São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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O IMPÉRIO VOTA

EUA reelegem Bush


Onda conservadora dá ao presidente vitória na sua campanha e na dos republicanos no Congresso

Resultados demonstram o aprofundamento da divisão do país, que foi às urnas em volume recorde



FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Amparado por uma nova onda conservadora, o presidente republicano dos Estados Unidos, George W. Bush, 58, obteve ontem uma vitória completa sobre o seu adversário democrata, o senador John F. Kerry, 60, na eleição norte-americana de 2004.
Bush foi reeleito o 43º presidente dos EUA para um mandato de mais quatro anos que terminará em 20 de janeiro de 2009.
Seu partido, o Republicano, venceu a eleição no voto popular, no Colégio Eleitoral, na Câmara dos Deputados e no Senado. Vai controlar também a maioria dos 50 Estados norte-americanos.
Resultados da apuração e de pesquisas de boca-de-urna mostraram que os principais grupos conservadores americanos sustentaram a vitória do presidente.
Os dados iluminaram ainda a profunda divisão do eleitorado que fraturou os EUA ao meio na campanha em questões relacionadas à moral e aos costumes.
Grupos religiosos radicais, homens, pessoas brancas e residentes em áreas rurais conservadoras formaram a base do eleitorado de Bush. Eles foram os principais responsáveis por uma diferença de mais de 3,5 milhões de votos do presidente sobre Kerry.
Em 11 Estados, a votação de Bush foi claramente impulsionada por milhões de eleitores que foram às urnas para derrubar de forma incontestável referendos sobre a permissão ao casamento entre homossexuais.
O voto de todas as minorias importantes, das mulheres, dos moradores das grandes cidades e das pessoas menos religiosas convergiram para Kerry em menor número e em menos Estados.
Ao contrário de 2000, quando Bush perdeu no voto popular para o democrata Al Gore por 540,3 mil votos e venceu no Colégio Eleitoral por um voto apenas, a vitória de ontem foi um veredicto claro sobre as políticas do presidente dos últimos quatro anos.
Além dos 3,5 milhões de votos de vantagem, o placar no Colégio Eleitoral ontem era de 274 para Bush contra 252 para Kerry.
O resultado das urnas respaldou tanto a guinada conservadora e religiosa que orienta o país quanto a política internacional conduzida de forma unilateral.
Assim como em 2000, a eleição de 2004 não foi decidida na noite da votação. Ontem pela manhã ainda pairavam dúvidas sobre a contabilização de votos no Estado de Ohio, que quase se tornou a "nova Flórida" desta eleição.
Com Bush à frente e depois de refletir sobre suas chances, Kerry telefonou no final de manhã para a Casa Branca para congratular o presidente pela vitória.
"Você foi um oponente admirável e conduziu uma campanha dura. Espero que esteja orgulhoso do seu esforço, pois eu estaria", respondeu Bush.
Horas depois, em Boston, Kerry admitiria publicamente a derrota e faria um discurso de conciliação que seria repetido pelo presidente mais tarde.
"A divisão dos EUA representa um perigo e precisamos desesperadamente de uma unificação. Creio que podemos começar isso hoje", afirmou um Kerry emocionado e com a voz embargada. "Farei o possível para reconstruir essa ponte."
Menos de duas horas depois, Bush afirmaria que fará o que puder "para conquistar a confiança" dos democratas derrotados. "Para construir uma nação mais forte, precisaremos do apoio de todos e vamos trabalhar para isso", afirmou.
O clima cordial e conciliatório deve azedar em breve. O 109º Congresso dos EUA assumirá suas funções em 9 de janeiro com os democratas enfraquecidos.
Os republicanos ampliaram sua maioria de apenas um voto no Senado para cinco, angariando 55 das 100 cadeiras, segundo projeções com base na votação. Na Câmara, a liderança de 227 votos das 435 cadeiras foi ampliada para 230.
A expectativa é a de que Bush introduza uma nova agenda de reformas e medidas legislativas que têm forte oposição entre os democratas, como mais cortes de impostos para os mais ricos e mudanças na Previdência.
O presidente também usará politicamente sua margem significativa de votos populares para fazer passar suas proposições.
Com 99% das urnas apuradas, a eleição de ontem levou quase 10 milhões a mais de eleitores às urnas, em um total de 114.658 milhões, um recorde em termos absolutos que causou longas filas e atrasos na votação de terça.
Para os democratas, que esperavam ser beneficiados por um comparecimento ainda maior, o número mostrou-se insuficiente.


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