São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

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Milhares na Índia pedem ação no Paquistão

Maior marcha em Mumbai após atentados protesta contra país vizinho, que nega envolvimento em ataques, e políticos indianos

Pesquisa de TV local aponta que maioria no país quer resposta militar contra rival; governo atual, considerado tíbio, também é criticado

Saraubh Das/Associated Press
Indianos protestam contra o vizinho Paquistão em Mumbai, em manifestação que reuniu diferentes grupos sociais e religiosos

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A MUMBAI

"Guerra ao Paquistão", "Paquistaneses ladrões" e "Vergonha dos políticos" foram as palavras de ordem mais gritadas ontem na maior manifestação de protesto em Mumbai (antiga Bombaim) após os atentados que mataram 172 pessoas na semana passada.
Cerca de 100 mil pessoas marcharam pelas estreitas ruas do rico bairro de Colaba, segundo estimativas da polícia local, até o Portal da Índia, em frente ao hotel Taj Mahal, onde mais de 500 pessoas foram feitas reféns por cerca de 62 horas.
O crescente tom de raiva na Índia, que prevaleceu durante todo o protesto, aumenta a pressão sobre o moderado premiê Manmohan Singh, criticado por ser "fraco" em relação ao terrorismo e ao Paquistão.
Uma pesquisa da rede de TV Times Now, do mesmo grupo do maior jornal do país, "Times of India", aponta que hoje 90% dos indianos querem guerra com o Paquistão.
"Temos provas de que o Paquistão está por trás [dos ataques], está na hora de declararmos guerra, há 20 anos temos diálogo e não chegamos a lugar nenhum", disse à Folha o publicitário Ramesh Nesriker, 25. "Não queremos paz com o Paquistão, chegou nossa hora de matar gente lá antes que eles matem mais gente aqui."

Raiva de políticos
Na maioria dos cartazes levados pelos manifestantes, destacavam-se os ataques ao Paquistão e à classe política indiana, com frases como "Paquistão, epicentro do terror" e "Ataque o Paquistão já ou espere uma guerra nuclear". Os dois rivais possuem arsenal atômico.
Outro manifestante, o engenheiro informático Jigar Asher, 24, disse que a Índia precisa ter garantias de que o Paquistão quer de fato colaborar e que vai perseguir e prender os terroristas em seu território.
"Se não tivermos resposta, teremos que ir à guerra. Muita gente acha que, se a Índia atacar o Paquistão, haverá boicote internacional, mas precisamos lutar pela nossa liberdade", afirmou Asher. "Os americanos não atacaram o Afeganistão por se sentirem desprotegidos?"
Só as críticas aos políticos indianos competiram com os ataques a Islamabad. "Sem segurança, não pagaremos impostos", "Cidadãos com raiva, políticos em perigo" e "País de leões, dirigido por burros".
Os slogans paz-e-amor e choque de gestão que dominaram os pequenos protestos no último fim de semana eram vistos em algumas poucas faixas, que traziam frases como "Quero minha Mumbai de volta", "Políticos, aprendam gerenciamento de crise" e até uma apropriação do slogan de Barack Obama, "Sim, nós podemos".
Apesar do tom exaltado do protesto, vários manifestantes paravam a reportagem com sorrisos, dizendo "bem-vindo a Índia" e para explicar que "este é um país de paz".
A convocação para a passeata foi organizada por blogs, mensagens por celulares e comunidades na rede de relacionamento Facebook. Diversas celebridades locais, de atores de Bollywood a atletas, estiveram na marcha. Lojas e cinemas fecharam as portas mais cedo com medo de distúrbios.

Muçulmanos presentes
A presença de muçulmanos na marcha era bem destacada. Às 16h locais, duas horas antes do início da manifestação, um grupo de cerca de 200 muçulmanos já se concentrava em frente ao histórico cinema Regal, a menos de 1 km do Portal.
Há temores de que o sentimento contra a minoria muçulmana na Índia -cerca de 150 milhões de pessoas- cresça após os atentados, atribuídos ao radicalismo islâmico, e favoreça nas eleições legislativas de 2009 o partido ultranacionalista hindu BJP, antimuçulmano.
"Estou com muita raiva, pois muita gente pensa que todo muçulmano é terrorista, e é claro que a maioria só quer a paz", diz o comerciante muçulmano Taher Rajkotuala, 31.
Mas ele é contra um ataque ao Paquistão. "Guerra não resolve. A Índia precisa dialogar com o Paquistão, mas o diálogo tem que ser duro, tem que exigir que o Paquistão acabe com os campos de treinamento de terroristas e que entregue os terroristas para a Índia. Somos muito suaves com o Paquistão."


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