São Paulo, sábado, 04 de novembro de 2006

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No Congo, contradições feitas na China

PHILIPPE BERNARD
DO "MONDE", EM KINSHASA

Em meio à miséria do grande mercado de Kinshasa, capital do Congo, a loja do chinês Chen Iiaohua se assemelha a um oásis: é uma construção com vitrines coloridas e paredes de cimento. Do "creme dental alvejante" à cadeira de plástico, pode-se encontrar na loja tudo o que a China oferece às multidões africanas.
A loja atrai trabalhadores diaristas ocasionais que ganham a vida revendendo produtos adquiridos de Chen. Os chineses colocam a seu alcance vasta quantidade de artigos que não poderiam adquirir ao preço ocidental.
"Os chineses são populares porque vivem modestamente, como nós, e não tentam nos dar lições de moral", resume Gustave, um pai de família. "Os preços baixos de seus produtos têxteis praticamente destruíram a nossa indústria", contrapõe um economista.
A liderança congolesa sabe como extrair seu dízimo das importações, sem que o país se beneficie em nada desses desembolsos.
Os grandes projetos que a China vem financiando no Congo, país dotado de fabulosos recursos minerais, bem valem certos arranjos, porque o pequeno comércio não constitui mais que a banda visível do avanço chinês.
A operadora de telefonia chinesa Congo-China Telecom (CCT) capturou boa participação no mercado de telefonia móvel, com seus celulares de tarifas sem equivalentes. Em Katanga, o coração do setor mineral do país, empresas chinesas operando concessões se espalharam nos últimos dez anos.
As propostas chinesas de reformar a rede rodoviária e as ferrovias são levadas a sério. O desrespeito de Pequim pelos direitos humanos? "No nosso país, eles estavam sendo desrespeitados muito antes da chegada dos chineses", diz um dirigente congolês.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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