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Campus do Islã
Recém-fundado em Berkeley, na Califórnia, Zaytuna College é a primeira faculdade muçulmana dos EUA. Sua turma inicial tem 15 alunos, 9 dos quais são mulheres
30.ago.2010-Justin Sullivan/Getty Images
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Estudante caminha pelo hall de entrada do Zaytuna College, na Califórnia, a primeira faculdade muçulmana dos EUA
FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL A BERKELEY
A americana Hadeel al Hadidi, 24, tem um pequeno
piercing no nariz e o sonho
de trabalhar no cinema.
Antes ela pretende estudar
árabe e direito islâmico no
norte da Califórnia, na que
deve se tornar em breve a primeira faculdade muçulmana
reconhecida pelo governo
dos EUA.
De véu negro cobrindo os
cabelos, jaqueta jeans e saia
longa preta, Hadeel pertence
à primeira turma de 15 estudantes do Zaytuna College,
cujas aulas começaram faz
menos de um mês na cidade
de Berkeley.
Hadeel e seus colegas fazem parte da pequena, porém crescente, população de
estimados 6 milhões de americanos muçulmanos. Seu
pai é sírio muçulmano e sua
mãe, americana convertida.
"É a minha religião desde
que eu nasci, mas eu nunca
fui atrás, só absorvia o que
meus pais diziam. Agora, foi
minha decisão de aprender,
quero entender de fato o Alcorão [livro sagrado do islã]",
disse a caloura, formada em
comunicação pela Universidade do Michigan.
"Depois, vou fazer uma especialização em cinema",
continua Hadeel, à espera do
professor de árabe, numa
das três salas de aula usadas
pela escola, um modesto
complexo no subsolo de um
prédio de tijolos aparentes.
Na mesa do professor, três
maçãs levadas pelas alunas.
O Zaytuna College, fundado por três acadêmicos de renome no país, se orgulha em
se dizer a primeira faculdade
muçulmana nos EUA.
Já existiram outras tentativas de instituições do gênero
no país, como nos Estados de
Michigan e Minnesota.
Mas, segundo os fundadores do Zaytuna, essas outras
escolas apenas replicavam
currículos de universidades
do mundo muçulmano.
"Queremos criar aqui um
modelo híbrido, unindo as
tradições educacionais americana e muçulmana. Isso é
inédito", disse Hatem Bazian, acadêmico palestino-americano, único que não
nasceu nos EUA entre os três
fundadores do Zaytuna.
"O estudante americano
precisa saber trabalhar com
as tendências sociais, culturais e políticas do seu país",
explicou. "Queremos formar
líderes, pessoas para ajudar
nas 2.000 mesquitas, 500 escolas e centenas de organizações que temos no país."
POLÊMICA
O ano letivo começou justamente quando se discutia a
construção da mesquita perto de onde foram derrubadas
as torres do World Trade Center em Nova York, em 11 de
setembro de 2001.
Na onda das críticas, o canal conservador Fox News
acusou o Zaytuna de ser na
verdade uma "escola secreta
de jihadistas".
"Existe uma minoria poderosa que trabalha para demonizar os muçulmanos. O islã
ensina a paz, e as pessoas do
islã são generosas", disse
Hamza Yusuf, outro fundador e um dos mais populares
líderes muçulmanos no Ocidente.
Yusuf, americano que se
converteu ao islamismo em
1977, era o professor que recebeu as maçãs. Ao final das
duas horas de aula, um grupo de estudantes se formou
ao seu redor.
Entre eles estava Abdul
Halim, de Detroit, que quer
se formar para ser "um líder
para defender minha comunidade". Ele é um dos seis
afro-americanos calouros.
A única hispânica da turma é Verônica Hernandez,
24, cujo pai é mexicano.
Ela se converteu aos 13
anos, influenciada pelo irmão mais velho. "Nunca enfrentei discriminação, mas
agora sinto um pouco o olhar
das pessoas, talvez com medo", disse. "Elas não sabem a
verdade de nossa religião, é
ignorância."
A colega Hadeel, que estudou em colégio católico e
desde então já usava o véu,
diz que é difícil ser jovem e religiosa numa sociedade cada
vez mais liberal.
"Há tentações, claro, mas
a vida é um teste", disse ela,
que fez o piercing num período rebelde da adolescência.
"Se você não questionar, não
aprende de verdade."
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