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Nova gripe abala autoestima do país e provoca desconfiança
DA ENVIADA AO MÉXICO
"Aqui quando chove, troveja"
é um ditado citado por comentaristas na TV e transeuntes
para representar o clima em
que se afundou o México, onde
a crise pela gripe A(H1N1) só
veio adensar as nuvens negras
trazidas pela crise econômica
mundial e pela violência ligada
ao narcotráfico.
Ontem, uma cena reforçava o
clima de exceção, o transe do
qual a cidade ensaiava despertar. Na basílica da Virgem de
Guadalupe, na Cidade do México, em vez dos milhares de fiéis
que fazem do lugar o segundo
templo católico mais visitado
do mundo, jornalistas olhavam
o cardeal rezar a missa de domingo com máscara cirúrgica.
"Meus parentes em San Diego [EUA] já estavam com dificuldades para segurar o emprego, e agora perguntam a eles
quando eles vieram a última
vez para o México por causa da
gripe. Não precisava mais isso
para sermos discriminados",
diz o taxista Alejandro Magaña.
Ele acusa a falta de solidariedade Argentina, Cuba, Peru e
Equador por terem cancelado
os voos para o México. "Quem
eles pensam que são? Por que
não cancelaram também os
voos para os EUA?"
O governo anunciou que
acionará organismos internacionais contra os países que
discriminarem cidadãos ou
produtos do país. As TVs repetiram as imagens de funcionários de roupas brancas plásticas
esperando um avião que levava
mexicanos à China. Uma rádio
queixava-se porque funcionários do aeroporto de Paris não
queriam carregar bagagens de
um voo mexicano.
Irritação com o governo
Nas ruas correm rumores de
que a crise da gripe "é uma invenção do governo para despistar" o país dos problemas econômicos e políticos.
É o caso do ambulante Francisco Antonio e o mariachi Rafael Ornellas, que relacionam o
surto com a lenda do "chupa-cabras" -que surgiu justamente, segundo eles, na última crise
grave do México, em 1994.
"A população fala de 1994,
quando ninguém tinha dinheiro. Mas acho que 2009 vai ser
um divisor de águas. Difícil
imaginar um pior. Já tínhamos
o impacto psicológico da violência, a crise e agora a gripe.
São três problemas dos quais
não temos a menor ideia de como nos livrarmos", diz o jornalista Alejandro Almazan, autor
de livros sobre narcotráfico.
Recém-casados, Beatriz García, 24, e Marco Antonio Chaparo, 23, faziam pose na tarde
de sábado no Monumento à Independência, chamado o Anjo,
tradicional local de fotos para
noivas e debutantes de 15 anos
na capital do México.
Era um dos raros sinais de
otimismo numa cidade com
menos medo da gripe A(H1N1),
mas ainda triste e entediada pela recomendação de ficar em
casa para evitar o contágio.
"Não quis adiar o casamento
nem a festa", diz Beatriz, ainda
que risse ao pensar em olhar
daqui uns anos as fotos dos
convidados -alguns com máscaras cirúrgicas.
(FM)
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