São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Bagdá diz que dará declaração de armas à ONU no sábado, um dia antes do prazo; Turquia libera bases aos EUA

ONU faz visita surpresa a palácio de Saddam

DA REDAÇÃO

Em visita surpresa, a equipe de inspetores da ONU que está no Iraque foi ontem pela primeira vez a um palácio do ditador Saddam Hussein. No mesmo dia, Bagdá anunciou que irá submeter a declaração sobre seus programas de armas de destruição em massa no sábado, um dia antes do prazo imposto pelo Conselho de Segurança da ONU.
No campo diplomático, a Turquia anunciou ontem que permitirá a utilização de suas bases pelos EUA para uma possível ofensiva contra o Iraque.
A visita ao palácio de Al Sojoud está sendo considerada o mais importante teste da cooperação de Bagdá com a ONU desde que as inspeções foram reiniciadas, há uma semana. As visitas a palácios de Saddam, durante as inspeções dos anos 90, eram um dos principais entraves nas relações entre o governo iraquiano e a ONU.
"Abram os portões, nós queremos entrar", disse um dos inspetores diante do palácio presidencial. "Não podemos, estamos aguardando ordens", respondeu um dos guardas. Sete minutos após o protesto dos inspetores, os portões foram abertos.
O Conselho de Segurança da ONU exige que o Iraque não imponha nenhum obstáculo ao acesso imediato dos inspetores a qualquer local a ser visitado.
Os inspetores deixaram o palácio após quase duas horas, sem falar com os jornalistas. Não foi divulgado o que eles encontraram.
No dia anterior, a ONU informou que equipamentos haviam desaparecido de uma instalação militar. O chefe de inspetores da ONU, Hans Blix, disse que Bagdá precisa explicar melhor como esses equipamentos foram removidos para outras instalações. O Iraque afirma ainda que parte foi destruída em ataque dos EUA.
Segundo Blix, porém, até agora as autoridades iraquianas não têm colocado obstáculos aos inspetores. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse que ainda não recebeu nenhum relatório dos inspetores. "Essa é uma boa indicação de que os iraquianos estão cooperando."
Annan não comentou a declaração do presidente dos EUA, George W. Bush, feita anteontem, segundo a qual "as inspeções no Iraque não são animadoras".

Prazo final
Um comunicado oficial do governo iraquiano afirmou ontem que Bagdá irá submeter uma declaração de todos os seus programas de desenvolvimento de armas nucleares no dia 7 -o Conselho de Segurança da ONU havia dado prazo até o dia 8.
Hussam Mohammed Amin, diretor do Conselho de Monitoramento Nacional Iraquiano, disse que não haverá grandes novidades na declaração. "Claro que haverá novos elementos. Mas eles não irão necessariamente incluir uma declaração sobre a presença de armas de destruição em massa", disse.
"Nós somos um país desprovido de armas de destruição em massa. Esse é um fato sabido por todos os países, inclusive os EUA e o Reino Unido", afirmou.
Bush afirmou anteontem que o Iraque precisa submeter uma lista crível e completa para não enfrentar uma ofensiva militar dos EUA.
Analistas afirmam que Saddam pode fazer surpreendentes revelações, mas que serão consideradas insuficientes para os EUA e o Reino Unido. A lista, porém, pode bastar para evitar um ataque imediato, dando mais tempo para que a equipe da ONU trabalhe.
O premiê do Reino Unido, Tony Blair, e o subsecretário da Defesa dos EUA, Paul Wolfowitz, disseram ontem que uma guerra contra o Iraque não é inevitável.
"Tudo depende do que Saddam fizer", afirmou Blair. "Nosso objetivo é conseguir o desarmamento do Iraque pacificamente, voluntariamente, se possível, ou pela força, se necessário", disse Wolfowitz na Turquia, onde se reuniu o ministro das Relações Exteriores turco, Yasar Yakis.
O chanceler da Turquia afirmou que o país irá permitir que os americanos utilizem as bases militares do país, caso a ONU aprove uma resolução para uma ofensiva contra o Iraque. "Nós somos contra a guerra, mas, se ela for inevitável, então, com certeza, iremos cooperar com os EUA, pois os americanos são grandes aliados", disse Yakis. Em troca do apoio turco, os EUA prometem ajuda financeira ao país e pressionam a União Européia a aceitar a Turquia como membro.
A Turquia é o único país muçulmano na Otan (aliança militar ocidental liderada pelos EUA) e faz fronteira com o Iraque. No mês passado, um partido islâmico moderado venceu as eleições parlamentares no país.
O Kuait acusou o Iraque de disparar contra duas embarcações do país em águas kuaitianas. Bagdá não comentou o incidente.


Com agências internacionais


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