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Musharraf decreta estado de emergência
Ditador paquistanês suspende Constituição, destitui presidente da Suprema Corte e corta telefones e TV; Benazir volta ao país
Medida de general aliado dos EUA ameaça eleição ao Parlamento e ocorre às vésperas de decisão sobre legalidade de sua reeleição
DA REDAÇÃO
O ditador do Paquistão, Pervez Musharraf, declarou ontem
estado de emergência e suspendeu a Constituição, diante do
crescimento da violência e das
tensões políticas do país.
Em discurso na TV estatal,
horas depois, o general Musharraf disse que sua decisão é
uma resposta ao "apogeu do
terrorismo" no país e à "semiparalisia do governo" causada
pela interferência do Judiciário, que impediria a luta contra
os extremistas. "Não posso permitir que esse país cometa suicídio", disse o ditador, vestido
com roupas civis.
O chefe da Suprema Corte,
Iftikhar Chaudhry, e outros oito juízes recusaram o decreto
de estado de emergência. Eles
foram retirados por policiais do
tribunal e levados a suas casas,
que permaneciam cercadas.
Pela segunda vez, Chaudhry,
um dos principais líderes da
oposição ao ditador, foi destituído de seu cargo. Musharraf
anunciou Abul Hameed Dogar,
membro do tribunal pró-governo, como novo chefe de Justiça.
O estado de emergência parece ser uma tentativa de ditador de manter-se no poder às
vésperas de a Suprema Corte
decidir sobre a legalidade de
seu novo mandato, obtido em
outubro, mas posto em xeque
por ele ser também o líder do
Exército -o que a Constituição
paquistanesa veta.
A decisão ocorre em meio a
uma escalada de violência provocada por atentados terroristas -no mais grave, 139 pessoas
morreram em outubro durante
um ataque contra a ex-premiê
Benazir Bhutto.
Também é uma manobra,
analistas e oposicionistas afirmam, para adiar as eleições legislativas previstas para janeiro
de 2008. O ditador não fez
menção à data da eleição no
discurso na TV, embora tenha
insistido que quer levar o país
de volta à democracia.
Após o decreto, as TVs particulares saíram do ar, telefones
fixos e celulares foram cortados
e centenas de soldados foram
para as ruas. Líderes oposicionistas, entre eles o presidente
da associação dos advogados,
foram presos.
A ordem constitucional provisória posta em vigor prevê
que as Assembléias Federal e
das Províncias continuem trabalhando, mas os jornais e TVs
estão proibidos de publicar
qualquer "informação difamatória" sobre o ditador, a cúpula
do governo ou militares. Prevê
também que autoridades podem prender pessoas sem informar a elas do que estão sendo acusadas.
Reação externa
Em seu discurso na TV, Musharraf pediu compreensão aos
aliados ocidentais. "Procurem
entender a dramática situação
do Paquistão e da região. O país
está à beira da desestabilização", afirmou. "Por favor não
exijam ou esperem o nível de
direitos civis, direitos humanos
e liberdades civis que vocês levaram séculos para alcançar."
Antes, tanto EUA como Reino Unido já haviam criticado o
o estado de emergência. A Casa
Branca disse que a decisão do
ditador é "decepcionante". O
Paquistão é o principal aliado
de Washington na guerra ao
terror na região.
A secretária de Estado, Condoleezza Rice, disse à CNN que
a atitude de Musharraf é "altamente lamentável" e cobrou
um retorno rápido à democracia. O porta-voz do Pentágono
Geoff Morrell, afirmou, porém,
que a decisão não afeta o apoio
militar dos EUA ao país.
O chanceler britânico, David
Miliband, disse estar "imensamente preocupado" e afirmou
que a decisão ameaça o futuro
do Paquistão.
A ex-premiê Benazir Bhutto
-que havia voltado de um exílio de oito anos em outubro
após um acordo com Musharraf- estava em Dubai e chegou
a Karachi (sul) ontem logo após
o ocorrido. Foi escoltada até
sua casa. "Isso não é estado de
emergência, é lei marcial", disse ela, que cobrou a realização
de eleições livres.
Com agências internacionais
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