São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2005

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UNIÃO EUROPÉIA

Áustria retira veto, e Ancara se compromete a acelerar reforma; EUA fazem pressão em favor dos turcos

Turquia abre histórica negociação com UE

DA REDAÇÃO

A Turquia e a União Européia chegaram ontem a um histórico acordo que permitiu a abertura das negociações para que aquele país se torne membro do bloco, apesar do ceticismo sobre a possibilidade de a UE absorver um parceiro populoso e muçulmano.
O premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que o acordo refletia "as expectativas e as demandas" de seu governo. "A Turquia deu um passo gigantesco."
A cerimônia de assinatura do acordo foi adiada até quase a meia-noite de ontem, em Luxemburgo, depois de uma maratona diplomática de dois dias, em que os ministros das Relações Exteriores procuraram superar as objeções que a Áustria levantara à abertura das negociações.
"O dia é histórico para a Europa e para toda a comunidade internacional", disse Jack Straw, chefe da diplomacia britânica. O Reino Unido ocupa a presidência rotativa da UE, e o governo de Tony Blair se empenhou para que o projeto turco não fracassasse.
"Estamos no início de um longo processo", disse Straw. As negociações devem se prolongar no mínimo pelos próximos dez anos.
Em Ancara, o ministro do Exterior turco, Abdullah Gul, cujo país esperou essa oportunidade por muito tempo, embarcou para Luxemburgo apenas quando, no final da tarde, as 25 delegações da UE lhe deram sinal verde.
A Áustria fez uma concessão importante ao aceitar que as negociações tenham por objetivo dar à Turquia o estatuto de membro integral da UE, não apenas o de Estado "associado".
Em troca, em compromisso negociado pela delegação britânica, a Turquia aceita a condição de acelerar suas reformas internas -nas áreas de direitos humanos, economia, instituições políticas e do Judiciário- e a ser avaliada em razão delas a cada passo da negociação. As regras européias são complexas e totalizam 80 mil páginas de documentos.
"O Mediterrâneo oriental será crucial para a paz no século 21", disse Joschka Fischer, em seu último encontro internacional como chefe da diplomacia alemã.
Dois dos integrantes da UE, a Áustria e também a França, disseram que, ao final das negociações, só aprovarão o ingresso turco depois de submeter a questão a plebiscito entre seus eleitores.

Dedo americano
As negociações em Luxemburgo, que anteontem à noite caminhavam para o fracasso, foram diretamente auxiliadas pelos Estados Unidos, interessados em não deixar a Turquia isolada e preocupados com os efeitos desse eventual isolamento. O país integra em posição estratégica a Otan, a aliança militar ocidental.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, telefonou no domingo e ainda ontem a integrantes do governo turco, para convencê-los a aceitar as concessões nas reformas e de monitoramento a que a UE os obrigava.
O temor de Washington era o de que, em caso de malogro do início do processo de adesão à UE, a Turquia efetuasse uma reviravolta em sua identidade política e cultural e passasse a se ver como um país oriental, com interesses fincados na comunidade islâmica.
Partidários da candidatura turca argumentam que o país será uma ponte entre os mundos islâmico e cristão, enquanto os céticos -que, atualmente, são majoritários na Europa- argumentam que um país pobre e com quase 70 milhões de habitantes tende a desestabilizar as políticas agrícola e de desenvolvimento regional do bloco.
O mercado financeiro turco reagiu positivamente ao final do impasse em Luxemburgo. As ações, que haviam caído 2,3% na sexta-feira, subiram ontem 1,9%.


Com agências internacionais

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