São Paulo, sábado, 04 de novembro de 2006

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China atrai África com acordo econômico

Cúpula leva dirigentes de 48 países africanos a Pequim, que cobiça recursos naturais e mercado para produtos baratos

Comércio chega a US$ 50 bi; para críticos, país legitima governos que cometem abusos, enquanto Pequim diz levar desenvolvimento

DA REDAÇÃO

A China abre hoje um encontro com representantes de quase todos os países africanos, num evento que pretende fortalecer a crescente relação comercial do país com o continente, rico em recursos naturais cobiçados, como petróleo, ferro e cobre. É esperado o anúncio de um pacote com medidas de desenvolvimento social e econômico, que incluiria o perdão de dívidas.
Rejeitando críticas de que promoveria um "neocolonialismo", o gigante econômico vem se consolidando como grande parceiro comercial da região. Em dez anos, as trocas comerciais entre os dois se multiplicaram por dez, devendo chegar a US$ 50 bilhões em 2006.
Dos 53 países africanos, 48 participarão do evento em Pequim -35 chefes de Estado e seis chefes de governo estarão presentes. Só os países que têm relações diplomáticas com o rival chinês Taiwan -Gâmbia, Maláui, Burkina Fasso, Suazilândia e São Tomé e Príncipe- não enviaram representantes.
Além das vantagens econômicas, o estreitamento das relações com a África pode aumentar a força de Pequim na ONU e em outras organizações internacionais, com a formação de um bloco pró-China.
Ontem autoridades chinesas e africanas pregaram a cooperação mútua e ressaltaram a "longa amizade". "A amizade entre China e África passou pelo teste dos tempos e das mudanças internacionais e tem imenso apoio popular", disse o vice-premiê chinês, Wu Yi.
As relações de Pequim com a África começaram nos anos 50, quando a China se apresentou como uma opção de parceiro antiimperialista. Mas foi na última década que as trocas comerciais atingiram a casa dos bilhões de dólares.

Críticas
Enquanto os governos africanos aplaudem a torrente de dinheiro que chega, críticos ocidentais acusam a China de fechar os olhos para casos notórios de corrupção e desrespeito aos direitos humanos, como o do Sudão. "A política da China não apenas legitimou alguns dos piores agressores dos direitos humanos como enfraqueceu os esforços de outros para promover o respeito a esses direitos", afirma a organização Human Rights Watch.
Ontem, a ONU culpou o governo sudanês pelo massacre de mais de 50 civis na conflituosa região de Darfur ocorrido nesta semana. Mas o presidente Omar al Bashir, na China, voltou a dizer que não aceita o envio de tropas da organização. "Se aceitarmos, o impacto será como o das forças no Iraque." A China se opõe à pretensão da ONU de impor sanções ao país, um de seus maiores fornecedores de petróleo.

Empréstimos
O Banco Mundial também diz temer que os empréstimos chineses ponham por terra as tentativas de acabar com os abusos. Com os acordos que devem ser fechados nos três dias de encontro, a China deve se tornar o maior credor da África. Só neste ano, ela se comprometeu a repassar mais de US$ 8 bilhões para Nigéria, Angola e Moçambique.
Na África, alguns empresários e sindicatos se queixam, respectivamente, da inundação do continente por produtos manufaturados de baixo custo, com o qual não podem competir, e das más condições de trabalho nas empresas chinesas que foram para lá.
Ontem o Ministério de Relações Exteriores rechaçou as críticas. "A África precisa da China, e a China precisa da África", disse o porta-voz Liu Jianchao. "Os governos e a população africanos apóiam fortemente as relações e expressam gratidão", afirmou. "Nenhum deles nos acusou de praticar neocolonialismo."
Após dizer que o Banco Mundial "não é o único que pode ajudar os países africanos", perguntou: "Quando a China está construindo estradas e escolas e providenciando infra-estrutura de saúde e tecnologia agrícola, estamos desrespeitando os direitos humanos? A população africana está se beneficiando dos projetos".


Com agências internacionais


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