São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

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PESQUISA

Médicos Sem Fronteiras busca drogas para males ignorados por farmacêuticas

ONG ataca doenças negligenciadas

DA SUCURSAL DO RIO

A organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) pretende incentivar, nos próximos 12 anos, a pesquisa de drogas para doenças chamadas negligenciadas. A MSF, Nobel da Paz de 1999, apresentou o plano ontem no Rio, em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), a cerca de 80 especialistas brasileiros e estrangeiros.
São doenças como malária, Chagas e tuberculose, entre outras, que, por serem típicas de países mais pobres, não interessam às grandes indústrias farmacêuticas de Europa, EUA e Japão.
O projeto da MSF chama-se DNDi, sigla em inglês para iniciativa de drogas para doenças negligenciadas, e contará, no início, com recursos de US$ 20 milhões para os dois próximos anos.
Por um período de 12 anos, a meta é ter um orçamento anual de US$ 25 milhões, que deve ser otimizado utilizando a estrutura já existente de organismos interessados nas pesquisas.
O Brasil participará da iniciativa por meio da Fiocruz, órgão do Ministério da Saúde que desenvolve pesquisas e medicamentos para combater doenças comuns. A fundação já participa, atualmente, de um projeto da DNDi para desenvolver dois medicamentos de combate à malária.
Na conferência de apresentação da DNDi foram discutidos dados de um relatório preparado pela MSF que mostra que apenas 1% das 1.393 novas drogas aprovadas entre 1975 e 1999 no mundo eram especificamente indicadas para doenças tropicais, como Chagas, malária e tuberculose.
A conferência no Rio, que será encerrada hoje, discutirá o caso de três doenças com essa classificação: doença de Chagas, leishmaniose e a doença-do-sono.
Pesquisadores que trabalharam no relatório fizeram também uma pesquisa com 11 das 20 maiores indústrias farmacêuticas do mundo. A pesquisa mostrou que oito delas nada gastaram no último ano fiscal com o desenvolvimento de drogas contra a doença-do-sono, a leishmaniose e a doença de Chagas.
O relatório cita dados de um estudo da associação de fabricantes e pesquisadores farmacêuticos dos EUA que mostra que, em 2000, dos 137 remédios para doenças infecciosas que se encontravam em processo de desenvolvimento, apenas um era indicado para a doença-do-sono e outro para malária. Nenhum remédio era indicado para leishmaniose ou tuberculose.


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