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UNIÃO EUROPÉIA
Áustria retira veto, e Ancara se compromete a acelerar reforma; EUA fazem pressão em favor dos turcos
Turquia abre histórica negociação com UE
DA REDAÇÃO
A Turquia e a União Européia
chegaram ontem a um histórico
acordo que permitiu a abertura
das negociações para que aquele
país se torne membro do bloco,
apesar do ceticismo sobre a possibilidade de a UE absorver um parceiro populoso e muçulmano.
O premiê turco, Recep Tayyip
Erdogan, disse que o acordo refletia "as expectativas e as demandas" de seu governo. "A Turquia
deu um passo gigantesco."
A cerimônia de assinatura do
acordo foi adiada até quase a
meia-noite de ontem, em Luxemburgo, depois de uma maratona
diplomática de dois dias, em que
os ministros das Relações Exteriores procuraram superar as objeções que a Áustria levantara à
abertura das negociações.
"O dia é histórico para a Europa
e para toda a comunidade internacional", disse Jack Straw, chefe
da diplomacia britânica. O Reino
Unido ocupa a presidência rotativa da UE, e o governo de Tony
Blair se empenhou para que o
projeto turco não fracassasse.
"Estamos no início de um longo
processo", disse Straw. As negociações devem se prolongar no
mínimo pelos próximos dez anos.
Em Ancara, o ministro do Exterior turco, Abdullah Gul, cujo país
esperou essa oportunidade por
muito tempo, embarcou para Luxemburgo apenas quando, no final da tarde, as 25 delegações da
UE lhe deram sinal verde.
A Áustria fez uma concessão
importante ao aceitar que as negociações tenham por objetivo
dar à Turquia o estatuto de membro integral da UE, não apenas o
de Estado "associado".
Em troca, em compromisso negociado pela delegação britânica,
a Turquia aceita a condição de
acelerar suas reformas internas
-nas áreas de direitos humanos,
economia, instituições políticas e
do Judiciário- e a ser avaliada
em razão delas a cada passo da negociação. As regras européias são
complexas e totalizam 80 mil páginas de documentos.
"O Mediterrâneo oriental será
crucial para a paz no século 21",
disse Joschka Fischer, em seu último encontro internacional como
chefe da diplomacia alemã.
Dois dos integrantes da UE, a
Áustria e também a França, disseram que, ao final das negociações,
só aprovarão o ingresso turco depois de submeter a questão a plebiscito entre seus eleitores.
Dedo americano
As negociações em Luxemburgo, que anteontem à noite caminhavam para o fracasso, foram diretamente auxiliadas pelos Estados Unidos, interessados em não
deixar a Turquia isolada e preocupados com os efeitos desse eventual isolamento. O país integra em
posição estratégica a Otan, a
aliança militar ocidental.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, telefonou
no domingo e ainda ontem a integrantes do governo turco, para
convencê-los a aceitar as concessões nas reformas e de monitoramento a que a UE os obrigava.
O temor de Washington era o
de que, em caso de malogro do
início do processo de adesão à
UE, a Turquia efetuasse uma reviravolta em sua identidade política
e cultural e passasse a se ver como
um país oriental, com interesses
fincados na comunidade islâmica.
Partidários da candidatura turca argumentam que o país será
uma ponte entre os mundos islâmico e cristão, enquanto os céticos -que, atualmente, são majoritários na Europa- argumentam que um país pobre e com
quase 70 milhões de habitantes
tende a desestabilizar as políticas
agrícola e de desenvolvimento regional do bloco.
O mercado financeiro turco reagiu positivamente ao final do impasse em Luxemburgo. As ações,
que haviam caído 2,3% na sexta-feira, subiram ontem 1,9%.
Com agências internacionais
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