São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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Resultado frustra desafetos europeus

FERNANDO EICHENBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM PARIS

A reeleição do republicano George W. Bush para a Presidência dos Estados Unidos arrefeceu os ânimos dos líderes europeus que apostavam na vitória do candidato democrata John Kerry como uma esperança de mudança na política externa americana.
Embora com declarações prudentes, os "perdedores" europeus indicaram a intenção de reconstruir as relações com a Casa Branca no segundo mandato de Bush.
Na Alemanha, o chanceler social-democrata Gerhard Schröder, que junto com o presidente francês Jacques Chirac liderou o "campo da paz" na oposição à intervenção anglo-americana no Iraque, revelou a intenção de prosseguir no caminho de "boas relações" com a atual administração norte-americana.
Karsten Voigt, coordenador das relações germano-americanas do governo alemão, descreveu as expectativas do país: "É do interesse da estabilidade do mundo que Bush se preocupe mais com os europeus e que tome alguma iniciativa na direção da Europa".
Na Espanha, distanciada da administração Bush após a recente vitória do primeiro-ministro socialista José Luis Rodríguez Zapatero -que decidiu retirar as tropas espanholas que participavam da ocupação do Iraque-, o ministro das Relações Exteriores, Miguel Angel Moratinos, defendeu o reforço das relações de seu país com um "aliado e amigo como os Estados Unidos": "O governo espanhol está disposto à contribuir a um novo programa de cooperação política e militar transatlântica", disse.

Chirac
O presidente francês Jacques Chirac afirmou esperar que o segundo mandato de Bush possibilite o "fortalecimento da amizade entre os dois países".
Igualmente diplomático e pragmático, seu ministro francês das Relações Exteriores, Michel Barnier, anunciou uma nova etapa nas relações internacionais entre a Europa e os Estados Unidos: "É preciso tentar restabelecer uma confiança americana no projeto europeu, porque os americanos não podem imaginar em construir, dirigir e animar o mundo sozinhos", afirmou.
A França acompanhou de perto a contagem dos votos americanos, e nas ruas de Paris podiam ser notados semblantes de tristeza e contrariedade à vitória de Bush, sobretudo diante dos resultados de pesquisas eleitorais que sugeriam uma vitória de Kerry. Nos altos escalões do poder, no entanto, embora exista manifesta resistência de Chirac ao atual ocupante da Casa Branca, a ascensão de Nicolas Sarkozy, futuro presidente do partido governista majoritário UMP (União por um Movimento Popular), de tendência pró-americana, já revela sinais entre seus partidários de um favorecimento à reaproximação com governo de Washington.
O vice-presidente da UMP na Assembléia Nacional, deputado Hervé Mariton, avaliou a reeleição de Bush como "estimulante e dinamizadora". Segundo ele, "uma parte dos franceses considerava Bush como um erro da história. Seu segundo mandato deverá ser encarado de maneira diferente, mais positiva. As relações entre a França e os EUA não podem mais se deteriorar", disse o deputado à Folha.
Ainda segundo o parlamentar, o candidato democrata não demonstrou as mesmas qualidades do presidente americano: "Kerry representa a gauche caviar e o politicamente correto, e os americanos mostraram que não era isso que queriam", notou.
Para Christian Saint-Etienne, presidente do Institut France Stratégie, seja Georg W. Bush ou John Kerry, a questão crucial em relação à Europa não muda. Segundo ele, vista a atual desunião da nova União Européia de 25 países membros, a reação do continente à reeleição de Bush permanece como uma grande incógnita: "É a ausência de capacidade européia em agir conjuntamente que torna a posição americana hegemônica", disse à Folha.

Realismo
Jean-Luc Pouthier, especialista em Relações Internacionais do Instituto de Estudos Políticos de Paris, acredita que, superada a frustração imediata de uma parte da Europa com a derrota de John Kerry, o realismo vai se impor na política externa. Segundo ele, "a França será obrigada a mudar de atitude e ser mais compreensível, pois Bush foi reeleito num outro contexto, de forma legitimada, sem denúncias de fraudes eleitorais", declarou à Folha.


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