São Paulo, sexta-feira, 04 de agosto de 2006

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Guerra no Oriente Médio

Hizbollah mata 8 civis e ameaça Tel Aviv

Baixas israelenses são as piores em 23 dias de conflito; Israel sobe tom da escalada e estuda adentrar 20 km no Líbano

Pelo menos quatro soldados de Israel são mortos em confronto com o grupo xiita; em discurso, Nasrallah abre possibilidade de cessar-fogo

MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE TEL AVIV

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO VALE DO BEKAA

Doze israelenses -oito civis e quatro soldados- foram mortos ontem em ataques do Hizbollah. É o maior número de baixas do país desde o início do conflito com o grupo terrorista, que mantém o poder de fogo apesar de 23 dias de ofensiva no Líbano. A retórica de ameaças cresceu dos dois lados: o Hizbollah ameaça atacar Tel Aviv, e Israel, avançar 20 km em território libanês e destruir ainda mais a infra-estrutura do país.
O líder do Hizbollah, Hassan Nasrallah, ameaçou lançar mísseis contra Tel Aviv, a maior cidade israelense, se Israel voltar a bombardear Beirute. Mas, no pronunciamento gravado e transmitido por TV e rádio no Líbano, Nasrallah também ofereceu, pela primeira vez, a possibilidade de um cessar-fogo.
"Se vocês bombardearem nossa capital, Beirute, nós bombardearemos a capital de sua entidade usurpadora", disse Nasrallah. "Bombardearemos Tel Aviv. A resistência islâmica tem essa capacidade, com a ajuda de Deus", disse o líder xiita. Jerusalém é a capital oficial de Israel, embora seja reconhecida por poucos países.
A inteligência israelense admite que o Hizbollah tenha mísseis com alcance para acertar Tel Aviv. Já foram posicionadas baterias norte-americanas antimísseis ao norte da cidade, mas o ritmo de vida continua normal, sem sinais da guerra a 130 km de distância.
Mas a ameaça de Nasrallah foi acompanhada de uma primeira abertura para terminar o conflito. "Em qualquer momento que vocês decidirem parar sua campanha contra nossas cidades, civis e infra-estrutura, nós deixaremos de disparar foguetes contra qualquer assentamento ou cidade israelense", disse no pronunciamento, acompanhado com grande interesse no Líbano.
Após o discurso, a rádio Nur, do Hizbollah, abriu espaço para telefonemas de ouvintes. A maioria falou da ameaça de Nasrallah, dando apoio ao ataque contra Tel Aviv. A proposta de trégua foi quase ignorada.

Invasão
Fontes do Exército de Israel disseram que, se o Hizbollah cumprir a promessa, os militares vão destruir ainda mais a infra-estrutura libanesa. Já o ministro da Defesa israelense, Amir Peretz, orientou o Exército a se preparar para invadir o sul do Líbano até o rio Litani, a mais de 20 km da fronteira. Israel afirma ter no momento selado uma faixa de segurança de 5 a 6 km em território libanês.
Se o Exército colocar em prática a ocupação até o rio, a faixa de segurança será maior do que a mantida de 1982 a 2000. A decisão de expandir a ação depende de aprovação do gabinete.
Caças israelenses bombardearam ontem pelo menos 70 alvos no Líbano. Os subúrbios de Beirute, onde fica o quartel-general do Hizbollah, voltaram a ser atingidos antes do discurso de Nasrallah, além de estradas no vale do Bekaa, perto da fronteira síria. A artilharia de Israel também manteve os disparos contra o sul do Líbano. Segundo fontes libanesas, dois civis morreram perto de Tiro e um em Baalbek, no Bekaa.
O país voltou a lançar panfletos no sul e nos subúrbios xiitas da capital advertindo a população a deixar o local.
Em Israel, entre os civis mortos ontem pelo Hizbollah, três são árabes. O grupo disparou mais de 150 foguetes em menos de uma hora. Na quarta-feira, lançou cerca de 210. Outros quatro civis israelenses sofreram ferimentos graves nos disparos do Hizbollah contra as cidades de Acre, Hurfeish e Kriyat Shmone, e quatro soldados foram mortos em um tanque atingido por um míssil do Hizbollah no sul do Líbano.
O premiê Ehud Olmert quer uma força internacional de pelo menos 15 mil homens no sul do Líbano, formada por "soldados de verdade, preparados para implementar a resolução da ONU [de desarmar o HIzbollah]". Olmert repetiu em entrevista à imprensa britânica que não parará a ofensiva até o envio da força internacional, e desafiou Nasrallah.
"Se ele é tão corajoso, porque não aparece? Por que tem medo de sentir a luz do sol?"


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