São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Democratas terão de fazer apostas

DE WASHINGTON

O Partido Democrata terá de se reinventar e buscar alternativas desde já para se recompor de uma derrota eleitoral sem precedentes na eleição de 2004.
A mais cara e unida campanha do partido terminou com um resultado pior do que a apertada derrota sofrida em 2000.
No bloco de apostas para as eleições de 2008, a ex-primeira-dama Hillary Clinton encabeça a lista. Abaixo dela, aparece o candidato a vice de John Kerry, o deputado John Edwards, e figuras em ascensão dentro do partido, como o governador latino do Novo México, Bill Richardson.
O senador negro eleito por Illinois e nova estrela dos democratas, Barack Obama, é considerado ainda muito verde, mas não é carta fora do baralho.
Antes de 2008, no entanto, os democratas terão de juntar os cacos da derrota de 2004 e procurar entender como uma das campanhas mais bem-sucedidas da história do partido pôde fracassar.
Nunca os democratas se uniram tão cedo em torno de um mesmo candidato e arrecadaram tanto dinheiro como na campanha de Kerry, que pôde se equiparar em termos financeiros à tradicional primazia republicana.
Uma lição importante que a eleição deste ano deixa é que dificilmente o partido terá nas próximas rodadas eleitorais um candidato que possa ser tachado, como foi John Kerry, de esquerdista e liberal em questões morais e de costumes.
Depois da derrota de Michael Dukakis em 1988, Bill Clinton retomou a Casa Branca em 1992 com um forte discurso conservador em questões domésticas, de criminalidade e segurança.
Os democratas também não vão se esquecer tão cedo como líderes religiosos em todo o país se opuseram a Kerry em questões relacionadas ao aborto e à união entre homossexuais, exploradas negativamente por George W. Bush ao longo de toda a campanha.
"Os republicanos têm conseguido com sucesso se mostrar como os representantes das tradições americanas religiosas e familiares e pintar os democratas como contrários a elas", declarou ontem o recém-eleito senador Obama ao avaliar os resultados conseguidos por seu partido.
A reeleição do presidente a partir de sua base conservadora mostrou que a "direitização" dos democratas será condição básica para retomar o poder.
"As posições democratas em relação a armas, Deus e gays alienaram milhões de votos rurais. O partido precisa encontrar uma maneira de reconquistar essas pessoas", afirmou Bruce Buchanan, cientista político da Universidade do Texas.
Os democratas saem das urnas mais enfraquecidos do que nunca, sem a Presidência, o Congresso e a maioria dos Estados. E sem uma idéia clara do que fazer.
Internamente, o resultado deve provocar um novo racha. Vai também requentar a discussão sobre se o partido não deveria ter nomeado um candidato frontalmente contra a Guerra do Iraque, como Howard Dean, em vez de ficar dando explicações sobre posições contraditórias de Kerry ao longo da campanha.
Para completar, os novos tempos de insegurança americana mostraram que o rótulo de "menos confiáveis" em questões de segurança continua fortemente associado à fachada democrata. (FERNANDO CANZIAN)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Espectro da confusão desta vez passou por Ohio, mas foi só susto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.