São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Secretário admite que planos da Al Qaeda eram de 2000 e 2001, mas defende medidas de segurança

Alerta de terror nos EUA usou dados pré-11/9

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

As informações usadas pelo governo dos EUA para lançar, no final de semana, o alerta sobre a iminência de um ataque terrorista a instituições financeiras eram antigas -anteriores aos atentados de 11 de setembro de 2001.
A maior parte dos "planos", datados de 2000 e 2001, era baseada em mapas, fotos e outras informações públicas (disponíveis na internet) sobre os edifícios que poderiam ser atacados em Washington, Nova York e Nova Jersey. O próprio secretário americano da Segurança Interna, Tom Ridge, admitiu o problema, mas disse que parte das informações era de janeiro passado e defendeu o alerta, que causou transtornos e apreensão nas cidades.
"Eu não gostaria que ninguém desconsiderasse a seriedade dessas informações só porque uma parte delas é datada", disse Ridge.
A resposta de Ridge não impediu que aquilo que parecia ser o mais detalhado alerta contra ataques nos EUA desde o 11 de Setembro surgisse como possível novo foco de especulações sobre os meios da Casa Branca de fazer política em ano eleitoral.
Anteontem, o lado democrata já havia questionado o alerta -Howard Dean, presidenciável derrotado na convenção do partido, chegou a dizer que a medida talvez tivesse objetivo político.
Ridge só veio a público admitir que as informações contidas nos planos eram antigas depois que o fato apareceu estampado pela manhã em dois dos principais jornais americanos.
No domingo, dois dias após o término da Convenção Nacional Democrata, que apontou John Kerry como adversário de George W. Bush na eleição presidencial de novembro, Ridge veio a público anunciar a possibilidade dos ataques.
O secretário não apenas afirmou que as informações eram "alarmantes" como também disse que os ataques poderiam ocorrer "no curto prazo".
Como conseqüência, os EUA aumentaram de "elevado" para "alto" o indicador de riscos de ataques e imediatamente o assunto sepultou os ecos da convenção democrata e do candidato Kerry na mídia.
Os jornais dos últimos dois dias destacaram fotos de policiais armados em estações de metrô e em ruas. Anteontem Bush anunciou, ao lado de seus principais secretários e assessores, que faria mudanças importantes na área de segurança dos EUA, seguindo recomendações da comissão do Congresso que investigou as circunstâncias do 11 de Setembro.
Apesar de estar em situação de empate técnico com Kerry nas pesquisas eleitorais, Bush tem mais de dez pontos de vantagem sobre seu adversário quando os entrevistados apontam quem é o mais qualificado para enfrentar ameaças terroristas.

"Política do medo"
As informações que levaram ao alerta sobre a possibilidade de ataques contra os edifícios do Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacional), em Washington, e a Bolsa de Valores de Nova York foram obtidas na semana passada, durante uma ação militar no Paquistão.
A maior parte dos dados estava armazenada em um laptop e em alguns disquetes.
Ontem, além de Ridge, vários funcionários da administração Bush frisaram repetidas vezes o fato de que as informações da Al Qaeda tinham sido "atualizadas recentemente".
O fato não aplacou as especulações sobre o uso da "política do medo" pelo governo Bush na campanha eleitoral e levou a assessora de segurança da Casa Branca, Frances Townsend, a afirmar que as acusações eram "ultrajantes".
Ridge também foi questionado sobre assunto e afirmou que seu departamento "não faz política". Já o porta-voz de Bush, Scott McClellan, afirmou ser "errado e irresponsável" sugerir que a ameaça de ataques tenha se baseado em informações velhas.
"Devemos ter em mente que a Al Qaeda faz o planejamento para um ataque com antecedência e vai atualizando esses planos até o momento certo", afirmou.
No ano passado, pouco antes de Bush conseguir o aval do Congresso para invadir o Iraque sem o consentimento das Nações Unidas, o Departamento da Segurança Interna também elevou o índice de risco de ataques de "amarelo" para "laranja" -exatamente como fez agora.
Na época, Ridge alertou sobre a possibilidade de ataques com armas químicas. O fato disseminou pânico entre a população e uma corrida a lojas para a compra de mantimentos e de fitas plásticas para vedar portas e janelas.


Texto Anterior: Tragédia: Donos de mercado paraguaio são acusados de homicídio
Próximo Texto: Reino Unido anuncia a prisão de 13 suspeitos em ação antiterror
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.