São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Começam hoje audiências sobre a atuação das agências contra o terror; senador diz esperar novas revelações

Congresso ouve FBI e CIA sobre falhas

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O Congresso dos EUA começa hoje uma série de audiências fechadas para verificar por que houve falhas de inteligência no FBI (a polícia federal) e na CIA (a agência de inteligência) nos meses que antecederam o ataque terrorista de 11 de setembro e o que poderia ter sido feito mas não foi.
O senador Richard Shelby previu que as audiências devem revelar mais "grandes falhas" das agências de segurança.
O Comitê de Inteligência conjunto da Câmara dos Representantes e do Senado, em Washington, ouvirá primeiro o diretor do FBI, Robert Mueller, e a agente Coleen Rowley, a principal crítica da atuação da polícia federal no episódio que resultou na prisão do franco-marroquino Zacarias Moussaoui -o único formalmente acusado de participação nos ataques de 11 de setembro.
Mueller deve falar da reorganização da força e esmiuçar todos os relatórios ligados a terrorismo produzidos ou recebidos pelo FBI antes de setembro. Já Rowley repetirá as acusações que vem fazendo, segundo as quais o governo federal poderia ter avançado mais ao prender Moussaoui.
Dependendo das conclusões a que chegar, o comitê pode recomendar abertura de investigação ao Congresso, que então convocaria a depor todos os membros do governo federal que estivessem sob suspeita de ter agido de modo errado. Se chegar a esse ponto, o episódio causará desgaste sem precedentes no governo de George W. Bush.
Os ataques à atuação das agências, reforçados por denúncias publicadas na imprensa nos últimos dias, começam a vir de ambos os lados, aliados e adversários da Casa Branca. "Sei que o diretor George Tenet [da CIA] continua negando, mas acho que ele está totalmente errado e que os fatos que vamos descobrir vão comprovar isso", disse o senador republicano Richard Shelby.
Com ele concorda a senadora democrata Dianne Feinstein. "Algumas perguntas duras terão de ser respondidas", disse ela, que afirmou acreditar que outras falhas ainda virão à tona. "Há muitos pedaços e partes que ainda não foram juntados."
A artilharia fez com que Bush saísse em defesa das agências durante visita que fez ontem a Little Rock (Arkansas), cidade natal de seu antecessor, Bill Clinton. "Eles agora estão compartilhando as informações", disse o presidente, afirmando que FBI e CIA abandonaram a cultura de rivalidade.
"Nós podemos fazer um trabalho melhor ao defender o povo americano e vamos fazer isso", disse. "Nessa guerra contra um inimigo obscuro, é muito importante que nós consigamos o maior número de informações."
Juntando-se ao coro de defesa, o secretário da Justiça, John Ashcroft, afirmou que o diretor do FBI vem fazendo um "bom trabalho". O próprio também se manifestou, dizendo que, mesmo que as agências compartilhassem as informações que tinham, 11 de setembro teria acontecido.
Às críticas de atuação no episódio do ataque terrorista vieram se somar reclamações contra as medidas de exceção recentemente anunciadas por Ashcroft. A partir de agora, o FBI pode vigiar encontros públicos de grupos políticos e religiosos e a internet sem necessidade de mandado judicial.
"Eles estão indo longe demais", disse o deputado republicano James Sensenbrenner, do Comitê Judiciário do Congresso. "Estamos em guerra", respondeu Ashcroft.



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