São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2006

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Produção de ópio quebra recorde no Afeganistão

Cultivo de papoula no país cresceu; para ONU, "situação está fora de controle"

Aumento da insurgência no sul é apontado como causa; de acordo com autoridade, Taleban incentiva plantio e oferece proteção em troca

29.abr.2005/France Presse
Agricultores afegãos em campo de papoula próximo a Kandahar, em 2005; a safra deste ano renderá 6.100 toneladas de ópio


CARLOTTA GALL
DO "NEW YORK TIMES", EM CABUL

A produção de ópio no Afeganistão alcançou neste ano o nível mais alto já registrado, num aumento de quase 50% em relação ao ano passado, anunciou no sábado, em Cabul, o presidente do Escritório de Drogas e Criminalidade das Nações Unidas, Antonio Maria Costa. Ele descreveu os números como "alarmantes" e uma "péssima notícia" para o governo e os doadores que, desde 2001, puseram milhões de dólares em programas para reduzir o plantio da papoula, da qual é derivado o ópio.
Costa disse que o aumento foi movido em grande parte pelo ressurgimento dos rebeldes do Taleban no sul, a região do Afeganistão mais propícia ao cultivo da papoula. Ao mesmo tempo em que os insurgentes vêm intensificando seus ataques, eles têm lucrado com o tráfico de ópio e o incentivado, prometendo proteção aos plantadores se eles ampliarem suas operações de produção de ópio.
"A produção deste ano será de 6.100 toneladas de ópio -nada menos de 92% do suprimento mundial total. Ela excede em 30% o consumo global da droga", disse Costa. Segundo ele, a produção aumentou 49% em relação à de 2005 e supera bastante o recorde anterior, de 4.600 toneladas, em 1999. A área cultivada de papoula cresceu em 59%, com mais de 400 mil acres em 2006.
No sábado, o presidente Hamid Karzai exortou a comunidade internacional a ampliar seu compromisso em fortalecer os órgãos policiais do Afeganistão. A administração Bush fez da erradicação da papoula um dos principais objetivos de sua ação no Afeganistão e criticou Karzai por não fazer mais para combater os senhores de guerra envolvidos com a produção.
O Afeganistão é o maior produtor mundial de ópio -estima-se que 35% de seu produto nacional bruto venha do tráfico. A maior parte da heroína feita com suas papoulas é vendida na Europa e Ásia.

"Sinais de colapso"
A insurgência no sul do Afeganistão tem deixado distritos inteiros fora do controle do governo. A maior parte do aumento no cultivo ocorreu na região. Segundo Costa, "o sul dá sinais tenebrosos de colapso, com tráfico em grande escala, insurgência, terror e crime".
O representante da ONU não atribuiu o aumento do cultivo apenas ao Taleban. Ele acusou um ex-governador da província de Helmand, Sher Muhammad Akhund, de incentivar os agricultores. O resultado, disse Costa, foi um aumento de 160% na safra na "província vilã".
Costa criticou a decisão do governo de afastar Akhund e lhe dar um cargo no Parlamento. "Já pedi ao presidente que autoridades corruptas não sejam transferidas, mas afastadas definitivamente, e, se possível, presas e sentenciadas."
Uma Província do norte do país, Badakhshan, onde não existe problema com a insurgência, também teve um aumento significativo no cultivo. Costa atribuiu-o à ausência de controle do governo e à presença de guerrilheiros poderosos e autoridades locais corruptas.
O órgão de combate às drogas da ONU afirmou que cerca de 38 mil acres de campos de papoulas foram destruídos, sendo que no ano passado foram apenas 12 mil.

Revés
O ministro afegão do Combate às Drogas, Habibullah Qaderi, disse que a notícia do aumento é um revés para seu país e que seu ministério ainda não dispõe da capacidade para investigar e capturar os "peixes graúdos". Centenas de pessoas foram presas e condenadas nos últimos meses, mas a maioria foi flagrada transportando a droga.

Tradução de Clara Allain

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