São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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BÁLCÃS

País não prendeu nem extraditou general procurado por tribunal da ONU

Genocida sérvio gera ruptura com UE

DA REDAÇÃO

A União Européia anunciou ontem a suspensão das negociações para a adesão da Sérvia, porque aquele país dos Bálcãs não conseguiu prender e extraditar ao Tribunal de Haia o general Ratko Mladic, indiciado por genocídio e por outros crimes de guerra.
A decisão desencadeou crise política em Belgrado, onde o vice-primeiro-ministro, Miroljub Labus, encarregado dos contatos com os europeus, renunciou e acusou o governo de "traição aos mais altos interesses do país e dos cidadãos sérvios".
O general-de-divisão Mladic, 64, está refugiado desde 1995, beneficiando-se de uma rede de proteção de grupos ultranacionalistas, envolvidos durante a guerra civil da ex-Iugoslávia em operações de limpeza étnica e de massacre contra minorias islâmicas.
Ao lado de Radovan Karadzic, também foragido, seu nome está associado ao assassinato, há 11 anos, de 8.000 homens e adolescentes muçulmanos no enclave bósnio de Srebrenica, no que foi considerada a maior atrocidade em território europeu desde o final da Segunda Guerra.
Mladic foi também o responsável pelo cerco de Sarajevo, no qual 10.000 pessoas foram mortas.
A decisão européia foi ontem anunciada em Bruxelas por Olli Rehn, comissário encarregado de negociações iniciais com países candidatos ao bloco. "A Sérvia deve demonstrar que ninguém está acima da lei, e que qualquer cidadão indiciado por crimes graves deve ser levado à Justiça", disse.
Em Haia, onde as Nações Unidas instalaram o Tribunal Criminal Internacional para a antiga Iugoslávia, a procuradora-chefe, Carla del Ponte, acusou o governo sérvio de tê-la enganado ao informar há semanas que a prisão do general Mladic era iminente. Disse ainda que o criminoso foi visto na região de Belgrado, e que há dez dias as autoridades locais o haviam localizado.
Observadores acreditam que a prisão descontentaria os ultranacionalistas, que permitem a sobrevivência do gabinete minoritário do primeiro-ministro Vojislav Kostunica. Este afirmou, no entanto, que o apoio logístico de Mladic havia sido desmantelado e que sua fuga era agora, praticamente, um ato solitário.
Kostunica lançou um apelo para que o criminoso de guerra se renda e acusou os que ainda o protegem de estarem "impondo um prejuízo imenso aos interesses nacionais e do Estado".
A ruptura com a União Européia lança a Sérvia numa situação de isolamento semelhante à que enfrentou durante a guerra ou sob o regime ditatorial de Slobodan Milosevic, que morreu este ano na prisão de Haia, onde estava sendo julgado por genocídio.
O episódio também funcionará como um estímulo para que Montenegro, República-gêmea da Sérvia, pronuncie-se pela independência, no plebiscito marcado para o próximo dia 21. Com o enfraquecimento do governo, o episódio poderá ainda estimular as aspirações independentistas dos cidadãos da etnia albanesa do Kosovo, onde eles compõem 90% da população. A província está desde 1999 sob administração internacional, para proteger sua população de investidas sérvias.


Com agências internacionais


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