São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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Economia deve manter problemas

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia americana continuará crescendo nos próximos trimestres. George W. Bush não fará mudanças bruscas na política econômica e uma das grandes preocupações dos economistas, o déficit público, continuará na lista dos problemas não resolvidos pelo governo, avaliam analistas.
O presidente Bush conseguiu algo um tanto quanto inédito na área econômica: enquanto economistas acadêmicos avaliam muita mal seu desempenho, os analistas de mercado se desmancham em elogios à tendência "pró-business" do presidente republicano.
A chave para entender a aparente contradição está na reforma fiscal do presidente, que fez nada menos do que três cortes de impostos desde que foi eleito em 2000. Desnecessário dizer que menos impostos significa, pelo menos para quem está no mundo dos negócios, boa política. O argumento é simples, quanto menos o governo tira do setor privado, mais recursos sobram para investimento e consumo privados.
É também a política fiscal que atormenta a maioria dos economistas. Eles não são contra cortes de impostos, mas as reduções ocorrem justamente em período em que o governo decidiu gastar mais, já que a guerra contra o terrorismo custa caro. O resultado: enquanto em 2000 se discutia o que fazer com o dinheiro que sobrava, hoje a discussão é sobre como pagar uma conta que eqüivale a US$ 412,6 bilhões, quase uma economia brasileira inteira.
"O déficit continuará piorando muito no futuro. Eu não acho que Bush tenha um compromisso sério com a disciplina fiscal", diz Jeffrey Frankel, de Harvard.
Como Frankel, a maioria dos economistas diz não acreditar que uma próxima administração Bush se destacará por tentar diminuir o déficit. No início do mês passado, por exemplo, em pesquisa com 56 economistas feita pela revista "The Economist", apenas 18% diziam que Bush seria mais propenso do que John Kerry a promover a disciplina fiscal.
O déficit, no entanto, não deve atrapalhar o desempenho econômico norte-americano, na avaliação de James Glassman, economista do JP Morgan. Segundo ele, o saldo negativo é explicado por dois fatores: um ativismo intencional do governo para aquecer a economia e o desempenho ruim da arrecadação, não pelo corte de impostos, mas pelos períodos recessivos dos últimos quatro anos.
"No curto prazo, acho que a economia precisava desse ativismo, para ajudar na recuperação. O desempenho das contas fiscais deve melhorar com a aceleração econômica", diz Glassman.


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