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Sarkozy mantém dianteira após debate
Para diretor de instituto de pesquisas, confronto não mudou a correlação de forças favorável a conservador na França
Sarkozy critica adversária por "agressividade"; "nunca se é agressivo o bastante quando se defendem boas idéias", diz Ségolène
JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
O debate de anteontem entre
a socialista Ségolène Royal e o
conservador Nicolas Sarkozy
não modificou a correlação de
forças desfavorável à candidata
da esquerda à Presidência da
França, disse à Folha Frédéric
Dabi, diretor de opinião do
Ifop, o mais antigo instituto local de pesquisas de intenção de
voto. O segundo turno será
neste domingo.
"A história dos debates presidenciais demonstra a dificuldade de uma inversão de tendências", diz Dabi. Isso só poderia ter acontecido, teoricamente, quando dois candidatos
tinham uma diferença muito
pequena, como as 500 mil ou
600 mil intenções de voto que
separavam em 1974 o socialista
socialista François Mitterrand
e o candidato conservador por
fim vitorioso, Valéry Giscard
d'Estaing.
Agora, no entanto, as pesquisas dão a Sarkozy uma vantagem de quatro a sete pontos, o
que significa de 2 milhões a 3
milhões de eleitores. Essa margem, afirma Frédéric Dabi, é
considerável. Ségolène poderia
superá-la caso tivesse surrado
verbalmente seu adversário.
Não foi o caso, diz o diretor
do Ifop. Uma pesquisa em curso em seu instituto indica pelos
resultados iniciais que os eleitores de esquerda e direita apenas reforçaram suas convicções, sem uma migração de intenções. Outra pesquisa realizada depois do debate, do instituto CSA para o jornal "Le Parisien", mostrou Sarkozy com
53%, contra 47% de Ségolène.
Sobre o debate em si, um levantamento encomendado pelo jornal "Le Figaro" e pelo canal TF1, ambos simpáticos a
Sarkozy, indicou que para 53%
dos franceses o candidato do
bloco de centro direita "foi
mais convincente", contra 31%
para sua adversária. A pesquisa, do pequeno instituto Opinion Way, foi contestada como
"pouco confiável" pela direção
do Partido Socialista.
Jornais engajados
O debate foi assistido por 20
milhões de franceses. São 4 milhões a mais que no debate presidencial de 1995, entre o socialista Lionel Jospin e o conservador que se elegeu, o atual presidente Jacques Chirac. Em
2002 não houve debate. Chirac
recusou-se a debater com
Jean-Marie Le Pen, da extrema
direita, qualificando-o de "não
republicano".
A audiência de ontem, na história recente da televisão local,
só perde para os 23 milhões de
telespectadores que assistiram
ao último amistoso de futebol
entre o Brasil e a França.
Sarkozy, que fez ontem comício na cidade de Montpelier,
qualificou o debate de "digno" e
se disse "espantado pela agressividade" de sua adversária. Ségolène, que participou de ato
público na cidade de Lille, respondeu que "nunca se é agressivo o bastante quando se defendem boas idéias".
As emissoras de TV entraram
pela madrugada de ontem com
mesas redondas entre políticos
ou jornalistas. Dependendo das
afinidades do freguês, a avaliação era a de que Ségolène ou
Sarkozy tinham sido vencedores.
O jornal "Libération", engajado na campanha da candidata
socialista -sua manchete de
ontem foi "A Combatente"-
publicou editorial em que afirmou que Sarkozy não perdeu,
mas paradoxalmente foi Ségolène quem ganhou.
"Le Monde" publicou longo
editorial assinado, apenas com
as iniciais por seu diretor (da
empresa e da redação), Jean-Marie Colombani. Ele afirma
existirem duas Franças e nega
que o país já tenha ingressado
na "era Sarkozy". Afirma de
maneira indireta que eleger Ségolène seria "uma aposta que
merece ser feita", numa forma
elíptica de apoiar a candidata
da esquerda.
Ainda ontem, em entrevista a
"Le Monde", o terceiro colocado do primeiro turno, François
Bayrou (18,57% dos votos),
afirmou que não votaria em
Sarkozy. Mas tampouco disse
que votaria em Ségolène. A
bancada do pequeno partido
que ele preside, a UDF (União
por uma Democracia Francesa), debanda na direção de Sarkozy. Ontem foi a 22ª adesão,
entre 29 deputados.
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