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China atrai África com acordo econômico
Cúpula leva dirigentes de 48 países africanos a Pequim, que cobiça recursos naturais e mercado para produtos baratos
Comércio chega a US$ 50 bi; para críticos, país legitima governos que cometem abusos, enquanto Pequim diz levar desenvolvimento
DA REDAÇÃO
A China abre hoje um encontro com representantes de quase todos os países africanos,
num evento que pretende fortalecer a crescente relação comercial do país com o continente, rico em recursos naturais cobiçados, como petróleo,
ferro e cobre. É esperado o
anúncio de um pacote com medidas de desenvolvimento social e econômico, que incluiria
o perdão de dívidas.
Rejeitando críticas de que
promoveria um "neocolonialismo", o gigante econômico vem
se consolidando como grande
parceiro comercial da região.
Em dez anos, as trocas comerciais entre os dois se multiplicaram por dez, devendo chegar
a US$ 50 bilhões em 2006.
Dos 53 países africanos, 48
participarão do evento em Pequim -35 chefes de Estado e
seis chefes de governo estarão
presentes. Só os países que têm
relações diplomáticas com o rival chinês Taiwan -Gâmbia,
Maláui, Burkina Fasso, Suazilândia e São Tomé e Príncipe-
não enviaram representantes.
Além das vantagens econômicas, o estreitamento das relações com a África pode aumentar a força de Pequim na
ONU e em outras organizações
internacionais, com a formação
de um bloco pró-China.
Ontem autoridades chinesas
e africanas pregaram a cooperação mútua e ressaltaram a
"longa amizade". "A amizade
entre China e África passou pelo teste dos tempos e das mudanças internacionais e tem
imenso apoio popular", disse o
vice-premiê chinês, Wu Yi.
As relações de Pequim com a
África começaram nos anos 50,
quando a China se apresentou
como uma opção de parceiro
antiimperialista. Mas foi na última década que as trocas comerciais atingiram a casa dos
bilhões de dólares.
Críticas
Enquanto os governos africanos aplaudem a torrente de dinheiro que chega, críticos ocidentais acusam a China de fechar os olhos para casos notórios de corrupção e desrespeito
aos direitos humanos, como o
do Sudão. "A política da China
não apenas legitimou alguns
dos piores agressores dos direitos humanos como enfraqueceu os esforços de outros para
promover o respeito a esses direitos", afirma a organização
Human Rights Watch.
Ontem, a ONU culpou o governo sudanês pelo massacre
de mais de 50 civis na conflituosa região de Darfur ocorrido
nesta semana. Mas o presidente Omar al Bashir, na China,
voltou a dizer que não aceita o
envio de tropas da organização.
"Se aceitarmos, o impacto será
como o das forças no Iraque." A
China se opõe à pretensão da
ONU de impor sanções ao país,
um de seus maiores fornecedores de petróleo.
Empréstimos
O Banco Mundial também
diz temer que os empréstimos
chineses ponham por terra as
tentativas de acabar com os
abusos. Com os acordos que devem ser fechados nos três dias
de encontro, a China deve se
tornar o maior credor da África.
Só neste ano, ela se comprometeu a repassar mais de US$ 8 bilhões para Nigéria, Angola e
Moçambique.
Na África, alguns empresários e sindicatos se queixam,
respectivamente, da inundação
do continente por produtos
manufaturados de baixo custo,
com o qual não podem competir, e das más condições de trabalho nas empresas chinesas
que foram para lá.
Ontem o Ministério de Relações Exteriores rechaçou as
críticas. "A África precisa da
China, e a China precisa da
África", disse o porta-voz Liu
Jianchao. "Os governos e a população africanos apóiam fortemente as relações e expressam gratidão", afirmou. "Nenhum deles nos acusou de praticar neocolonialismo."
Após dizer que o Banco Mundial "não é o único que pode
ajudar os países africanos",
perguntou: "Quando a China
está construindo estradas e escolas e providenciando infra-estrutura de saúde e tecnologia
agrícola, estamos desrespeitando os direitos humanos? A
população africana está se beneficiando dos projetos".
Com agências internacionais
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