São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2010

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Após motim, Correa quer "radicalizar" socialismo

Ministra Doris Soliz diz à Folha que nova lei agrária é uma "prioridade"

Doris Soliz reconhece problemas na lei que gerou levante policial, mas diz que forças do governo devem se unir

DA ENVIADA A QUITO (EQUADOR)

Nem o levante policial contra Rafael Correa nem os embates do presidente do Equador com sua bancada no Congresso frearão os planos do governo socialista de "radicalizar sua revolução cidadã" nos próximos meses.
Quem diz é a ministra da Coordenação Política, Doris Soliz, braço direito de Correa e responsável pela relação entre o Executivo e o governista Aliança País, uma colcha de movimentos sociais e partidos esquerdistas.
"Estamos concentrados em duas frentes pelas quais vamos radicalizar nossa revolução cidadã: a produtiva e a agrária", afirmou a ministra, em entrevista à Folha.
Duas leis sobre o tema serão enviadas à Assembleia Nacional nas próximas semanas. Antes, o governo quer aprovar o Código de Planejamento e Finanças, que definirá, entre outros pontos, o nível de endividamento do governo. O projeto tem caráter de urgência.
O chamado do presidente equatoriano a radicalizar sua revolução tem pouco a ver com o do aliado venezuelano Hugo Chávez.
Para o economista equatoriano com formação nos EUA, seu governo significa "o fim da noite neoliberal", e não uma mudança de modelo econômico, como pregado por Chávez.
O programa de Correa se traduz em controle do petróleo, fortalecimento e reforma do Estado e um anseio por maior controle da política monetária -impossível num país de economia dolarizada, condição que a "revolução cidadã" não mudou.

MAIORIA FRÁGIL
As mudanças precisam de apoio de dois terços da Assembleia, onde o governo tem apenas maioria simples (63 das 124 cadeiras). Pior: enfrenta problemas em sua bancada.
"As mudanças que propomos, estamos conscientes, são polêmicas. Mas repito o que disse o presidente: "Fomos eleitos para mudar esse país, não para ficar bem com todo mundo'", diz.
"E se tivermos que apostar nosso capital político nessas coisas, apostaremos."
O ministro da Segurança Externa e Interna, Miguel Carvajal, também do núcleo duro de Correa, ecoa a ministra: "Antes de quinta [dia do levante] havia um processo de mudança. Agora haverá um muito mais forte".
A rebelião policial que degringolou na agressão ao presidente Correa -que ele classifica como tentativa de golpe- teve como base uma crise latente no Parlamento, que levou o governo a cogitar dissolver a Assembleia e convocar eleições, a chamada "morte cruzada".
A ideia está descartada, diz a ministra Soliz, mas o problema de fundo permanece. (FLÁVIA MARREIRO)

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