São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2010

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Para democratas, economia explica revés

Partido governista não assume parcela de culpa pela perda de espaço para republicanos no Congresso dos EUA

Para analistas, partido e Obama têm dificuldade para se comunicar com eleitor desalentado com alto desemprego

LUCIANA COELHO
DE BOSTON

O Partido Democrata admitiu ontem a derrota nas eleições legislativas da véspera, mas não assumiu sua parcela de culpa e atribuiu o desempenho apenas à economia e à intransigência republicana no Congresso.
Uma das razões apontadas por analistas para o fiasco governista na votação é a dificuldade do partido e do presidente Barack Obama de se comunicar com um eleitorado desalentado pelo desemprego e pelo estrangulamento do crédito habitacional.
"Não acho que Obama tenha exposto bem suas metas nem deixado claro por que o rumo que tomou é o melhor para o americano apartidário médio", disse Charles Stewart 3º, chefe do departamento de ciência política do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). "Algumas das suas políticas econômicas mais importantes passaram despercebidas."
Ele afirma que o pragmatismo de Obama o aprisionou, enquanto os republicanos tiraram proveito ao exacerbarem a irritação pública. "Ele deveria ter sido mais enfático ao criticar os bancos pela crise e a petroleira BP pelo vazamento na Flórida."
No comunicado assinado ontem pelo presidente do partido, Tim Kaine, o momento mais próximo de um mea-culpa é a afirmação de que o recado das urnas diz que "as mudanças não têm sido rápidas o bastante".
Para Elaine Kamarck, da Universidade Harvard, Obama perdeu o foco e interpretou mal seu mandato, ignorando os votos da maioria moderada -37% dos eleitores se declaram apartidários- ao alçar como prioridade maior a reforma da saúde.

RAZÕES PARA A DERROTA
O partido, que saiu fortalecido das eleições de 2008, enfrentou vários percalços desta vez. A economia avariou a popularidade de Obama, que está em pouco mais de 40%.
Analistas colocam os dois fatores como determinantes para prever o avanço da oposição no Congresso. E, para os democratas, cuja plataforma se distancia dos republicanos sobretudo na defesa de um Estado mais ativo, o impacto acaba sendo maior.
Além disso, a série histórica mostra que o partido do governo perde assentos em qualquer eleição de meio de mandato, a menos que pesem circunstâncias especiais (como o 11 de Setembro).
Há ainda um descontentamento geral com o "status quo", exposto em pesquisas que mostram a preferência dos eleitores por políticos novatos, sem carreira no Congresso, e em um índice de aprovação para a atual legislatura abaixo dos 30%.
Para complicar, em 2008 os democratas conquistaram muitas cadeiras em regiões predominantemente republicanas, que seriam difíceis de manter, lembra em artigo Frank Newport, do Gallup.
O partido precisará agora redefinir prioridades -o que fica difícil sem admitir erros.
Contra, pesará um Congresso republicano que promete entravar a maior parte dos projetos de Obama.
A favor, há a demografia, já que a fatia mais jovem do eleitorado e as minorias, em crescimento, se inclinam naturalmente ao partido.
Como o voto nos EUA não é obrigatório, porém, é preciso antes de tudo motivá-los a irem às urnas. Não foi o que aconteceu agora.


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