São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sarkozy mantém dianteira após debate

Para diretor de instituto de pesquisas, confronto não mudou a correlação de forças favorável a conservador na França

Sarkozy critica adversária por "agressividade"; "nunca se é agressivo o bastante quando se defendem boas idéias", diz Ségolène

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O debate de anteontem entre a socialista Ségolène Royal e o conservador Nicolas Sarkozy não modificou a correlação de forças desfavorável à candidata da esquerda à Presidência da França, disse à Folha Frédéric Dabi, diretor de opinião do Ifop, o mais antigo instituto local de pesquisas de intenção de voto. O segundo turno será neste domingo.
"A história dos debates presidenciais demonstra a dificuldade de uma inversão de tendências", diz Dabi. Isso só poderia ter acontecido, teoricamente, quando dois candidatos tinham uma diferença muito pequena, como as 500 mil ou 600 mil intenções de voto que separavam em 1974 o socialista socialista François Mitterrand e o candidato conservador por fim vitorioso, Valéry Giscard d'Estaing.
Agora, no entanto, as pesquisas dão a Sarkozy uma vantagem de quatro a sete pontos, o que significa de 2 milhões a 3 milhões de eleitores. Essa margem, afirma Frédéric Dabi, é considerável. Ségolène poderia superá-la caso tivesse surrado verbalmente seu adversário.
Não foi o caso, diz o diretor do Ifop. Uma pesquisa em curso em seu instituto indica pelos resultados iniciais que os eleitores de esquerda e direita apenas reforçaram suas convicções, sem uma migração de intenções. Outra pesquisa realizada depois do debate, do instituto CSA para o jornal "Le Parisien", mostrou Sarkozy com 53%, contra 47% de Ségolène.
Sobre o debate em si, um levantamento encomendado pelo jornal "Le Figaro" e pelo canal TF1, ambos simpáticos a Sarkozy, indicou que para 53% dos franceses o candidato do bloco de centro direita "foi mais convincente", contra 31% para sua adversária. A pesquisa, do pequeno instituto Opinion Way, foi contestada como "pouco confiável" pela direção do Partido Socialista.

Jornais engajados
O debate foi assistido por 20 milhões de franceses. São 4 milhões a mais que no debate presidencial de 1995, entre o socialista Lionel Jospin e o conservador que se elegeu, o atual presidente Jacques Chirac. Em 2002 não houve debate. Chirac recusou-se a debater com Jean-Marie Le Pen, da extrema direita, qualificando-o de "não republicano".
A audiência de ontem, na história recente da televisão local, só perde para os 23 milhões de telespectadores que assistiram ao último amistoso de futebol entre o Brasil e a França.
Sarkozy, que fez ontem comício na cidade de Montpelier, qualificou o debate de "digno" e se disse "espantado pela agressividade" de sua adversária. Ségolène, que participou de ato público na cidade de Lille, respondeu que "nunca se é agressivo o bastante quando se defendem boas idéias".
As emissoras de TV entraram pela madrugada de ontem com mesas redondas entre políticos ou jornalistas. Dependendo das afinidades do freguês, a avaliação era a de que Ségolène ou Sarkozy tinham sido vencedores.
O jornal "Libération", engajado na campanha da candidata socialista -sua manchete de ontem foi "A Combatente"- publicou editorial em que afirmou que Sarkozy não perdeu, mas paradoxalmente foi Ségolène quem ganhou.
"Le Monde" publicou longo editorial assinado, apenas com as iniciais por seu diretor (da empresa e da redação), Jean-Marie Colombani. Ele afirma existirem duas Franças e nega que o país já tenha ingressado na "era Sarkozy". Afirma de maneira indireta que eleger Ségolène seria "uma aposta que merece ser feita", numa forma elíptica de apoiar a candidata da esquerda.
Ainda ontem, em entrevista a "Le Monde", o terceiro colocado do primeiro turno, François Bayrou (18,57% dos votos), afirmou que não votaria em Sarkozy. Mas tampouco disse que votaria em Ségolène. A bancada do pequeno partido que ele preside, a UDF (União por uma Democracia Francesa), debanda na direção de Sarkozy. Ontem foi a 22ª adesão, entre 29 deputados.


Texto Anterior: Chávez ameaça estatizar usina por "monopólio"
Próximo Texto: No figurino, Ségolène é disparada a 1ª
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.