São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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Reeleição agrada a aliados europeus de Bush


Berlusconi diz que "coisas ficam mais fáceis para a Itália" com Bush

Para Putin, norte-americanos não se intimidaram por terroristas



ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

A reeleição de George W. Bush não agradou a maioria dos cidadãos europeus que alimentam forte rejeição ao republicano. Já líderes políticos de alguns países da Europa aliados aos EUA respiraram aliviados com o resultado da eleição. Mas isso não significa, segundo especialistas, que as desgastadas relações transatlânticas vão melhorar a partir de agora. Ao contrário, podem até piorar.
Silvio Berlusconi, primeiro-ministro da Itália, Vladimir Putin, presidente da Rússia, e Aleksander Kwasniewski, presidente da Polônia, soltaram declarações veementes de apoio a Bush antes de John Kerry admitir a derrota.
Berlusconi afirmou que uma vitória de Bush torna "as coisas mais fáceis" para a Itália. Kwasniewski disse que a reeleição era uma boa notícia para seu país. Os líderes europeus ressaltaram também a possibilidade de continuar a cooperação iniciada com Bush no combate ao terrorismo. Putin elogiou o povo norte-americano que, ao escolher Bush, teria mostrado que não não se deixou intimidar por terroristas.
Mas a vitória de Bush traz fortes expectativas sobre as relações entre os EUA e a Europa que se deterioram fortemente depois que países como França e Alemanha se opuseram à invasão do Iraque.
No jogo político que deverá começar agora, Tony Blair, primeiro-ministro britânico, é visto como peça central. Analistas diziam ontem que para ele, pessoalmente, a vitória de Bush foi o melhor resultado. Se Kerry tivesse ganhado, Blair, principal aliado político de Bush, passaria a ser visto como um líder isolado. Dentro do partido trabalhista do premiê, no entanto, o democrata era preferido.
Assim como a população européia, os políticos trabalhistas vêem Bush como unilateralista e acham que ele representa uma ameaça às relações britânicas na União Européia.
Não por acaso, antes mesmo de o senador Kerry ter admitido a derrota, a pressão política sobre o premiê britânico já havia começado. Aliados e adversários de Blair cobram dele o uso do apoio dado a Bush no Iraque como moeda de troca para conseguir do republicano cooperação em causas européias, como o processo de paz entre israelenses e palestinos.
Blair, que ligou para Bush para parabenizá-lo, voltou a dizer na Câmara dos Comuns que se esforçará para que esse assunto entre na lista de prioridades do governo norte-americano. O problema, dizem analistas, é que a prioridade de Bush continuará sendo o Iraque. E, pior do que isso, há outras questões de política externa-como o tema das armas nucleares do Irã-que podem levar o fosso das relações transatlânticas a aumentar ainda mais.
"Não só as relações transatlânticas podem não melhorar, como podem se tornar piores. Isso não é improvável se considerarmos que tem a questão do Irã logo ali na esquina", afirma Victor Bulmer-Thomas, especialista do instituto Chatham House.
Segundo Bulmer-Thomas, certamente, Blair pressionará Bush, mas, em política, diz o analista, não existem questões de favores pessoais. Além disso, no caso do Irã, Bulmer-Thomas afirma ser bem possível que Blair decida apoiar a busca pela solução diplomática defendida pela Europa.
Como o governo Bush já se mostrou cético a essa saída e pode pressionar por algum tipo de intervenção no Irã, isso poderia levar a uma deterioração no relacionamento entre o Reino Unidos e os EUA.


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