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"Estruturalismo virou solução para tudo", diz francês
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia depoimento à Folha do
historiador François Dosse,
autor de "História do Estruturalismo" (em dois volumes,
Edusc). O francês está em São
Paulo para o lançamento de "O
Desafio Biográfico" (Edusp).
Claude Lévi-Strauss foi importante para a relação entre o
Brasil e a França e para a relação entre o Brasil e o Ocidente.
Tornou conhecidas todas as
comunidades indígenas com as
quais trabalhou como etnógrafo. "Tristes Trópicos" (1955) foi
um grande sucesso não somente para os estudiosos mas também para o grande público.
O livro fez tanto sucesso que
quase ganhou o prêmio Goncourt. Os responsáveis pelo
prêmio lamentaram que não
fosse um romance, pois isso teria permitido que ele fosse
agraciado.
Foi o momento da descoberta da alteridade, do outro, nos
anos 50. Em relação ao Ocidente, ao eurocentrismo, foi a descoberta de vários povos que vinham do colonialismo e afirmavam sua identidade. Há
uma tomada de consciência, de
descoberta de outras civilizações -incluindo as comunidades brasileiras.
Lévi-Strauss levou às ciências humanas um programa
que representava grande otimismo e que se tornou um modelo. Conjugou uma ciência piloto na época, a linguística, a
aplicações para as sociedades
humanas. Fez a ponte entre a
linguística e a antropologia.
Ele retomou o programa de
Émile Durkheim, do final do
século 19 e do início do 20, mas
com muito mais força, graças a
essa utilização da linguística.
Foi o introdutor de uma semiologia geral, de um estudo do
simbólico.
Estruturalismo
Com a "As Estruturas Elementares do Parentesco"
(1949), Lévi-Strauss fez todas
as ciências humanas sonharem
novamente. Demonstrou que
uma ciência humana -a antropologia- é capaz de uma realização que, em geral, está no domínio das ciências naturais: leis
gerais, universais. Mostrou que
a proibição do incesto vale para
todas as civilizações. Esse fato
foi inspirador, tornou-se um
modelo para todas as ciências
sociais, levou ao que ficou conhecido como estruturalismo.
Lévi-Strauss criou um programa que ultrapassou a antropologia, valeu para todas as disciplinas. O estruturalismo foi
tão poderoso nos anos 60 que
até o técnico da equipe francesa
de futebol, então em crise, disse
que reorganizaria a equipe de
maneira estruturalista... O estruturalismo virou uma solução para todos os problemas.
Criador de novo modelo
Lévi-Strauss foi o responsável por criar o paradigma do estruturalismo, de que as pessoas
não são realmente conscientes
daquilo que fazem. Elas "funcionam" de acordo com regras,
por lógicas que não dominam.
Outro papel importante foi
mudar a concepção histórica de
que havia povos atrasados. Ele
contestou a noção de sociedades primitivas. Isso foi uma
mudança muito importante em
relação às teses racistas, em relação a uma certa concepção
eurocêntrica da história.
Há pouco festejamos o centenário de Lévi-Strauss na França. Isso mostra que ele permanece uma figura central. Acho
que isso voltará a ocorrer agora,
será a celebração de uma figura
humana muito importante para a cultura francesa.
Mas, para o momento atual
da vida intelectual francesa, o
paradigma estruturalista já está ultrapassado. Mesmo assim,
há descobertas que foram fecundas e que permanecem.
Não lemos mais os textos como
antes, a concepção da historicidade mudou. Há avanços do estruturalismo incontestáveis
que precisam ser revitalizados.
Mas, hoje, há orientações que
privilegiam fenômenos de individuação, de subjetividade.
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