São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

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GEOPOLÍTICA

Para analistas, visita à China e à Índia é tentativa russa de forjar contrapesos à hegemonia global americana

Putin vai à Ásia em ofensiva diplomática

DA REDAÇÃO

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chegou ontem à Índia para se encontrar com o premiê Atal Vajpayee, na última escala de uma viagem pela Ásia iniciada na China, na segunda-feira. Numa de suas maiores ofensivas diplomáticas deste ano, Putin assinou contratos de cooperação com os chineses e pretende, na Índia, tratar da venda de armas.
Especialistas consultados pela Folha afirmaram que o maior objetivo do presidente russo nessa empreitada tem sido forjar alianças que sirvam de contrapeso à hegemonia mundial dos EUA. Ele faria isso a partir de políticas conjuntas específicas com seus aliados, sem entretanto entrar em choque direto com Washington.
Em Pequim, Putin se encontrou com o presidente chinês, Jiang Zemin. Após a assinatura de acordos comerciais e de segurança, os dois fizeram declarações defendendo um "mundo multipolar" e lembrando que seus países são "civilizações singulares no mundo", com a responsabilidade de promover a segurança global.
Numa conferência na Universidade de Pequim, o presidente russo explicou que Moscou pode se aproximar da Otan (aliança militar liderada pelos EUA), mas deve manter a capacidade de proteger seus próprios interesses.
"Os líderes dos maiores países da Otan vêm falando sobre a necessidade de transformar a organização, mudando as suas prioridades e as suas atividades", disse Putin, referindo-se à nova doutrina de combate ao terrorismo e às armas de destruição em massa.
"Se essa transformação realmente acontecer, poderemos colaborar com a Otan. Mas devo dizer que nossas posições em relação a questões-chave da política internacional nem sempre coincidem. Nessas questões, defenderemos nossos interesses", completou, sem entretanto dar detalhes de como faria essa defesa.
Pequim e Moscou defenderam, também conjuntamente, uma solução diplomática para as crises com a Coréia do Norte e com o Iraque -os EUA dizem que esses dois países têm armas de destruição em massa.

Índia
Na Índia, país aliado de Moscou desde a era soviética, o mandatário russo vai tratar de acordos que incluem até a venda de um porta-aviões e o arrendamento de dois submarinos nucleares.
Esse acesso ao arsenal russo desagrada muito ao Paquistão, maior rival regional de Nova Déli e com quem os indianos dividem a disputada região da Caxemira.
"Putin deliciou os ouvidos de Vajpayee dizendo tudo o que o premiê queria ouvir: que os separatistas da Caxemira são perigosos extremistas islâmicos e que o Paquistão tem de ser vigiado, por não ser confiável", afirmou Andrés Martin, cientista político da Universidade de Nova York.
Para o presidente russo, o Paquistão -que está sob suspeita de ter fornecido tecnologia nuclear para a Coréia do Norte- tem de tomar medidas de precaução mais firmes para que "armas de destruição em massa não caiam nas mãos de terroristas".
Martin lembra que o esforço de forjar um contrapeso à hegemonia americana vem de julho de 2001, quando Rússia e China assinaram um acordo de amizade que colocou fim a quase 50 anos de relações tensas -Moscou e Pequim foram adversários ao longo de boa parte da Guerra Fria.


Com agências internacionais


Colaborou Rodrigo Uchôa


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