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Governo perdeu votos entre partidários
Número de eleitores que votaram a favor da reforma é inferior à quantidade de filiados do partido de Chávez, o PSUV
Presidente foi derrotado em Estados mais urbanizados; para analista, rejeição social é ainda maior do que os números vistos nas urnas
DE CARACAS
O presidente venezuelano,
Hugo Chávez, obteve no referendo de anteontem menos votos do que o número de militantes filiados ao recém-criado
Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Ao longo da
campanha de recrutamento
realizada no primeiro semestre
do ano, o PSUV registrou cerca
de 5,32 milhões de inscritos, o
equivalente a 33% dos 16 milhões de eleitores do país.
Com cerca de 90% dos votos
apurados da votação de anteontem, 4.379.392 eleitores
marcaram "sim" ao bloco B do
referendo sobre a reforma
constitucional. Os eleitores em
favor do bloco A, que incluía a
reeleição indefinida, foram um
pouco menos numerosos:
4.335.136. Mesmo se todos os
votos ainda não apurados fossem pelo "sim", não seria possível alcançar o número de militantes do PSUV.
Uma mapa preliminar dos
resultados por região obtidos
pela Folha revela que Chávez
perdeu nos Estados que possuem as maiores concentrações urbanas: Distrito Capital
(52,41%), Carabobo (52,82%) e
Zulia (56,94%). Em Caracas,
Chávez foi derrotado pela primeira vez em dois redutos tradicionais, os distritos pobres de
Caricuao e Cátia.
A maior vantagem do governo foi no quase despovoado Estado de Amazonas, onde o
"sim" recebeu 65,76% dos votos válidos, seguido pelo Estado de Portuguesa (63,08%).
Todos esses dados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE)
se referem apenas à resposta
sobre o bloco A.
Para Luis Vicente León, diretor do respeitado instituto Datanálisis, vários motivos explicam a derrota de Chávez -a
primeira em dez eleições disputadas desde a sua primeira
vitória presidencial, em 1998.
"Essa diferença de 1,4 ponto
percentual reflete o que foi a
votação, mas não o que foi o
país. O nível de rejeição é bem
maior do que o visto nas urnas.
Houve, sem dúvida, uma parte
muito importante do chavismo
que não votou, e não votou porque não estava de acordo com a
proposta. E, para não ir contra
o seu líder, tampouco votou
"não'", disse à Folha ontem.
Para León, cujo instituto
previu uma vitória de dez pontos percentuais do "não", o
"problema fundamental foi o
fechamento da RCTV", popular emissora de TV oposicionista cuja concessão não foi renovada, em maio. "É a primeira
vez que ele entra na base do
chavismo e comete uma arbitrariedade contra ela." Segundo o analista, a medida fez com
que aparecesse a percepção de
que Chávez poderia agir de forma impopular e autoritária.
León afirma que várias mudanças contidas na reforma
constitucional foram rejeitadas pela maioria, principalmente a limitação da propriedade privada, a reeleição indefinida, a concentração de poderes na área econômica e as mudanças nas Forças Armadas,
que passariam a ser "bolivarianas e antiimperialistas".
O analista também vê como
bem-sucedida a estratégia da
oposição de atacar a proposta, e
não o presidente. Outro fator
importante, diz, foi o surgimento do movimento estudantil. "É como um mensageiro
que cruza verticalmente todos
os segmentos da oposição."
(FM)
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