São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2005

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EUA

Harriet Miers, 60, é a conselheira legal da Casa Branca e nunca foi juíza; para analistas, efeito de indicações persistirá por décadas

Bush indica sua advogada para o Supremo

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

O presidente dos EUA, George W. Bush, voltou-se mais uma vez para seu círculo próximo e indicou ontem a conselheira legal da Casa Branca e sua ex-advogada pessoal para preencher a vaga aberta em julho por Sandra Day O'Connor na Suprema Corte americana. Harriet Miers, 60, tem 30 anos de experiência como advogada mas nenhum como juíza.
A última vez em que alguém sem experiência foi indicado foi em 1972, quando Richard Nixon nomeou William Rehnquist, depois alçado à presidência da junta. Rehnquist morreu sem setembro e foi substituído pelo também conservador John Roberts, empossado ontem.
A falta de experiência na magistratura não prejudica o exercício da função, mas faz de Miers uma grande incógnita. Sem histórico, suas posições só virão à tona após a sabatina pelo Comitê Judiciário do Senado. "Sabemos muito pouco sobre ela. Foi escolhida por ser muito próxima do presidente há anos", afirmou Herman Schwartz, professor da Escola de Direito da American University.
"Miers é conselheira da Casa Branca e, como tal, tem o papel de defender as políticas do presidente. Não conhecemos suas opiniões particulares", disse Viktor Mayer-Schoenberger, professor da Kennedy School of Government, (Universidade Harvard) e especialista em Suprema Corte.
Schoenberger não acredita, no entanto, que a proximidade da Casa Branca faça de Miers um fantoche do presidente. "Ela é uma precursora entre as mulheres, e quebrar a dominação masculina nessa profissão requer força de vontade e confiança própria. Ela não será pilotada facilmente."
Schoenberger não se arrisca a dizer se Miers será aprovada, mas acredita que os democratas a verão como "o menor dos males", dentre os nomes cogitados para a nona vaga do Supremo.
Embora sem histórico, espera-se que ela atue como moderada. Isso frustrou os conservadores radicais, que esperavam do presidente um nome tão ou mais linha-dura que o de Roberts. "Eles estão fervendo por conta do que vêem como traição das promessas de campanha de Bush", afirmou Stuart Taylor, especialista em Suprema Corte do Instituto Brookings (Washington).
Com a dupla indicação de Roberts e Miers, ambos jovens, Bush inclina a máxima instância jurídica do país um pouco mais para direita e imprime sua marca por décadas, de uma forma que seu sucessor dificilmente conseguirá alterar. "Se o próximo presidente for democrata, o único juiz que provavelmente ele conseguirá trocar é John Paul Stevens, um liberal", observou Schoenberger.

Pit bull de saias
Se aprovada, Miers será a terceira mulher a integrar o Supremo americano, depois de O'Connor e Ruth Ginsburg, ainda no cargo. Após se formar, em 1972, ela atuou em um grande escritório de advocacia no Texas, o Locke, Purnell, Raine and Harrell, onde chegou a sócia-administradora. Saiu em 1999, tendo sido eleita a primeira mulher a presidir a Ordem dos Advogados do Estado.
Foi advogada de Bush, que já a definiu como "um pit bull em sapatos 36" e, que, ao assumir a presidência, levou-a com ele.
Ainda que penda para a direita, Miers pode exercer o mesmo papel de "fiel da balança" que sua predecessora. "O'Connor originalmente era uma conservadora radical. Mas, com o Supremo tornando-se mais radical, o conservadorismo moderado dela virou o centro. O mesmo pode ocorrer com Miers", disse Schoenberger. Para ele, a escolha de Bush seria justificada pela expectativa de uma rápida aprovação pelo Senado. "É melhor para ele ter uma conservadora moderada do que apenas oito juízes na Corte."

DeLay
O ex-líder dos republicanos no Senado, Tom DeLay, foi indiciado por um júri do Texas sob nova acusação de lavagem de dinheiro. Na semana passada, DeLay, homem-forte de Bush, fora indiciado por conspiração e levado a deixar a liderança de sua bancada.
Ambas as acusações remontam à campanha de 2002 para o Senado, na qual DeLay e dois sócios teriam usado um grupo de ativismo para arrecadar doações para o Comitê Nacional Republicano.


Com agências internacionais

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