São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nova gripe abala autoestima do país e provoca desconfiança

DA ENVIADA AO MÉXICO

"Aqui quando chove, troveja" é um ditado citado por comentaristas na TV e transeuntes para representar o clima em que se afundou o México, onde a crise pela gripe A(H1N1) só veio adensar as nuvens negras trazidas pela crise econômica mundial e pela violência ligada ao narcotráfico.
Ontem, uma cena reforçava o clima de exceção, o transe do qual a cidade ensaiava despertar. Na basílica da Virgem de Guadalupe, na Cidade do México, em vez dos milhares de fiéis que fazem do lugar o segundo templo católico mais visitado do mundo, jornalistas olhavam o cardeal rezar a missa de domingo com máscara cirúrgica.
"Meus parentes em San Diego [EUA] já estavam com dificuldades para segurar o emprego, e agora perguntam a eles quando eles vieram a última vez para o México por causa da gripe. Não precisava mais isso para sermos discriminados", diz o taxista Alejandro Magaña.
Ele acusa a falta de solidariedade Argentina, Cuba, Peru e Equador por terem cancelado os voos para o México. "Quem eles pensam que são? Por que não cancelaram também os voos para os EUA?"
O governo anunciou que acionará organismos internacionais contra os países que discriminarem cidadãos ou produtos do país. As TVs repetiram as imagens de funcionários de roupas brancas plásticas esperando um avião que levava mexicanos à China. Uma rádio queixava-se porque funcionários do aeroporto de Paris não queriam carregar bagagens de um voo mexicano.

Irritação com o governo
Nas ruas correm rumores de que a crise da gripe "é uma invenção do governo para despistar" o país dos problemas econômicos e políticos.
É o caso do ambulante Francisco Antonio e o mariachi Rafael Ornellas, que relacionam o surto com a lenda do "chupa-cabras" -que surgiu justamente, segundo eles, na última crise grave do México, em 1994.
"A população fala de 1994, quando ninguém tinha dinheiro. Mas acho que 2009 vai ser um divisor de águas. Difícil imaginar um pior. Já tínhamos o impacto psicológico da violência, a crise e agora a gripe. São três problemas dos quais não temos a menor ideia de como nos livrarmos", diz o jornalista Alejandro Almazan, autor de livros sobre narcotráfico.
Recém-casados, Beatriz García, 24, e Marco Antonio Chaparo, 23, faziam pose na tarde de sábado no Monumento à Independência, chamado o Anjo, tradicional local de fotos para noivas e debutantes de 15 anos na capital do México.
Era um dos raros sinais de otimismo numa cidade com menos medo da gripe A(H1N1), mas ainda triste e entediada pela recomendação de ficar em casa para evitar o contágio.
"Não quis adiar o casamento nem a festa", diz Beatriz, ainda que risse ao pensar em olhar daqui uns anos as fotos dos convidados -alguns com máscaras cirúrgicas. (FM)


Texto Anterior: Tire Dúvidas
Próximo Texto: Colômbia relata 1º caso na América do Sul
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.