São Paulo, sábado, 04 de julho de 2009

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Funcionários da Embaixada britânica no Irã serão julgados

Eles são acusados de fomentar protestos oposicionistas após reeleição de Ahmadinejad

Londres nega acusações, e União Europeia convoca em represália para consultas todos os embaixadores que membros mantêm em Teerã


DA REDAÇÃO

Um alto clérigo do regime iraniano anunciou ontem que funcionários da Embaixada britânica presos sob acusação de fomentar os recentes protestos contra a reeleição supostamente fraudulenta do presidente Mahmoud Ahmadinejad serão julgados no país.
O governo do Reino Unido negou as alegações e exigiu "explicações urgentes" para a medida, que ameaça agravar a crise entre o Irã e o Ocidente.
As relações, há anos conturbadas devido ao impasse sobre o programa nuclear iraniano, se deterioraram depois que países ocidentais criticaram a repressão de Teerã aos manifestantes que exigem a anulação do pleito de 12 de junho.
O Irã acusou forças externas de incentivarem o levante anti-governista e, no último dia 28, prendeu nove funcionários da Embaixada britânica em Teerã. A maioria foi libertada horas depois. Não está claro quantos ainda estão sob custódia iraniana -Londres fala em dois funcionários, um número não confirmado pelo Irã.
"A Embaixada britânica teve participação [nos protestos]. Algumas pessoas foram presas e, inevitavelmente, irão a julgamento", disse o aiatolá Ahmad Jannati, chefe do Conselho dos Guardiães da Revolução.
O aiatolá disse que os funcionários "confessaram" a participação no levante contra os resultados oficiais da eleição -pelos quais Ahmadinejad teve 62,7% dos votos, dispensando um segundo turno contra o reformista Mir Hossein Mousavi (votado por 33%).
Os protestos deixaram 20 mortos e resultaram na prisão de dezenas de oposicionistas.
Jannati afirmou que os "inimigos do Irã" planejavam "uma revolução de veludo" em favor da oposição. Mas ele não disse quantas pessoas serão atingidas pela medida nem quando começará o julgamento. Também não há detalhes sobre a natureza das acusações.
Segundo o jornal "The Guardian", um dos presos é um analista político iraniano a serviço da Embaixada britânica. Ele será processado por "atentado à segurança nacional".
Em apoio ao Reino Unido, a União Europeia pediu que todos os 27 países-membros convoquem para consultas seus embaixadores em Teerã. Pelos códigos diplomáticos, a retirada de um chefe de missão, mesmo temporária, sinaliza grave deterioração nas relações.
O bloco europeu estuda ainda suspender os vistos de entrada para cidadãos iranianos e não descarta romper relações com o governo do Irã.
Mas o alto escalão diplomático europeu teme que uma retaliação muito dura deixe o governo iraniano ainda mais isolado, o que fortaleceria a ala mais dura do regime.
Não é a primeira vez na atual crise que o Irã aponta as acusações de ingerência externa contra o Reino Unido.
O chanceler Manouchehr Mottaki dissera que Londres "enviou espiões" para "manipular a eleição", e dois diplomatas britânicos foram expulsos de Teerã -medida que foi retaliada por Londres.
As acusações de interferência estrangeira são uma possível tentativa de reavivar o trauma de 1953, quando os serviços secretos britânico e americano fomentaram um golpe que derrubou o premiê nacionalista Mohammed Mossadegh.
O episódio alimenta até hoje o ressentimento de muitos iranianos contra o Ocidente.


Com agências internacionais


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