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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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CÚPULA DE EVIAN
G8


Francês condena guerra no Iraque e censura uso de declaração da cúpula contra Irã e Coréia do Norte como base para ataque preventivo

Chirac faz ataque aos EUA no final do G8

MARIA LUIZA ABBOTT
ENVIADA ESPECIAL A EVIAN

Um dia depois das tentativas do presidente dos EUA, George W. Bush, e da França, Jacques Chirac, de mostrar que as divergências entre europeus e americanos em relação ao Iraque são coisa do passado, as diferenças voltaram a emergir. Ontem, Chirac reafirmou sua oposição à guerra na entrevista de encerramento da reunião do G8 (o grupo dos sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia).
"Consideramos que toda a ação militar sem endosso da comunidade internacional, em especial do Conselho de Segurança [da ONU], é ilegítima e ilegal. A posição da França em relação ao Iraque é a mesma", disse.
Mas Chirac disse que o seu país pretende participar da transição no Iraque. "Pode-se fazer uma guerra sozinho, mas não a paz", afirmou. "Vamos tratar de reconstruir o Iraque, o que não será fácil."
Para os americanos, a declaração em que o G8 adverte o Irã e a Coréia do Norte sobre seus programas nucleares, divulgada anteontem, significa uma autorização implícita para o uso de força contra países que violem as normas do Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
O documento prevê o uso de "outros meios em acordo com a lei internacional" para conter a ameaça de disseminação do terrorismo e de armas de destruição em massa.
Para Chirac, a interpretação de que isso pode significar que o Irã e Coréia do Norte são candidatos a um ataque preventivo parece "extraordinariamente ousada".
"Nunca houve qualquer conversa sobre uso de força contra qualquer um nessa área. Gostaríamos de ter o diálogo necessário com o Irã para que aceite as restrições internacionais e inspeções pela AEIA [Agência Internacional de Energia Atômica)]", disse.
O primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, reforçou essa visão: "Ao contrário do caso do Iraque, vamos continuar a buscar uma saída diplomática e pacífica [no caso norte-coreano]. Essa foi a visão compartilhada pelo G8".
Irã e Coréia do Norte são os remanescentes daquilo que Bush classificou de "eixo do mal" -o Iraque, sob Saddam Hussein, era o terceiro integrante.
Bush saiu da reunião depois do almoço de anteontem, mas, mesmo assim, os líderes do G8 disseram que todos os pontos do comunicado final divulgado ontem tinham sido acertados antes da partida do presidente americano para sua missão de paz no Oriente Médio.
Para o G8, o terrorismo, junto com a disseminação de armas de destruição em massa, é a ameaça "proeminente" à segurança internacional. Por isso, os líderes dos oito países criaram um Grupo de Ação Contra o Terrorismo em apoio ao comitê da ONU que atua sobre o tema. Também determinaram aos seus ministros de finanças que identificassem medidas para avançar nos esforços de cortar o financiamento de grupos terroristas.
O comunicado final também manifesta sua determinação de apoiar os esforços recentes do governo dos EUA para a implementação de um acordo de paz no Oriente Médio. O roteiro para a paz, segundo o texto, é do chamado Quarteto -integrado por União Européia, EUA, Rússia e ONU. Segundo Chirac, os americanos querem desenvolver um papel de motor do processo, mas não desligado do Quarteto. Na véspera, Bush tinha dito que a participação dos amigos, como a França, seria importante para o processo de paz.


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