São Paulo, quarta-feira, 04 de novembro de 2009

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Antropólogo Lévi-Strauss
morre aos 100

Um dos mais importantes intelectuais do século 20, Lévi-Strauss é pai do estruturalismo e autor de "Tristes Trópicos'

Funeral e enterro já foram realizados discretamente, na França; Academia Francesa prestará uma homenagem amanhã

Éric Brochu
Claude Lévi-Strauss fotografado em escritório do Laboratório de Antropologia Social, no Collège de France, em Paris, em 1998

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss [pronuncia-se Clôde Lêvi Strôss] morreu na madrugada do último sábado para domingo, a menos de um mês do seu 101º aniversário.
O funeral e enterro do antropólogo já foram realizados discretamente, a pedido da família, que não queria a presença da imprensa, em Lignerolles, cidade no leste da França.
De acordo com Philippe Descola, professor do Collège de France, que substituiu Lévi-Strauss na direção do laboratório de antropologia social criado por ele, o antropólogo estava frágil. "Há dois anos ele fraturou o colo do fêmur. Depois disso, passou a ficar muito cansado", disse.
Seu filho Laurent disse ao "New York Times" que Lévi-Strauss morreu de ataque cardíaco.
Recluso no seu apartamento em Paris nos últimos anos de vida, Lévi-Strauss fazia raras aparições em público. Em 2008, para celebrar seu centenário, várias homenagens foram organizadas na França. O museu Quai Branly, dedicado às artes primitivas e do qual o antropólogo era curador honorário, realizou uma série de exposições e colóquios sobre a obra do mais influente etnólogo francês, mas ele não compareceu aos eventos.
O processo de envelhecer era algo que parecia incomodá-lo. "Para mim, hoje, existe um "eu" real, que não é mais um quarto ou mesmo a metade de um homem, e um "eu" virtual, que conserva uma ideia do todo. O "eu" virtual prepara um projeto de livro, começa a organizá-lo em capítulos e diz ao "eu" real : "Agora é a sua vez de continuar". E o "eu" real, que não consegue mais, diz ao "eu" virtual: "O problema é seu. Só você vê a totalidade". Minha vida agora se passa em meio a esse diálogo muito estranho ", disse no seu aniversário de 90 anos.
Esta, aliás, foi uma das poucas declarações feitas, ao longo desta década, por Lévi-Strauss.
Uma das últimas entrevistas do antropólogo foi concedida ao jornalista Didier Eribon no livro "De Près et de Loin" (de longe e de perto). Na ocasião, ele declarou que se interessava pelo budismo e mostrou o sentimento de incompatibilidade com os tempos atuais. "Caminhamos para uma civilização em escala mundial. Nela, provavelmente, aparecerão as diferenças. Não pertenço mais a esse mundo. O mundo que eu conheci, o mundo que eu amei, tinha 1,5 bilhão de pessoas. O mundo atual tem 6 bilhões de humanos. Não é mais o meu."

"Tristes Trópicos"
Filho de franceses, o antropólogo nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 1908. Tímido, era apaixonado por música clássica, especialmente óperas.
Lévi-Strauss lançou as bases da antropologia moderna. É considerado o pai do estruturalismo, cujas primeiras grandes linhas já podem ser entrevistas no seu trabalho mais célebre, "Tristes Trópicos", de 1955.
O antropólogo completaria 101 anos no próximo dia 28. A Academia Francesa fará homenagem amanhã.


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