São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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Plebiscito não conseguirá reduzir a polarização política, diz analista

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Para Daniel Hellinger, 56, especialista em Venezuela da Universidade Webster (EUA), o plebiscito não diminuirá a polarização política e só poderá ser realizado com a participação de observadores internacionais. Leia a seguir a entrevista concedida à Folha.
 

Folha - O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) acaba de aprovar o plebiscito. Como se comportará a política venezuelana a partir de agora?
Daniel Hellinger -
A grande questão é se eles marcarão a consulta para o início de agosto. A Constituição manda que, se o presidente sair após 19 de agosto, o vice assume. A outra questão é se ambos os lados respeitarão o resultado e se o CNE será capaz de organizar eleições de uma maneira em que ambos os lados considerem justa. Além disso, o resultado também pode ser inconclusivo. Por exemplo, o que acontece se a oposição conseguir a maioria dos votos válidos, mas não em número suficiente para remover Chávez? Eles podem argumentar que ele tem a obrigação moral de renunciar. E o presidente dirá: "Não é o que a Constituição diz".
Portanto, estou confiante de que o referendo seja realizado, mas tenho dúvidas de que resolverá os problemas.

Folha - Com o plebiscito, haverá uma pressão ainda maior sobre o eleitorado. Aumentará a coerção?
Hellinger -
Certamente, de ambos os lados. Do lado de Chávez, haverá uma enorme pressão nos bairros populares. Com os círculos bolivarianos e as organizações chavistas, as pessoas estarão sob uma pressão tremenda em favor do presidente. Todavia, entre os trabalhadores, creio que os empregadores colocarão uma enorme pressão para forçá-los a ir às urnas para tentar tirar o presidente. Isso significa que os observadores internacionais terão de garantir a lisura do processo.

Folha - Chavistas acusam os observadores de serem pró-oposição.
Hellinger -
No momento, a OEA [Organização dos Estados Americanos] é a mais problemática. Seu secretário-geral, Cesar Gaviria, tende a dar declarações que levantam dúvidas sobre a sua neutralidade. Mas acredito que o Centro Carter tenha sido honesto e tentado manter uma posição neutra.

Folha - O plebiscito melhorará o ambiente político?
Hellinger -
Não. A oposição não aceitará uma vitória de Chávez. Estão determinados a tirá-lo. Há setores que acham melhor esperar dois anos, até a próxima eleição. Mas o outro extremo da oposição tentará manter a situação instável. Do lado chavista, acho que muitos se sentirão enganados se ele perder. A situação é altamente polarizada, e o plebiscito não reduzirá isso.

Folha - Há chance de guerra civil?
Hellinger -
Sim, embora seja improvável. Embora haja extremistas em ambos os lados, há pessoas trabalhando para evitar isso. Se isso ocorrer, será por causa de um racha entre os militares. Neste momento, não vejo isso.

Folha - Os chavistas recentemente fizeram mudanças na Suprema Corte. O governo caminha para um modelo cada vez mais autocrático?
Hellinger -
Não creio que seja saudável o Executivo tentar cooptar o Supremo. Eu diria sim à sua pergunta, mas não a enfatizaria tanto, já que ambos os lados têm tentado manipular o Judiciário.


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