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São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Presidente reage ao ataque que matou 16 americanos e rebate críticas à lentidão na transição iraquiana

EUA não vão "fugir" do Iraque, diz Bush

Kai Pfaffenbach/Reuters
Na base de Ramstein (Alemanha), uma equipe médica da Força Aérea dos EUA retira de avião C-17 um dos 20 soldados feridos em queda de helicóptero no domingo


FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Um dia depois do ataque mais letal às forças americanas no Iraque no pós-guerra, o presidente George W. Bush disse ontem que os EUA "não vão fugir" do país e que os americanos "não vão descansar" enquanto os "perigos" que o Iraque ainda representa "para a civilização não forem totalmente removidos".
"Nossos inimigos no Iraque acham que vamos fugir. É por isso que eles estão matando pessoas inocentes e atacando as tropas da coalizão. Nós nunca vamos fugir", disse o presidente.
Os comentários de Bush foram os primeiros depois que um helicóptero americano foi derrubado no Iraque, anteontem, matando 16 soldados e ferindo 20 -foi o maior número de baixas americanas num único dia no Iraque no pós-guerra.
Apesar da determinação de Bush, são crescentes as críticas contra a estratégia dos EUA. A censura recorrente é que os EUA estão lentos demais para preparar forças de segurança iraquianas para promover a transição.
Analistas apontam a participação de pessoas leais ao ex-ditador Saddam Hussein e de combatentes estrangeiros nos ataques.
"Mas os iraquianos comuns estão ficando cansados da ocupação, da insegurança e da falta de serviços básicos"", escreveu Sandy Berger, assessor para Segurança Nacional no governo Bill Clinton (1993-2001), em um artigo há poucos dias. "Militares americanos e britânicos têm alertado para o risco de a oposição sofrer uma metástase e o Iraque passar por uma revolta popular."
Para Anthony Cordesman, analista do Centro Internacional de Estudos Estratégicos, assim como as tropas americanas, os iraquianos comuns estão cada vez mais "sensíveis" a riscos no Iraque.
Susan Rice, membro do Conselho de Segurança Nacional durante o governo Clinton, considera vital, além da segurança, a aceleração, pelos EUA, da transição política no Iraque, com uma participação maior das facções políticas do país nas decisões.
"Sob o plano americano, os iraquianos não têm de fazer muito, a não ser ficar sentados vendo as forças de ocupação e empresas americanas decidirem como reconstruir o país deles", diz Rice.
Durante o fim de semana, também foram levantadas dúvidas sobre a precisão das informações relativas ao número de novos policiais no Iraque treinados e pagos pelos EUA.
Em entrevista na TV, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, afirmou que o número de policiais já passava de 100 mil.
Vinte dias antes, o administrador americano do Iraque, Paul Bremer, declarara serem 60 mil os novos policiais. Na quinta-feira passada, a assessora para a Segurança Nacional, Condoleezza Rice, disse que eram 85 mil.
Mesmo na mídia norte-americana, normalmente tolerante com Bush, a série de ataques recentes no Iraque vem acentuado o tom das críticas e a apreensão em relação ao futuro do país.
Nesta semana, pela primeira vez a revista britânica "The Economist" reconheceu as dificuldades no Iraque. Em editorial, a publicação afirma: "O fracasso [no Iraque] começa a parecer possível".

Caixões americanos
Os militares americanos reiteraram ontem a proibição do registro de imagens dos caixões de soldados mortos, em vigor desde 1991, negando que seja censura.
"Há dois modos de encarar: alguns americanos dizem que o público precisa ver isso [os caixões], mas também podemos pensar nos pais dos mortos e seu trauma de ver na TV a imagem do filho sendo repatriado", disse um funcionário do Pentágono.

Com agências internacionais

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