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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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ANÁLISE

Presidente quer usar força ganha no Iraque

JAMES HARDING
DO "FINANCIAL TIMES"

Se o presidente George W. Bush tem um princípio político que o guia, é o seguinte: use o que você conquistou ou desperdice-o.
Quando Bush viajou para o Oriente Médio para reunir-se com os líderes árabes, ontem, e os premiês israelense e palestino, hoje, estava exportando sua filosofia política doméstica para território estrangeiro.
A vitória das forças lideradas pelos EUA no Iraque conferiu a Bush capital político enorme, segundo um alto funcionário da Casa Branca. Agora, segundo essa fonte, o presidente pretende aproveitar o impulso proporcionado pela vitória no Iraque e a alavancagem do poderio econômico americano para lutar por um acordo duradouro de paz.
A ligação entre a guerra anglo-americana no Golfo e o processo de paz na Terra Santa não é nova. Após a Guerra do Golfo, de 1991, o então presidente George Bush, pai do atual, reuniu os líderes do Oriente Médio em Madri para promover uma agenda de ""terra em troca de paz". "O presidente Bush compreende essa conexão, assim como seu pai a compreendia 12 anos atrás", disse na semana passada o senador Chuck Hagel, republicano que atua no comitê de relações externas do Senado. "Embora hoje seja muito criticado, o processo de Madri nos recorda de quão perto já chegamos e quão longe agora nos encontramos da paz duradoura no Oriente Médio."
A Casa Branca argumenta que os tempos mudaram. Não apenas o regime do Iraque foi derrubado com relativa facilidade por forças americanas, como Bush está dando ênfase especial ao esforço de fazer os líderes árabes aderirem ao processo de paz.
Na reunião de ontem, Bush procurou fazer com que os líderes assumissem um compromisso com o processo de paz. "A participação pública e privada e o apoio dos líderes árabes têm importância vital para que o processo siga adiante", disse um representante da Casa Branca.
Em Ácaba, hoje, o objetivo principal da reunião trilateral entre Bush e os premiês de Israel, Ariel Sharon, e palestino, Abu Mazen, será simplesmente demonstrar engajamento com o processo.
Diferentemente de seu antecessor, Bill Clinton, Bush não quer entrar nos detalhes da negociação. "O objetivo é levar todos a aceitar suas responsabilidades. Não é ter um plano específico de trabalho. O plano de trabalho já existe", disse um dos assessores mais próximos de Bush. A mensagem do presidente a Sharon e Mazen é que cada um deve cumprir seu lado do acordo e não desperdiçar energia falando sobre o que o outro deve fazer.
A administração Bush está depositando grande confiança em Mazen. Representantes da Casa Branca o descrevem como "um premiê palestino engajado no combate ao terror e em construir instituições que atendam às necessidades dos palestinos".
A Casa Branca está ciente dos obstáculos: dúvidas quanto à autoridade real exercida por Mazen, indagações sobre a boa vontade israelense em fazer os sacrifícios territoriais necessários e a determinação de terroristas e extremistas de ambos os lados de fazer o processo atolar. Mas, como acontece com boa parte da política externa de Bush, a Casa Branca dá ênfase maior às dimensões morais do que aos detalhes. Nas palavras de um representante da Casa Branca, "é uma dessas questões importantes demais para não tentarmos resolvê-la", independentemente dos potenciais reveses políticos que o envolvimento no Oriente Médio pode trazer a Bush em seu próprio país.


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