São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2008

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Caso envolveu amor do passado e ações secretas

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Até ser capturada pelas Farc, Ingrid Betancourt era pouco conhecida na França. Mas seu seqüestro ocorreu em plena campanha presidencial francesa de 2002, e a classe política do país se apoderou do caso, que comoveu a população.
Apesar da mobilização dos franceses, Betancourt é colombiana de nascimento e coração. O laço com a França começa com o sobrenome, herdado de antepassados normandos, e se prolonga na juventude vivida em Paris com os pais diplomatas. Mas ela só obteve a cidadania francesa depois de se casar com o também diplomata Fabrice Delloye, em 1983.
Mesmo assim, o presidente Jacques Chirac (1995-2007) transformou o seqüestro de Ingrid em causa nacional e incumbiu o então chanceler Dominique de Villepin de resgatá-la. A escolha não foi um acaso. É sabido que Villepin teve um caso com Ingrid quando era seu professor no Instituto de Estudos Políticos de Paris.
Às críticas sobre o envolvimento afetivo de Villepin somaram-se ressalvas ao fato de o então embaixador da França em Bogotá ter se casado com a irmã de Ingrid, Astrid.
A história complicou-se em 2003, quando Villepin planejou uma missão secreta para resgatar a refém a partir da Amazônia brasileira à revelia de Brasília e Bogotá -há relatos de que a cúpula dos governos teria sido avisada.
A operação falhou depois que os agentes franceses acumularam erros, chamando a atenção da Polícia Federal em Manaus e do repórter da revista "Carta Capital" que estava no local.
O fracasso da missão coincidiu com uma visita à Colômbia do então ministro do Interior da França e rival de Villepin, Nicolas Sarkozy. Há quem sustente que Sarkozy teria sabotado a operação na Amazônia, na esperança de ser ele o responsável por resgatar a refém.
Sarkozy tornou-se presidente no ano passado e, ao assumir os esforços para libertar Ingrid, manteve o mesmo agente secreto do governo Chirac para os contatos com as Farc: o veterano Noël Saez, cuja função de vice-cônsul em Bogotá acobertou atividades de inteligência.
Não está claro qual a participação de Paris na operação que resgatou Betancourt, mas Sarkozy continua colhendo os dividendos da libertação.
O presidente francês vai recepcionar a franco-colombiana hoje à tarde na base militar de Villacoublay, um dia depois de uma manifestação de apoio na Prefeitura de Paris.


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