São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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John Kerry aceita derrota e pede união


Sem esse gesto do democrata, impasse em Ohio poderia durar dias

Resultados contrariam algumas pesquisas que circularam na terça



LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Nove horas após a Casa Branca declarar que o presidente George W. Bush fora reeleito, o democrata John Kerry aceitou publicamente a vitória de seu adversário republicano. Com um discurso emocionado, em Boston, o senador conclamou o país a se unir para "curar as feridas".
"Falei mais cedo com o presidente e ofereci minhas congratulações a ele e Laura [Bush]. Eu lhe falei da situação do país, que precisa desesperadamente de cura. Espero que possamos começar a nos curar logo", afirmou Kerry a uma platéia de simpatizantes na cidade onde vive.
Depois de uma campanha agressiva de ambos os lados, que dividiu o país e deixou os americanos com os nervos à flor da pele, Kerry pediu que as diferenças fossem deixadas de lado e que seus partidários o seguissem numa tentativa de reconciliação. "Temos que nos unir. Temos que buscar o meio termo. Eu sei que é difícil para meus simpatizantes, mas peço a todos que me sigam. O que começamos nessa campanha não acaba aqui."
Os 15 minutos de discurso foram marcados por uma rara demonstração sentimental do senador. Emocionado, ele agradeceu o companheiro de chapa, John Edwards, a mulher, Teresa, a família, a família de Edwards e os eleitores. Na hora de falar à sua equipe de campanha e aos voluntários que se mobilizaram em todo o país, a voz do senador embargou e ele teve de fazer uma pausa. "Gostaria de abraçar cada um de vocês país afora", afirmou. "Não desistam. O que vocês fizeram fez diferença (...) Eu fiz o meu melhor. Gostaria que o resultado tivesse sido diferente."
Além da derrota no Colégio Eleitoral, Kerry perdeu a votação popular. Nas disputas pela Câmara e pelo Senado, os democratas não só fracassaram em tomar a maioria dos republicanos como também perderam assentos em ambas as casas. Em uma competição apertada, o líder democrata no Senado, Tom Daschle, de Dakota do Sul, também perdeu sua vaga. Por enquanto, não há substituto claro em vista.

Voto a voto
O tom conciliador de Kerry contrastou com o de seu candidato a vice, Edwards, e, principalmente, com o de seus assessores na campanha durante uma longa noite de questionamentos sobre a contagem de votos.
Tão logo fecharam as primeiras urnas, e ainda com a eleição transcorrendo em muitos Estados, foram divulgadas pesquisas de boca-de-urna indicando vantagem de Kerry sobre Bush.
Números que circularam em blogs na internet mostrando a vitória do senador em Estados decisivos e uma boca-de-urna do Instituto Zogby que projetou para Kerry 300 votos no colégio eleitoral -30 além do necessário para conquistar a Presidência- foram suficientes para animar os democratas depois de uma disputa acirrada. Na televisão, membros do partido concediam entrevistas com um sorriso no rosto, em contraposição aos republicanos, que mantiveram um tom mais sóbrio. Nas ruas de Nova York, uma cidade majoritariamente democrata, simpatizantes do partido se reuniam nas ruas para acompanhar o início da apuração ou comentar a possibilidade de vitória de Kerry.
O tom começou a mudar por volta das 22h. Conforme o horário avançava e mais analistas na TV falavam que, sem uma vitória na Flórida ou em Ohio, Kerry não seria presidente, mais democratas davam entrevistas em um tom defensivo para dizer que a apuração ainda não acabara e que Kerry ganharia.
Até que ficou claro que o presidente venceria na Flórida, e Ohio tornou-se essencial. Deste momento em diante, apesar da margem favorável a Bush, representantes do partido se sucederam em comunicados e declarações pedindo que os resultados do Estado só fossem declarados após os votos provisórios e de moradores ausentes serem contabilizados, o que levaria 11 dias.
A gerente de campanha de Kerry, Mary Beth Cahill, pediu que os canais Fox News e NBC voltassem atrás após declararem o presidente vitorioso em Ohio, já por volta da 1h da manha. Momentos depois, John Edwards voltou ao palanque em Ohio. "Esperamos quatro anos por essa vitória, podemos esperar mais uma noite", disse. "Vamos lutar por todos os votos."
Mas pela manhã, já havia ficado claro que a possibilidade de os votos provisórios e os de moradores ausentes reverterem o resultado era quase nula.
Em seu discurso ontem, Kerry afirmou "estar claro" que esses votos não mudariam o pleito. "O resultado deve ser decidido pelos eleitores, e não por um longo processo legal", disse.


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