São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2005

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ASSALTO AO TREM PAGADOR

Detetive da Scotland Yard tentou fazer segredo de sua missão frustrada ao Rio de Janeiro

"Trapalhão" deixou Biggs escapar em 74

7.mai.2001/Associated Press
Biggs é levado pela polícia em 2001, quando voltou à prisão


FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

Num momento em que a eficiência da Scotland Yard é desmoralizada pelo caso Jean Charles de Menezes, ontem uma nova nódoa veio manchar a farda da lendária polícia britânica.
Documentos do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido retirados do Arquivo Nacional do país e revelados pela imprensa londrina mostram que a missão enviada pela Scotland Yard ao Brasil em 1974 para tentar prender Ronald Biggs, que em 1963 roubou 2,5 milhões de libras (equivalentes hoje a 33 milhões de libras, ou R$ 140 milhões) de um trem pagador, foi cheia de trapalhadas.
Segundo os arquivos, o detetive Jack Slipper foi despachado para o Rio de Janeiro, onde Biggs viveu foragido até 2001, a partir de uma dica do jornal "Daily Express", que o havia descoberto na cidade. Slipper chegou sem alarde, mas exagerou: não contatou nenhuma autoridade diplomática britânica ou brasileira nem a polícia do país que visitava.
Slipper chegou a encontrar Biggs, numa suíte de hotel em Copacabana, mas foi logo avisado de que não poderia voltar com o procurado sem a liberação de extradição pelo Brasil.
O primeiro contato do detetive com diplomatas britânicos foi um telefonema quando, na sala de uma delegacia de Copacabana, disse ao consulado que ninguém no local falava inglês.
Num dos documentos, um diplomata britânico no Rio relata que, caso o detetive tivesse acionado a Interpol e a polícia internacional tivesse prendido Biggs, não haveria entraves em levá-lo de volta. A abertura dos arquivos só foi possível após a morte de Slipper, em agosto. Ele sempre negou a culpa pela missão frustrada, atribuindo os problemas às autoridades brasileiras.
Biggs, 75, cumpre o restante da pena de 30 anos numa prisão britânica de segurança máxima.


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