São Paulo, segunda-feira, 04 de dezembro de 2006

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Ambos os lados estimulam as teorias de conspiração

DO ENVIADO A CARACAS

O vídeo começou a circular no sábado e mostra o general Juan Vicente Paredes Torrealba, comandante militar do Estado de Zulia, de onde vem o candidato da oposição, Manuel Rosales. Está sentando com outros militares e exibe à câmera um calhamaço de folhetos que seu serviço de inteligência diz ter apreendido.
Nele, há um chamado para a "Grande Marcha contra a Fraude", marcada para o dia 5, amanhã, que sairia da praça Altamira, na zona leste, mesmo centro da oposição de onde saiu o apoio popular ao golpe de Estado frustrado de 2002. O destino seria o Palácio Presidencial de Miraflores. Quem assina: "Presidente da Republicana Bolivariana de Venezuela, Manuel Rosales".
O documento é apócrifo, mas serve como símbolo do clima de denúncias, teorias de conspiração e supostos planos de golpe em marcha que tomaram o país no dia da eleição. O venezuelano presta atenção a todos. Não por paranóia coletiva, mas pelo exemplo histórico _é a quarta eleição ou referendo em oito anos que decide o destino do presidente, que já foi autor e vítima de tentativa de golpe_ e pelo discurso do medo que é estimulado igualmente por governo e oposição.
Na semana passada, o presidente Hugo Chávez disse que seu serviço de inteligência desbaratou um suposto complô para assassinar seu oponente. Manuel Rosales respondeu que teria sofrido duas emboscadas durante a campanha, preparadas por grupos "armados pelo oficialismo".
Outro tema constante a dominar as conversas é a suposta pouca confiabilidade do sistema eleitoral. Gustavo Coronel, diretor da estatal de petróleo pré-Hugo Chávez e hoje da oposição, realizou um estudo a respeito para o conservador Cato Institute, de Washington. No texto, denuncia que o sistema venezuelano registra 39 mil eleitores com mais de 100 anos e 62 pessoas com o mesmo nome e data de nascimento.
Denúncia semelhante fez Ana Julia Jatar, autora do livro "Apartheid do Século 21", a Andres Oppenheimer, do "Miami Herald". Segundo ela, Chávez tem o maior mecanismo de intimidação eletrônica do continente. "Hoje, o governo pode cruzar bancos de dados e saber tudo sobre os mais de 15 milhões de eleitores", disse ela ao colunista. "Se você é um oposicionista e compra um relógio caro, eles mandam fiscais do imposto de renda atrás de você."
A principal suspeita é a tecnologia das urnas eletrônicas, especialmente da máquina de identificação por impressão digital, igual à usada nos aeroportos norte-americanos. Chamada aqui de "cazahuellas" (rastreadora), foi incorporada ao processo para evitar o voto duplo. Para muitos venezuelanos, porém, é truque dos chavistas que permite saber os que não votaram no presidente _e depois persegui-los. (SD)

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