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Colômbia mimetizou missões de Chávez
Helicóptero de "entidade humanitária"
tinha "jornalistas" inspirados na Telesur
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
O relato oficial cinematográfico da exitosa operação que
terminou com a libertação de
Ingrid Betancourt deixa de fora
detalhes que revelam que o governo colombiano se inspirou
diretamente nas missões do venezuelano Hugo Chávez para
libertar reféns das Farc, em janeiro e fevereiro neste ano.
De acordo com a edição de
hoje do jornal "The New York
Times", os militares da Colômbia estudaram cuidadosamente
os vídeos das entregas de reféns
a emissários de Chávez, na selva do país, e mimetizaram essas
ações em vários aspectos. Usaram um helicóptero com as
mesmas cores da Cruz Vermelha, que colaborou com as operações chavistas, e incluíram na
sua tripulação dois agentes disfarçados de cinegrafista e repórter de TV, uma referência às
equipes da Telesur.
A emissora chavista fez imagens exclusivas das entregas
das seqüestradas e Clara Rojas
e Consuelo González, em janeiro, e de quatro ex-parlamentares colombianos, em fevereiro.
Além disso, o relato da operação feito em formato "power
point" pelo Exército colombiano deixa claro que as missões
humanitárias de Chávez complementaram o minucioso trabalho de inteligência da operação.
Ajudaram a fechar o cerco
em torno da área informações
de mulheres das Farc, presas
em dezembrono final do ano
passado quando levavam provas de vida dos seqüestrados a
emissários de Chávez.
Emissários
Para analistas ouvidos pela
Folha, o governo também pode
ter usado como "isca" o anúncio feito na terça-feira, véspera
do resgate, de que autorizara o
contato de um mediador francês e um suíço com o secretariado das Farc.
A notícia, publicada na imprensa colombiana e francesa,
foi vista com otimismo, já que
as negociações para troca de reféns estavam paradas desde a
morte de Raúl Reyes, número
dois das Farc, em março.
A agência de notícias Anncol,
que faz as vezes de porta-voz
das Farc, questionou o papel
dos "países amigos" na Operação Xeque: "Antes dos fatos, os
meios repetiram com insistência a visita de dois funcionários
europeus ao chefe máximo das
Farc. Esses amigos da Colômbia não precisaram se era verdade ou blefe".
O analista colombiano Camilo González, da ONG Indepaz,
especula: as menções aos mediadores pelo menos ajudaram
a criar um clima verossímil de
que o secretariado poderia ordenar o deslocamento dos reféns, juntos. "Estou certo de
que as notícias em primeira página que saíram sobre os mediadores fizeram parte da operação de inteligência. Mas falar
disso traz complicações diplomáticas. Vai haver mais silêncio do que informações", diz
ele, que crê que nem França
nem Suíça sabiam do plano.
Com ele concorda Ariel Ávila, da Fundação Novo Arco-Íris, que também segue o tema
na Colômbia. Apesar da notória
debilidade de comunicação entre comandantes das Farc, "a
versão oficial lhes mostra demasiado ingênuos", diz Ávila.
Comunicação
A versão do governo é que
Gerardo Aguilar, o "César", foi
enganado por falsas mensagens
que pensava ser do secretariado da guerrilha. De acordo com
um general colombiano ouvido
pela Associated Press, um
agente duplo, que mudou de lado porque as Farc lhe haviam
tomado uma casa e uma fazenda, convenceu César.
O agente duplo estaria no helicóptero do resgate ao lado de
César e seu auxiliar Gafas, que
estão presos. As unidades das
Farc estão separadas na selva
-por conta da grande ofensiva
militar- e há um intenso monitoramento de telefonemas
por satélite e câmeras de vigilância instaladas em rios, principal meio de transporte (sistemas fornecidos pelos EUA). A
situação fez o grupo guerrilheiro priorizar a comunicação por
mensageiros humanos.
Anteontem, na TV, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, insistia para que todos dissessem que o helicóptero usado
na ação não tinha logotipo de
nenhuma organização. O governo diz que eles pensavam
que os aparelhos, pintados de
branco e vermelho, era de um
grupo "humanitário fictício".
"Para mim, eles usaram o nome da Cruz Vermelha", diz Camilo González.
Pagamentos
Para o analista Cesar Restrepo, da Fundação Segurança e
Democracia, a operação do governo colombiano funcionou
pela combinação de duas estratégias: a infiltração de seus
agentes e a "compra" de informantes. "Isso se deu porque ganhar dinheiro fácil se tornou
mais importante do que a vontade guerrilheira. O governo foi
inteligente em se aproveitar
dessa situação", diz Restrepo.
Para Pedro Medellín, professor da Universidade Nacional
da Colômbia, a política de recompensas aliada ao um "momento de cansaço" das Farc
permitiram o sucesso. "Pela
morte de Ivan Ríos, o governo
pagou US$ 2 milhões para o assassino. Por esse resgate, também deve ter pagado uma
quantia, junto com a promessa
de não extraditar traidores."
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