São Paulo, sábado, 04 de novembro de 2006

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Mulheres são mortas em ação israelense

Convocadas por rádio do Hamas, palestinas formaram escudo humano para ajudar fuga de 60 radicais de mesquita em Gaza

Israelenses dizem que alvos dos disparos eram homens armados que se esconderam entre as mulheres; operação deixou 30 mortos em 3 dias

DA REDAÇÃO

Tropas israelenses dispararam contra um grupo de mulheres palestinas que se aproximavam de uma mesquita em Beit Hanoun, na faixa de Gaza, depois de convocadas a ajudar na fuga de integrantes de grupos radicais que aí se escondiam. Ao menos duas mulheres foram mortas e cerca de dez ficaram feridas, segundo fontes hospitalares.
Parte dos homens fugiu. A maioria pertencia ao grupo islâmico Hamas, responsável por dezenas de atos terroristas contra civis israelenses. Horas mais tarde, Israel lançou uma série de ataques aéreos em Beit Hanoun, em Beit Lahiya e no campo de refugiados de Jebaliya, deixando ao menos 16 mortos, entre integrantes de grupos armados e civis.
Os ataques fazem parte de uma operação na faixa de Gaza que entrou ontem no terceiro dia e já provocou mais de 30 mortes. O objetivo, segundo Israel, é impedir que grupos palestinos continuem lançando foguetes contra o norte do território israelense. Israel retirou suas colônias e bases de Gaza no início do ano passado, mas voltou a enviar militares ao território palestino após os lançamento de foguetes e o seqüestro de um soldado israelense, em junho último.
As mulheres, que estavam desarmadas, foram à mesquita de Um al Nasir para formar um escudo humano que permitisse a entre 50 e 60 militantes escapar de um cerco das tropas israelenses que já durava 19 horas, em meio a intenso tiroteio.
Os homens haviam se escondido no local na noite de anteontem. O prédio foi cercado por tanques, e soldados israelenses usaram alto-falantes para pedir a rendição dos militantes, lançando ainda bombas de gás lacrimogêneo e granadas para forçar a saída. Uma escavadeira derrubou uma das paredes da mesquita.

Convocação
Pela manhã, a rádio Al Aqsa, do Hamas, convocou as mulheres para marchar em direção à mesquita em apoio aos homens. Momentos depois, centenas de mulheres rumaram para o local. Os tiros começaram quando elas se aproximavam. Imagens de TV mostraram muitas fugindo e uma delas caída no chão.
"Ouvimos o chamado para as mulheres ajudarem os militantes e decidimos vir", disse Mona Abu Jasir, ferida na perna por uma bala. "Não tínhamos armas e estávamos caminhando para a mesquita quando fui atingida."
Suhad el Masri disse que ela e diversas outras mulheres levaram roupas e véus para dar aos homens. "Levamos para que eles pudessem se disfarçar de mulheres e fugir."
O Exército israelense disse que os tiros tinham por alvo homens armados que haviam se escondido entre as mulheres e que oito deles foram mortos. A porta-voz militar, Avital Leibovich, disse que "talvez" uma mulher tenha morrido. "Vimos a multidão das mulheres. Atrás delas, escondiam-se alguns dos militantes. Alguns deles até estavam vestidos de mulheres, temos as imagens", disse Leibovich à rede britânica BBC. "Infelizmente, porque os militantes dispararam contra nossas tropas, algumas vezes tivemos de responder."
O premiê palestino, Ismail Haniyeh, do Hamas, exortou o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, a "testemunhar os massacres diários contra a nação palestina". Ele também elogiou as mulheres "que lideraram o protesto para furar o cerco a Beit Hanoun".
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que pertence à organização secular Fatah, pediu em nota que o Conselho de Segurança da ONU "intervenha imediatamente para pôr fim à agressão israelense contra a faixa de Gaza e os massacres que Israel está cometendo pelo terceiro dia consecutivo".
Em nota, Annan instou Israel a restringir suas ações e a proteger a população civil. Aos palestinos, pediu o fim dos disparos de foguetes contra alvos civis israelenses.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Sean McCormack, disse que Israel agiu para se defender.


Com agências internacionais e "The New York Times"


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