São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2010

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ANÁLISE

É muito cedo para decretar o fim de Obama

Clinton, em 1994, teve derrota ainda maior que a de agora, reergueu-se, foi reeleito e terminou bem o mandato

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE SÃO PAULO

Há dois anos, quando Barack Obama foi eleito, não faltou quem, de modo apressado (como agora se comprova), decretasse a morte do Partido Republicano e do movimento conservador na política americana.
É conveniente, diante dos resultados das eleições de metade de mandato de anteontem, ser cauteloso e não imaginar que o governo Obama está encerrado e que acabaram suas chances de reeleger-se em 2012.
Em 1994, Bill Clinton passou por situação até pior que a de Obama: os republicanos ganharam a maioria na Câmara (pela primeira vez em 40 anos) e Senado. E Clinton não tinha cumprido nenhuma promessa de campanha.
O começo da convivência de Clinton com um Congresso hostil foi muito difícil.
Durante 25 dias em 1995, a administração pública federal americana ficou parada porque não se chegava a um acordo sobre o Orçamento.
Mas Clinton e o presidente da Câmara dos Representantes de então, Newt Gingrich, conseguiram se entender e levaram o país a uma situação rara em sua história, com superavits orçamentários entre 1996 e 2000.
Em 1996, Clinton se reelegeu sem grandes dificuldades e, apesar de ter sofrido um processo de impeachment que por um triz não o tirou do poder (por causa de suas estripulias no Salão Oval), acabou o governo com altos índices de aprovação.

DIVISÃO DEMOCRATA
Nada impede que Obama também se saia bem na Presidência, apesar de seu partido ser minoritário (só na Câmara, por sinal).
Para isso, no entanto, ele sem dúvida terá de provocar uma inflexão em suas políticas e também (talvez especialmente) na retórica.
Clinton não teve grande dificuldade em se aproximar do centro no espectro ideológico americano. Ele sempre estivera mais ou menos ali.
Conteve os setores mais à esquerda do partido com naturalidade e prazer.
Obama parece ter mais problemas para fazer esse movimento.
O Partido Democrata está mais dividido agora do que há 16 anos entre liberais (a esquerda) e conservadores. A desilusão dos liberais com o presidente que lhes prometera muito mais do que poderia entregar é enorme.
Mas Obama é um pragmático, acima de tudo. E extremamente frio. Fará o necessário para sobreviver e acumular capital para disputar a reeleição.
Uma das providências mais urgentes é ganhar a confiança dos empresários.
Um dos motivos principais por que a recuperação da economia dos EUA tem sido letárgica é a falta de investimentos do setor privado.
As reservas acumuladas pelas 500 maiores empresas não financeiras do país nestes dois anos são as maiores em 50 anos.
Totalizam quase US$ 2 trilhões. Mas elas não investem quase nada.
Por quê? Em boa medida, porque não se sentem seguros quanto ao que a administração Obama vai fazer em termos de regulação de suas atividades, além de política fiscal e tributária.
O presidente terá de mostrar serviço para reduzir o deficit público, acelerar exportações, convencer a comunidade de negócios a voltar a investir e os aliados a pararem de sangrá-lo por dentro. Não é fácil. Mas se Clinton conseguiu, por que não ele?


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