São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007

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Musharraf decreta estado de emergência

Ditador paquistanês suspende Constituição, destitui presidente da Suprema Corte e corta telefones e TV; Benazir volta ao país

Medida de general aliado dos EUA ameaça eleição ao Parlamento e ocorre às vésperas de decisão sobre legalidade de sua reeleição

DA REDAÇÃO

O ditador do Paquistão, Pervez Musharraf, declarou ontem estado de emergência e suspendeu a Constituição, diante do crescimento da violência e das tensões políticas do país.
Em discurso na TV estatal, horas depois, o general Musharraf disse que sua decisão é uma resposta ao "apogeu do terrorismo" no país e à "semiparalisia do governo" causada pela interferência do Judiciário, que impediria a luta contra os extremistas. "Não posso permitir que esse país cometa suicídio", disse o ditador, vestido com roupas civis.
O chefe da Suprema Corte, Iftikhar Chaudhry, e outros oito juízes recusaram o decreto de estado de emergência. Eles foram retirados por policiais do tribunal e levados a suas casas, que permaneciam cercadas.
Pela segunda vez, Chaudhry, um dos principais líderes da oposição ao ditador, foi destituído de seu cargo. Musharraf anunciou Abul Hameed Dogar, membro do tribunal pró-governo, como novo chefe de Justiça.
O estado de emergência parece ser uma tentativa de ditador de manter-se no poder às vésperas de a Suprema Corte decidir sobre a legalidade de seu novo mandato, obtido em outubro, mas posto em xeque por ele ser também o líder do Exército -o que a Constituição paquistanesa veta.
A decisão ocorre em meio a uma escalada de violência provocada por atentados terroristas -no mais grave, 139 pessoas morreram em outubro durante um ataque contra a ex-premiê Benazir Bhutto.
Também é uma manobra, analistas e oposicionistas afirmam, para adiar as eleições legislativas previstas para janeiro de 2008. O ditador não fez menção à data da eleição no discurso na TV, embora tenha insistido que quer levar o país de volta à democracia.
Após o decreto, as TVs particulares saíram do ar, telefones fixos e celulares foram cortados e centenas de soldados foram para as ruas. Líderes oposicionistas, entre eles o presidente da associação dos advogados, foram presos.
A ordem constitucional provisória posta em vigor prevê que as Assembléias Federal e das Províncias continuem trabalhando, mas os jornais e TVs estão proibidos de publicar qualquer "informação difamatória" sobre o ditador, a cúpula do governo ou militares. Prevê também que autoridades podem prender pessoas sem informar a elas do que estão sendo acusadas.

Reação externa
Em seu discurso na TV, Musharraf pediu compreensão aos aliados ocidentais. "Procurem entender a dramática situação do Paquistão e da região. O país está à beira da desestabilização", afirmou. "Por favor não exijam ou esperem o nível de direitos civis, direitos humanos e liberdades civis que vocês levaram séculos para alcançar."
Antes, tanto EUA como Reino Unido já haviam criticado o o estado de emergência. A Casa Branca disse que a decisão do ditador é "decepcionante". O Paquistão é o principal aliado de Washington na guerra ao terror na região.
A secretária de Estado, Condoleezza Rice, disse à CNN que a atitude de Musharraf é "altamente lamentável" e cobrou um retorno rápido à democracia. O porta-voz do Pentágono Geoff Morrell, afirmou, porém, que a decisão não afeta o apoio militar dos EUA ao país.
O chanceler britânico, David Miliband, disse estar "imensamente preocupado" e afirmou que a decisão ameaça o futuro do Paquistão.
A ex-premiê Benazir Bhutto -que havia voltado de um exílio de oito anos em outubro após um acordo com Musharraf- estava em Dubai e chegou a Karachi (sul) ontem logo após o ocorrido. Foi escoltada até sua casa. "Isso não é estado de emergência, é lei marcial", disse ela, que cobrou a realização de eleições livres.


Com agências internacionais


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