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Democratas terão de fazer apostas
DE WASHINGTON
O Partido Democrata terá de se
reinventar e buscar alternativas
desde já para se recompor de uma
derrota eleitoral sem precedentes
na eleição de 2004.
A mais cara e unida campanha
do partido terminou com um resultado pior do que a apertada
derrota sofrida em 2000.
No bloco de apostas para as eleições de 2008, a ex-primeira-dama
Hillary Clinton encabeça a lista.
Abaixo dela, aparece o candidato
a vice de John Kerry, o deputado
John Edwards, e figuras em ascensão dentro do partido, como o governador latino do Novo México,
Bill Richardson.
O senador negro eleito por Illinois e nova estrela dos democratas, Barack Obama, é considerado
ainda muito verde, mas não é carta fora do baralho.
Antes de 2008, no entanto, os
democratas terão de juntar os cacos da derrota de 2004 e procurar
entender como uma das campanhas mais bem-sucedidas da história do partido pôde fracassar.
Nunca os democratas se uniram
tão cedo em torno de um mesmo
candidato e arrecadaram tanto dinheiro como na campanha de
Kerry, que pôde se equiparar em
termos financeiros à tradicional
primazia republicana.
Uma lição importante que a
eleição deste ano deixa é que dificilmente o partido terá nas próximas rodadas eleitorais um candidato que possa ser tachado, como
foi John Kerry, de esquerdista e liberal em questões morais e de
costumes.
Depois da derrota de Michael
Dukakis em 1988, Bill Clinton retomou a Casa Branca em 1992
com um forte discurso conservador em questões domésticas, de
criminalidade e segurança.
Os democratas também não vão
se esquecer tão cedo como líderes
religiosos em todo o país se opuseram a Kerry em questões relacionadas ao aborto e à união entre
homossexuais, exploradas negativamente por George W. Bush ao
longo de toda a campanha.
"Os republicanos têm conseguido com sucesso se mostrar como
os representantes das tradições
americanas religiosas e familiares
e pintar os democratas como contrários a elas", declarou ontem o
recém-eleito senador Obama ao
avaliar os resultados conseguidos
por seu partido.
A reeleição do presidente a partir de sua base conservadora mostrou que a "direitização" dos democratas será condição básica para retomar o poder.
"As posições democratas em relação a armas, Deus e gays alienaram milhões de votos rurais. O
partido precisa encontrar uma
maneira de reconquistar essas
pessoas", afirmou Bruce Buchanan, cientista político da Universidade do Texas.
Os democratas saem das urnas
mais enfraquecidos do que nunca, sem a Presidência, o Congresso e a maioria dos Estados. E sem
uma idéia clara do que fazer.
Internamente, o resultado deve
provocar um novo racha. Vai
também requentar a discussão
sobre se o partido não deveria ter
nomeado um candidato frontalmente contra a Guerra do Iraque,
como Howard Dean, em vez de ficar dando explicações sobre posições contraditórias de Kerry ao
longo da campanha.
Para completar, os novos tempos de insegurança americana
mostraram que o rótulo de "menos confiáveis" em questões de
segurança continua fortemente
associado à fachada democrata.
(FERNANDO CANZIAN)
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