguintes foi transportado de volta à cela de segurança máxima em que está preso desde a semana passada, nas dependências daquela corte.
O julgamento será possivelmente transferido, por resolução do Conselho de Segurança da ONU, para Haia, na Holanda. Taylor preserva bons contatos na região, e funcionários da ONU acreditam que o risco de fuga só deixaria de existir na Holanda.
O chefe da Promotoria descreve o ex-ditador como "um dos três maiores criminosos de guerra ainda vivos", ao lado de dois sérvios, Ratko Mladic e Radovan Karadzic, ainda foragidos.
Entre as acusações que pesam contra ele estão assassinato, estupro, escravidão sexual, violência física e tratamento cruel, recrutamento militar de crianças e terror contra a população civil.
Deposto por pressão dos Estados Unidos -que têm vínculos históricos muito fortes com a Libéria, país formado basicamente por ex-escravos americanos que voltaram para a África-, Taylor permaneceu desaparecido antes de seu asilo nigeriano.
Na época o Congresso americano aprovou lei que fixava em US$ 2 milhões o prêmio pela captura do ditador. Ele também estava na lista dos capturáveis da Interpol.


Com agências internacionais

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