São Paulo, sábado, 04 de junho de 2011

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Portugueses põem freio no consumo antes de eleições

Economia em recessão foi tema central de campanha para pleito de amanhã

País vai escolher 230 membros da Assembleia Nacional; principais candidatos prometem honrar pacto com o FMI

VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Do vendedor de cerejas nas ruas do centro aos empresários de Lisboa, todos são unânimes em afirmar: o português parou de comprar.
"O consumo travou. Quem está empregado tem medo do futuro e adia os gastos", diz Gustavo Pinto Moura, dono de uma loja de roupas no bairro do Chiado.
Sua impressão se traduz em números. O país está oficialmente em recessão, após dois trimestres seguidos de queda no PIB (conjunto de riquezas de um país). Um dos culpados é o consumo interno, que despencou.
No caso de bens duráveis, a queda das vendas no primeiro trimestre do ano foi de 10% sobre o anterior.
Como era óbvio, a economia foi o tema central na campanha eleitoral que terminou ontem, com passeatas dos partidos em Lisboa.
Amanhã, os portugueses escolhem 230 membros da Assembleia Nacional. O partido que conseguir mais cadeiras monta o governo. O favorito, de acordo com as pesquisas, é o Partido Social Democrata, de centro-direita.
Em segundo lugar aparece o Partido Socialista, que está no governo desde 2005.
Não que os candidatos prometam milagres imediatos. O povo sabe que o país deve ficar em recessão neste ano e também em 2012.
O que os dois partidos prometem é honrar um acordo com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu que permitiu ao país receber um empréstimo de 78 bilhões para o pagamento de suas dívidas.
Na vida real, isso significa corte de gastos, aumento de impostos e privatizações.
Analistas afirmam que, para adotar essas medidas, o novo primeiro-ministro (seja Pedro Passos Coelho, do PSD, ou José Sócrates, do PS) vai precisar de uma maioria sólida no Parlamento.
O problema é que, a julgar pelas pesquisas, o PSD deve ficar com cerca de 40% das cadeiras. Teria que propor um governo de coalizão à terceira força política do país, o CDS, que resiste.
Paulo Portas, líder do CDS, diz preferir ficar fora do governo e firmar um acordo parlamentar, o que deixaria a aliança mais frágil.
"As medidas a implementar são tantas, tão suscetíveis de gerar descontentamento popular e vão exigir tantos confrontos com interesses organizados que o novo governo precisa ser forte", afirmou à Folha Pedro Magalhães, professor de ciência política da Universidade de Lisboa.
Nesse contexto, acrescenta Magalhães, "um mero acordo parlamentar seria muito preocupante".
Alguns acreditam que, se o país não obtiver governo com maioria absoluta, as agências de classificação de riscos vão reduzir ainda mais as notas dos títulos portugueses.
Como consequência, o país teria que pagar mais juros para rolar a dívida e ampliar os cortes públicos.
Parece tudo macroeconomia, mas afeta o vida do vendedor de cerejas da estação do Rossio. "Quando o verão acabar, os turistas vão embora. Vou vender para quem? O português tem medo de gastar", diz Emanuel Santos, que repete a frase preferida dos que vivem em Lisboa do consumo alheio.


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