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Plebiscito não conseguirá reduzir a polarização política, diz analista
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Para Daniel Hellinger, 56, especialista em Venezuela da Universidade Webster (EUA), o plebiscito não diminuirá a polarização
política e só poderá ser realizado
com a participação de observadores internacionais. Leia a seguir a
entrevista concedida à Folha.
Folha - O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) acaba de aprovar o plebiscito. Como se comportará a política venezuelana a partir de agora?
Daniel Hellinger - A grande
questão é se eles marcarão a consulta para o início de agosto. A
Constituição manda que, se o presidente sair após 19 de agosto, o
vice assume. A outra questão é se
ambos os lados respeitarão o resultado e se o CNE será capaz de
organizar eleições de uma maneira em que ambos os lados considerem justa. Além disso, o resultado também pode ser inconclusivo. Por exemplo, o que acontece
se a oposição conseguir a maioria
dos votos válidos, mas não em
número suficiente para remover
Chávez? Eles podem argumentar
que ele tem a obrigação moral de
renunciar. E o presidente dirá:
"Não é o que a Constituição diz".
Portanto, estou confiante de
que o referendo seja realizado,
mas tenho dúvidas de que resolverá os problemas.
Folha - Com o plebiscito, haverá
uma pressão ainda maior sobre o
eleitorado. Aumentará a coerção?
Hellinger - Certamente, de ambos os lados. Do lado de Chávez,
haverá uma enorme pressão nos
bairros populares. Com os círculos bolivarianos e as organizações
chavistas, as pessoas estarão sob
uma pressão tremenda em favor
do presidente. Todavia, entre os
trabalhadores, creio que os empregadores colocarão uma enorme pressão para forçá-los a ir às
urnas para tentar tirar o presidente. Isso significa que os observadores internacionais terão de garantir a lisura do processo.
Folha - Chavistas acusam os observadores de serem pró-oposição.
Hellinger - No momento, a OEA
[Organização dos Estados Americanos] é a mais problemática. Seu
secretário-geral, Cesar Gaviria,
tende a dar declarações que levantam dúvidas sobre a sua neutralidade. Mas acredito que o Centro
Carter tenha sido honesto e tentado manter uma posição neutra.
Folha - O plebiscito melhorará o
ambiente político?
Hellinger - Não. A oposição não
aceitará uma vitória de Chávez.
Estão determinados a tirá-lo. Há
setores que acham melhor esperar dois anos, até a próxima eleição. Mas o outro extremo da oposição tentará manter a situação
instável. Do lado chavista, acho
que muitos se sentirão enganados
se ele perder. A situação é altamente polarizada, e o plebiscito
não reduzirá isso.
Folha - Há chance de guerra civil?
Hellinger - Sim, embora seja improvável. Embora haja extremistas em ambos os lados, há pessoas
trabalhando para evitar isso. Se isso ocorrer, será por causa de um
racha entre os militares. Neste
momento, não vejo isso.
Folha - Os chavistas recentemente fizeram mudanças na Suprema
Corte. O governo caminha para um
modelo cada vez mais autocrático?
Hellinger - Não creio que seja
saudável o Executivo tentar cooptar o Supremo. Eu diria sim à sua
pergunta, mas não a enfatizaria
tanto, já que ambos os lados têm
tentado manipular o Judiciário.
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