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GUERRA SEM LIMITES
Secretário admite que planos da Al Qaeda eram de 2000 e 2001, mas defende medidas de segurança
Alerta de terror nos EUA usou dados pré-11/9
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
As informações usadas pelo governo dos EUA para lançar, no final de semana, o alerta sobre a
iminência de um ataque terrorista
a instituições financeiras eram
antigas -anteriores aos atentados de 11 de setembro de 2001.
A maior parte dos "planos", datados de 2000 e 2001, era baseada
em mapas, fotos e outras informações públicas (disponíveis na
internet) sobre os edifícios que
poderiam ser atacados em Washington, Nova York e Nova Jersey. O próprio secretário americano da Segurança Interna, Tom
Ridge, admitiu o problema, mas
disse que parte das informações
era de janeiro passado e defendeu
o alerta, que causou transtornos e
apreensão nas cidades.
"Eu não gostaria que ninguém
desconsiderasse a seriedade dessas informações só porque uma
parte delas é datada", disse Ridge.
A resposta de Ridge não impediu que aquilo que parecia ser o
mais detalhado alerta contra ataques nos EUA desde o 11 de Setembro surgisse como possível
novo foco de especulações sobre
os meios da Casa Branca de fazer
política em ano eleitoral.
Anteontem, o lado democrata já
havia questionado o alerta -Howard Dean, presidenciável derrotado na convenção do partido,
chegou a dizer que a medida talvez tivesse objetivo político.
Ridge só veio a público admitir
que as informações contidas nos
planos eram antigas depois que o
fato apareceu estampado pela
manhã em dois dos principais
jornais americanos.
No domingo, dois dias após o
término da Convenção Nacional
Democrata, que apontou John
Kerry como adversário de George
W. Bush na eleição presidencial
de novembro, Ridge veio a público anunciar a possibilidade dos
ataques.
O secretário não apenas afirmou que as informações eram
"alarmantes" como também disse que os ataques poderiam ocorrer "no curto prazo".
Como conseqüência, os EUA
aumentaram de "elevado" para
"alto" o indicador de riscos de
ataques e imediatamente o assunto sepultou os ecos da convenção
democrata e do candidato Kerry
na mídia.
Os jornais dos últimos dois dias
destacaram fotos de policiais armados em estações de metrô e em
ruas. Anteontem Bush anunciou,
ao lado de seus principais secretários e assessores, que faria mudanças importantes na área de segurança dos EUA, seguindo recomendações da comissão do Congresso que investigou as circunstâncias do 11 de Setembro.
Apesar de estar em situação de
empate técnico com Kerry nas
pesquisas eleitorais, Bush tem
mais de dez pontos de vantagem
sobre seu adversário quando os
entrevistados apontam quem é o
mais qualificado para enfrentar
ameaças terroristas.
"Política do medo"
As informações que levaram ao
alerta sobre a possibilidade de
ataques contra os edifícios do
Banco Mundial e do FMI (Fundo
Monetário Internacional), em
Washington, e a Bolsa de Valores
de Nova York foram obtidas na
semana passada, durante uma
ação militar no Paquistão.
A maior parte dos dados estava
armazenada em um laptop e em
alguns disquetes.
Ontem, além de Ridge, vários
funcionários da administração
Bush frisaram repetidas vezes o
fato de que as informações da Al
Qaeda tinham sido "atualizadas
recentemente".
O fato não aplacou as especulações sobre o uso da "política do
medo" pelo governo Bush na
campanha eleitoral e levou a assessora de segurança da Casa
Branca, Frances Townsend, a afirmar que as acusações eram "ultrajantes".
Ridge também foi questionado
sobre assunto e afirmou que seu
departamento "não faz política".
Já o porta-voz de Bush, Scott
McClellan, afirmou ser "errado e
irresponsável" sugerir que a
ameaça de ataques tenha se baseado em informações velhas.
"Devemos ter em mente que a
Al Qaeda faz o planejamento para
um ataque com antecedência e vai
atualizando esses planos até o
momento certo", afirmou.
No ano passado, pouco antes de
Bush conseguir o aval do Congresso para invadir o Iraque sem
o consentimento das Nações Unidas, o Departamento da Segurança Interna também elevou o índice de risco de ataques de "amarelo" para "laranja" -exatamente
como fez agora.
Na época, Ridge alertou sobre a
possibilidade de ataques com armas químicas. O fato disseminou
pânico entre a população e uma
corrida a lojas para a compra de
mantimentos e de fitas plásticas
para vedar portas e janelas.
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