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GEOPOLÍTICA
Para analistas, visita à China e à Índia é tentativa russa de forjar contrapesos à hegemonia global americana
Putin vai à Ásia em ofensiva diplomática
DA REDAÇÃO
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chegou ontem à Índia
para se encontrar com o premiê
Atal Vajpayee, na última escala de
uma viagem pela Ásia iniciada na
China, na segunda-feira. Numa
de suas maiores ofensivas diplomáticas deste ano, Putin assinou
contratos de cooperação com os
chineses e pretende, na Índia, tratar da venda de armas.
Especialistas consultados pela
Folha afirmaram que o maior objetivo do presidente russo nessa
empreitada tem sido forjar alianças que sirvam de contrapeso à
hegemonia mundial dos EUA. Ele
faria isso a partir de políticas conjuntas específicas com seus aliados, sem entretanto entrar em
choque direto com Washington.
Em Pequim, Putin se encontrou
com o presidente chinês, Jiang
Zemin. Após a assinatura de acordos comerciais e de segurança, os
dois fizeram declarações defendendo um "mundo multipolar" e
lembrando que seus países são
"civilizações singulares no mundo", com a responsabilidade de
promover a segurança global.
Numa conferência na Universidade de Pequim, o presidente russo explicou que Moscou pode se
aproximar da Otan (aliança militar liderada pelos EUA), mas deve
manter a capacidade de proteger
seus próprios interesses.
"Os líderes dos maiores países
da Otan vêm falando sobre a necessidade de transformar a organização, mudando as suas prioridades e as suas atividades", disse
Putin, referindo-se à nova doutrina de combate ao terrorismo e às
armas de destruição em massa.
"Se essa transformação realmente acontecer, poderemos colaborar com a Otan. Mas devo dizer que nossas posições em relação a questões-chave da política
internacional nem sempre coincidem. Nessas questões, defenderemos nossos interesses", completou, sem entretanto dar detalhes
de como faria essa defesa.
Pequim e Moscou defenderam,
também conjuntamente, uma solução diplomática para as crises
com a Coréia do Norte e com o
Iraque -os EUA dizem que esses
dois países têm armas de destruição em massa.
Índia
Na Índia, país aliado de Moscou
desde a era soviética, o mandatário russo vai tratar de acordos que
incluem até a venda de um porta-aviões e o arrendamento de dois
submarinos nucleares.
Esse acesso ao arsenal russo desagrada muito ao Paquistão,
maior rival regional de Nova Déli
e com quem os indianos dividem
a disputada região da Caxemira.
"Putin deliciou os ouvidos de
Vajpayee dizendo tudo o que o
premiê queria ouvir: que os separatistas da Caxemira são perigosos extremistas islâmicos e que o
Paquistão tem de ser vigiado, por
não ser confiável", afirmou Andrés Martin, cientista político da
Universidade de Nova York.
Para o presidente russo, o Paquistão -que está sob suspeita
de ter fornecido tecnologia nuclear para a Coréia do Norte-
tem de tomar medidas de precaução mais firmes para que "armas
de destruição em massa não
caiam nas mãos de terroristas".
Martin lembra que o esforço de
forjar um contrapeso à hegemonia americana vem de julho de
2001, quando Rússia e China assinaram um acordo de amizade
que colocou fim a quase 50 anos
de relações tensas -Moscou e
Pequim foram adversários ao longo de boa parte da Guerra Fria.
Com agências internacionais
Colaborou Rodrigo Uchôa
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