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Ataques com seringas fazem ressurgir crise étnica na China
Dois meses após conflitos que mataram 197, chineses voltam às ruas em protesto
Cidadãos pedem renúncia do secretário-geral do PC em Xinjiang após relatos de que 476 pessoas foram alvos
de ataques na Província
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Cerca de 2.000 chineses da
maioria étnica han protestaram ontem nas ruas de Urumqi, capital da Província de Xinjiang, após uma nova onda de
violência étnica. Os manifestantes alegam que centenas de
pessoas foram atacadas com seringas nos últimos dias.
Segundo a TV estatal de Xinjiang, 476 pessoas foram atacadas com seringas, mas o governo chinês não confirma o dado.
Quinze pessoas foram presas. O
jornal "China Daily" diz que
ninguém foi contaminado ou
envenenado nos ataques.
Há dois meses, na mesma cidade, 197 pessoas foram mortas
em confrontos entre han e a
minoria muçulmana uigur.
Na manhã de ontem, os manifestantes portavam bandeiras chinesas, pediam mais segurança e "punição severa aos
baderneiros". Também exigiram a renúncia do secretário-geral do Partido Comunista na
Província, Wang Lequan, o homem mais poderoso de Xinjiang, há 15 anos no cargo.
Protestos e violência acontecem a menos de um mês do
principal evento do ano na China, a comemoração dos 60 anos
da chegada ao poder do Partido
Comunista, em 1º de outubro.
A violência étnica estourou
em julho, após o assassinato de
jovens uigures em uma fábrica
no sul da China.
Após perder o emprego, um
colega da maioria han espalhou
boato de que uigures estavam
estuprando chinesas. Ao menos dois uigures foram mortos
em um linchamento na fábrica.
Um mês depois, centenas de
uigures protestaram em Urumqi contra a falta de investigação
ou punição por parte do governo chinês das mortes dos uigures. A polícia reprimiu a passeata, e a situação saiu do controle.
Relatos de testemunhas dizem que centenas de uigures se
uniram aos manifestantes e começaram a atacar com facas e
porretes qualquer chinês han
que vissem pelas ruas.
No dia seguinte, milícias de
chineses retribuíram, matando
uigures e destruindo suas lojas.
Houve toque de recolher por
vários dias, inclusive com feriado e proibição de tráfego de
carros nas ruas de Urumqi.
Desde então, a maior parte dos
serviços de internet na região
está bloqueada. Cerca de 200
pessoas foram presas e aguardam julgamento.
Os uigures reclamam que
não têm as mesmas possibilidades econômicas dos chineses,
que são enviados para lá aos
milhares pelo governo central.
Muitos nem sequer falam o
mandarim -90% dos uigures
vivem na zona rural, longe da
bonança que acontece em
Urumqi, graças à indústria do
gás e do petróleo em Xinjiang.
Como no Tibete, há dezenas
de acusações de falta de liberdade religiosa e de discriminação por parte de Pequim.
Nos últimos anos, algumas
políticas governamentais aumentaram a divisão étnica.
Funcionários públicos uigures
são proibidos de usar barba ou
véu. O centro histórico de
Kashgar, a principal cidade uigur, começou a ser destruído
em março "por questões de segurança e fragilidade dos prédios", segundo o governo chinês. Uigures no exílio chamam
de genocídio cultural.
Já os han reclamam das
ações afirmativas do governo,
que permitem aos uigures ter
mais de um filho por família e
lhes garantem mais vagas nas
universidades.
Até 1950, 90% da população
de Xinjiang era uigur. Hoje, são
45%. Na capital, os han já se
transformaram em maioria
-são 70% da população.
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