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Acusação dos EUA à Síria provoca medo no mundo árabe
Alegação de que Coréia do Norte ajudou a construir reator
alimenta o temor de ataque a alvos sírios ou iranianos
Acusação, feita há 12 dias,
chegou no momento em
que Damasco parecia
apostar em retomada de
negociação com Israel
ROULA KHALAF
DO "FINANCIAL TIMES"
A tempestade política em
Washington em torno da suposta ajuda norte-coreana a
um reator nuclear no leste da
Síria pode ser bem recebida por
Estados árabes favoráveis a
uma pressão internacional
mais intensa sobre Damasco.
Mas o público árabe recebeu as
declarações com ceticismo.
Após o fiasco da inteligência
americana no Iraque, poucas
pessoas na região acreditam no
que dizem os EUA, especialmente quando o que é dito
guarda qualquer relação com
Israel. E, embora as alegações
feitas há 12 dias possam ser dirigidas à Coréia do Norte, ela
alimenta especulações sobre
um possível ataque americano
ou israelense contra alvos ligados à Síria ou ao Irã.
Possivelmente para calar tais
teorias, altos representantes sírios disseram esta semana que
Israel está buscando uma paz
com Damasco, apesar de ter
bombardeado o suposto sítio
nuclear em setembro passado.
Há 13 dias, o presidente Bashar
al Assad disse que a mediação
turca resultou numa oferta israelense de retirada das Colinas de Golã, ocupadas na Guerra dos Seis Dias, em 1967.
"O que está sendo dito sobre
a Coréia do Norte e a Síria é totalmente absurdo", disse Mohamed al Sayed Said, editor do
jornal egípcio "Al Badeel".
"Eles [os EUA] querem conquistar a opinião pública e avisar sobre um possível ataque ao
Irã, ao Hizbollah e possivelmente à Síria."
Quando Israel bombardeou o
sítio no ano passado, nenhum
protesto foi ouvido por parte
dos maiores países árabes, fato
que sugere que eles tenham
reagido com alívio. As relações
da Síria com a Arábia Saudita e
o Egito vêm se deteriorando
devido à ingerência presumida
de Damasco no Líbano e ao alinhamento de sua política com o
Irã, rival desses dois países.
Arsenal israelense
Reservadamente, autoridades árabes fizeram pouco caso
da alegação síria de que o sítio
era uma antiga instalação militar. Mas comentaristas árabes
protestaram, vendo o bombardeio como mais uma instância
de Israel agindo em desrespeito
às leis internacionais. O fato de
que o sítio pode ter sido um
reator nuclear não chegou a ser
visto como problema, dado que
muitos árabes saudariam a possibilidade de um de seus Estados procurar armar-se nuclearmente, para contrabalançar o
arsenal nuclear israelense (não
declarado).
A falta de credibilidade dos
EUA na região e a recusa da síria em permitir que a agência
de fiscalização nuclear da ONU
inspecione o sítio sem dúvida
acrescentarão argumentos às
teorias conspiratórias. Pessoas
próximas ao regime sírio já desconfiam que a administração
Bush não deixará o poder sem
antes desferir um golpe contra
a Síria, o Irã e seus aliados.
O bombardeio israelense foi
motivo de constrangimento
profundo para a Síria. E esta
ainda não explicou o assassinato em Damasco, este ano, de
um comandante do Hizbollah.
O Hizbollah atribuiu o assassinato a Israel, mas, em meio a
sugestões de um possível envolvimento do serviço de inteligência sírio, o governo ainda
não divulgou os resultados de
sua investigação.
A Síria com frequência vê as
ofertas de paz vindas de Israel
como insinceras, mas está levando as propostas mais recentes a sério, embora queira que
as negociações comecem apenas após a posse de uma nova
administração nos EUA. Até isso acontecer, sua prioridade é
evitar mais ataques e constrangimentos.
Tradução de CLARA ALLAIN
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