São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2007

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entrevista

Oposição mudou tática "estúpida"

DE CARACAS

Apesar da chamada nova oposição venezuelana ter saído como a grande vitoriosa no referendo de anteontem, a primeira derrota do presidente Hugo Chávez tem sido atribuída também à posição histórica de um antigo líder oposicionista, Teodoro Petkoff. Na oposição e também fora dela, o ex-guerrilheiro de 75 anos sempre defendeu a opção pelo voto. Em abril de 2002, quando a maior parte da oposição da época se envolveu na frustrada tentativa de golpe de Estado, Petkoff marcou distância ao criticar a ruptura democrática. Em dezembro de 2005, novamente Petkoff rompeu com a posição majoritária ao criticar duramente o boicote às eleições parlamentares. Hoje, a decisão é considerada um erro, pois deixou o Parlamento nas mãos do chavismo. Sobre o referendo, o antigo dirigente diz que foi uma grande derrota ao projeto "neototalitário" de Chávez, mas que ainda virão anos tumultuados pela frente. Leia a entrevista concedida ontem à Folha na redação do "Tal Cual", diário oposicionista que dirige da capital venezuelana. (FM)

 

FOLHA - Como fica a Venezuela após o referendo?
TEODORO PETKOFF -
Todos nós colocamos a mão no peito com muita força contra Chávez. O seu projeto de uma Venezuela neototalitária sofreu um revés importante. Ele vai tentar seguir adiante com esse projeto, mas obviamente sai politicamente debilitado, e a oposição sai politicamente fortalecida.
Vamos ter anos tempestuosos, conflituosos, como sempre, mas acredito que a oposição esteja em condições de enfrentá-los de uma forma muito melhor do que agora. Houve uma reconfiguração da oposição, surgiram dois novos partidos, Um Novo Tempo e Primeiro Justiça, como referência no lugar dos velhos partidos. O Podemos [partido recém-rompido com Chávez] obviamente contribui para a oposição, e personalidades como o general Raúl Isaías Baduel obviamente anunciam uma nova oposição muito mais no centro.

FOLHA - Chávez disse que perdeu "por agora". Ele vai querer entregar a faixa em 2013?
PETKOFF -
A parte mais importante do projeto da reforma era que ele permanecesse no poder indefinidamente. Ele tentará por outros meios, mas agora está em piores condições do que antes.

FOLHA - Com o resultado de anteontem, o sr. acha que acabou esse debate quase eterno da oposição sobre participar ou não de eleições sob Chávez?
PETKOFF -
Você sabe que já se disse que há duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana. Sempre haverá estúpidos, mas espero que eles tenham saído desse processo suficientemente aporrinhados para entender que a política abstencionista é a coisa mais estúpida e mais inútil que existe como oposição política aqui na Venezuela.


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