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Resultado frustra desafetos europeus
FERNANDO EICHENBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM PARIS
A reeleição do republicano
George W. Bush para a Presidência dos Estados Unidos arrefeceu
os ânimos dos líderes europeus
que apostavam na vitória do candidato democrata John Kerry como uma esperança de mudança
na política externa americana.
Embora com declarações prudentes, os "perdedores" europeus
indicaram a intenção de reconstruir as relações com a Casa Branca no segundo mandato de Bush.
Na Alemanha, o chanceler social-democrata Gerhard Schröder, que junto com o presidente
francês Jacques Chirac liderou o
"campo da paz" na oposição à intervenção anglo-americana no
Iraque, revelou a intenção de
prosseguir no caminho de "boas
relações" com a atual administração norte-americana.
Karsten Voigt, coordenador das
relações germano-americanas do
governo alemão, descreveu as expectativas do país: "É do interesse
da estabilidade do mundo que
Bush se preocupe mais com os europeus e que tome alguma iniciativa na direção da Europa".
Na Espanha, distanciada da administração Bush após a recente
vitória do primeiro-ministro socialista José Luis Rodríguez Zapatero -que decidiu retirar as tropas espanholas que participavam
da ocupação do Iraque-, o ministro das Relações Exteriores,
Miguel Angel Moratinos, defendeu o reforço das relações de seu
país com um "aliado e amigo como os Estados Unidos": "O governo espanhol está disposto à
contribuir a um novo programa
de cooperação política e militar
transatlântica", disse.
Chirac
O presidente francês Jacques
Chirac afirmou esperar que o segundo mandato de Bush possibilite o "fortalecimento da amizade
entre os dois países".
Igualmente diplomático e pragmático, seu ministro francês das
Relações Exteriores, Michel Barnier, anunciou uma nova etapa
nas relações internacionais entre
a Europa e os Estados Unidos: "É
preciso tentar restabelecer uma
confiança americana no projeto
europeu, porque os americanos
não podem imaginar em construir, dirigir e animar o mundo
sozinhos", afirmou.
A França acompanhou de perto
a contagem dos votos americanos, e nas ruas de Paris podiam
ser notados semblantes de tristeza
e contrariedade à vitória de Bush,
sobretudo diante dos resultados
de pesquisas eleitorais que sugeriam uma vitória de Kerry. Nos altos escalões do poder, no entanto,
embora exista manifesta resistência de Chirac ao atual ocupante da
Casa Branca, a ascensão de Nicolas Sarkozy, futuro presidente do
partido governista majoritário
UMP (União por um Movimento
Popular), de tendência pró-americana, já revela sinais entre seus
partidários de um favorecimento
à reaproximação com governo de
Washington.
O vice-presidente da UMP na
Assembléia Nacional, deputado
Hervé Mariton, avaliou a reeleição de Bush como "estimulante e
dinamizadora". Segundo ele,
"uma parte dos franceses considerava Bush como um erro da
história. Seu segundo mandato
deverá ser encarado de maneira
diferente, mais positiva. As relações entre a França e os EUA não
podem mais se deteriorar", disse
o deputado à Folha.
Ainda segundo o parlamentar,
o candidato democrata não demonstrou as mesmas qualidades
do presidente americano: "Kerry
representa a gauche caviar e o politicamente correto, e os americanos mostraram que não era isso
que queriam", notou.
Para Christian Saint-Etienne,
presidente do Institut France
Stratégie, seja Georg W. Bush ou
John Kerry, a questão crucial em
relação à Europa não muda. Segundo ele, vista a atual desunião
da nova União Européia de 25
países membros, a reação do continente à reeleição de Bush permanece como uma grande incógnita: "É a ausência de capacidade
européia em agir conjuntamente
que torna a posição americana
hegemônica", disse à Folha.
Realismo
Jean-Luc Pouthier, especialista
em Relações Internacionais do
Instituto de Estudos Políticos de
Paris, acredita que, superada a
frustração imediata de uma parte
da Europa com a derrota de John
Kerry, o realismo vai se impor na
política externa. Segundo ele, "a
França será obrigada a mudar de
atitude e ser mais compreensível,
pois Bush foi reeleito num outro
contexto, de forma legitimada,
sem denúncias de fraudes eleitorais", declarou à Folha.
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