São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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ÁSIA

Rússia e China pressionam líderes em cúpula no Cazaquistão; para Powell, perspectiva de guerra "preocupa profundamente"

Aumenta pressão sobre Índia e Paquistão

France Presse
Família de britânicos aguarda no hall do aeroporto de Karachi embarque para deixar o Paquistão


DA REDAÇÃO

Sob intensa pressão internacional para evitar que o conflito entre Índia e Paquistão se transforme em uma guerra de grandes proporções, os líderes dos dois países mantiveram ontem encontros com mandatários presentes num encontro regional sobre segurança iniciado ontem no Cazaquistão, num esforço para convencê-los a iniciar negociações de paz sobre o conflito na região fronteiriça da Caxemira.
Após chegar ontem pela manhã ao Cazaquistão, o presidente paquistanês, Pervez Musharraf, ofereceu um diálogo "incondicional" com a vizinha Índia para discutir o conflito. Mas o premiê da Índia, Atal Behari Vajpayee, afirma que não prevê nenhum encontro com Musharraf durante a reunião de cúpula no Cazaquistão.
A Índia acusa o governo paquistanês de patrocinar a ação terrorista de militantes separatistas islâmicos na Caxemira. O conflito na região já levou a três guerras entre os dois países desde 1947.
Os dois países possuem arsenal nuclear desde a década passada, o que aumenta o temor da comunidade internacional sobre uma eventual nova guerra total.
O governo indiano exige do Paquistão uma ação mais enérgica contra as ações dos separatistas islâmicos. O governo paquistanês já colocou na ilegalidade diversos grupos extremistas e prendeu centenas de seus integrantes desde o início do ano.
Musharraf agradeceu as ofertas do presidente russo, Vladimir Putin, para mediar um possível diálogo com a Índia. Putin e Musharraf devem se encontrar hoje simultaneamente a outro encontro, entre Vajpayee e o presidente da China, Jiang Zemin. Putin e Jiang disseram que, mesmo no caso de um encontro entre Musharraf e Vajpayee ser recusado, suas posições seriam transmitidas pelo russo e pelo chinês.
Musharraf e Vajpayee se encontraram ontem separadamente com o presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, para discutir a crise.

Mediação
As tentativas de mediação de Rússia e China estavam aparentemente coordenadas com os EUA. Quando Putin se ofereceu, na semana passada, para intermediar um possível diálogo no encontro de Almaty, no Cazaquistão, o presidente americano, George W. Bush, estava ao seu lado.
O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, inicia hoje uma viagem que deve incluir visitas à Índia e ao Paquistão. Rumsfeld deve ir aos dois países em data ainda não marcada, após um encontro da Otan (aliança militar ocidental) em Bruxelas, nos dias 6 e 7 de junho. O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, afirmou que a perspectiva de uma guerra entre Índia e Paquistão é "uma situação que continua preocupando profundamente".
Powell ligou para Musharraf no fim de semana para pedir que o presidente paquistanês controle a atividade militar na fronteira. "Uma vez que isso seja feito, pediremos à Índia que tome as medidas necessárias para reduzir a tensão", disse Powell em Barbados, onde participa de uma conferência da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Para o secretário de Estado, é positivo que os dois países tenham feitos declarações nos últimos dias de que não deverão usar suas armas nucleares. "Ambos os lados se dão conta de que esse é um limiar que ninguém quer ver cruzado. Seria absolutamente horrível, no ano de 2002, ver uma nação usando armas nucleares numa situação como essa", disse.

Trocas de tiros
Os episódios de violência continuaram ontem na Caxemira indiana, de maioria islâmica, como o Paquistão, e reivindicada pelo país. Pelo menos oito civis foram mortos e 23 ficaram feridos após trocas de tiros entre os soldados dos dois países na fronteira.
Pelo menos 1 milhão de soldados, além de tanques e artilharia pesada, foram posicionados na fronteira nos últimos dias.
O temor sobre a escalada do conflito levou autoridades de países europeus e dos EUA a recomendar a saída de seus cidadãos e diplomatas da região. Os funcionários das Nações Unidas também receberam a recomendação de deixar o local. A ONU disse ontem que espera ter retirado da região, até quinta-feira, 98% das 525 famílias de funcionários que vivem nos dois países.
Até mesmo Israel, que enfrenta onda de violência interna provocada pelo levante palestino, recomendou a seus cidadãos que evitem viajar à Índia, destino popular entre jovens israelenses que terminam o serviço militar.

Com agências internacionais

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