São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2007

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Governo perdeu votos entre partidários

Número de eleitores que votaram a favor da reforma é inferior à quantidade de filiados do partido de Chávez, o PSUV

Presidente foi derrotado em Estados mais urbanizados; para analista, rejeição social é ainda maior do que os números vistos nas urnas

DE CARACAS

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, obteve no referendo de anteontem menos votos do que o número de militantes filiados ao recém-criado Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Ao longo da campanha de recrutamento realizada no primeiro semestre do ano, o PSUV registrou cerca de 5,32 milhões de inscritos, o equivalente a 33% dos 16 milhões de eleitores do país.
Com cerca de 90% dos votos apurados da votação de anteontem, 4.379.392 eleitores marcaram "sim" ao bloco B do referendo sobre a reforma constitucional. Os eleitores em favor do bloco A, que incluía a reeleição indefinida, foram um pouco menos numerosos: 4.335.136. Mesmo se todos os votos ainda não apurados fossem pelo "sim", não seria possível alcançar o número de militantes do PSUV.
Uma mapa preliminar dos resultados por região obtidos pela Folha revela que Chávez perdeu nos Estados que possuem as maiores concentrações urbanas: Distrito Capital (52,41%), Carabobo (52,82%) e Zulia (56,94%). Em Caracas, Chávez foi derrotado pela primeira vez em dois redutos tradicionais, os distritos pobres de Caricuao e Cátia.
A maior vantagem do governo foi no quase despovoado Estado de Amazonas, onde o "sim" recebeu 65,76% dos votos válidos, seguido pelo Estado de Portuguesa (63,08%).
Todos esses dados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) se referem apenas à resposta sobre o bloco A.
Para Luis Vicente León, diretor do respeitado instituto Datanálisis, vários motivos explicam a derrota de Chávez -a primeira em dez eleições disputadas desde a sua primeira vitória presidencial, em 1998.
"Essa diferença de 1,4 ponto percentual reflete o que foi a votação, mas não o que foi o país. O nível de rejeição é bem maior do que o visto nas urnas. Houve, sem dúvida, uma parte muito importante do chavismo que não votou, e não votou porque não estava de acordo com a proposta. E, para não ir contra o seu líder, tampouco votou "não'", disse à Folha ontem.
Para León, cujo instituto previu uma vitória de dez pontos percentuais do "não", o "problema fundamental foi o fechamento da RCTV", popular emissora de TV oposicionista cuja concessão não foi renovada, em maio. "É a primeira vez que ele entra na base do chavismo e comete uma arbitrariedade contra ela." Segundo o analista, a medida fez com que aparecesse a percepção de que Chávez poderia agir de forma impopular e autoritária.
León afirma que várias mudanças contidas na reforma constitucional foram rejeitadas pela maioria, principalmente a limitação da propriedade privada, a reeleição indefinida, a concentração de poderes na área econômica e as mudanças nas Forças Armadas, que passariam a ser "bolivarianas e antiimperialistas".
O analista também vê como bem-sucedida a estratégia da oposição de atacar a proposta, e não o presidente. Outro fator importante, diz, foi o surgimento do movimento estudantil. "É como um mensageiro que cruza verticalmente todos os segmentos da oposição." (FM)


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